Lágrimas correm soltas pelos campos de futebol da Copa
Há algumas décadas eu ouvia muito a seguinte colocação: homem não chora. Era uma forma de mostrar a dureza do macho, mesmo diante das maiores adversidades. Seriam de pedra os corações masculinos de então? Não sei até quando resistiu esse conceito hipócrita. Hoje, digo eu: homem que é homem chora. E não apenas chora, mas revela pelas lágrimas as pérolas de um coração sensível. Naquele tempo, o choro estaria mais para as mulheres. Estas, sim, poderiam sem problemas derramar baldes e baldes de lágrimas. Os homens, não. Ainda bem tudo mudou. E os homens gradualmente foram sendo admitidos na comunidade dos chorões. Está vivo na memória o filme em que, na Copa de 1950, após o fracasso no Maracanã, o brasileiro Danilo, chorando muito e amparado por um repórter, deixa o gramado diante da comemoração dos uruguaios campeões. Choro da derrota. Oito anos depois, 1958, no gramado do Estádio Rasunda, em Estocolmo, na Suécia, Pelé chora copiosamente. Gilmar, que o consola, também chora. E chora Nilton santos. E chora Orlando. E chora todo o Brasil, campeão do mundo pela primeira vez. Choro da vitória. Dirão talvez que choraram, mas antes de um título perdido (1950) e de outro conquistado (1958), enquanto os atuais choram antes dos desafios, levados pela fragilidade emocional. Não há hora marcada para o choro. Ele brota de acordo com a reação de cada atleta. E nem sempre traduz fraqueza de espírito. Nesta Copa, Serey Die, da Costa do Marfim, foi aos prantos ao ouvir o hino nacional de seu país. Não houve apenas manifestação comum de lágrimas nos olhos, mas uma reação descontrolada, nos gestos, na face, nos lábios, autêntico transtorno, desequilíbrio. O fato chamou a atenção do mundo pela forma nunca antes vista numa Copa. Certamente muita gente imaginou que ele não teria sequer condição de jogar aquela partida. Pois Serey Die jogou. E jogou bem. E foi um dos melhores em campo, já pela raça, aplicação, luta, dedicação, devoção. Assim quero interpretar a reação dos brasileiros da atual seleção. Li comentários de especialistas preocupados porque as lágrimas antes dos pênaltis contra o Chile pareciam traduzir a insegurança interior do grupo, exteriorização cristalina do pavor. Assombro pela possibilidade de o time passar à história como responsável pelo segundo maior fracasso do país, herdeiro da infâmia de que fora vítima a Seleção Brasileira de 1950. Agora vale refletir: antes, os chilenos não choraram. Os chilenos pareciam seguros, confiantes, prontos para a decisão por pênaltis. Nem um sinal de nervosismo. Resultado: perderam três cobranças. Foram eliminados. Aí choraram copiosamente.
Não há hora marcada para o choro. Ele brota de acordo com a reação de cada atleta. E nem sempre traduz fraqueza de espírito