Envelhecer é um privilégio, saibamos usá-lo

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que, em 1940, a expectativa de uma pessoa com 50 anos era viver mais 19,1 anos. Em 2019, essa pessoa com 50 anos tinha a expectativa de viver mais 30,8 anos. Essa expectativa de vida, claro, depende do sexo. Homens morrem mais que mulheres, o que reduz a expectativa masculina. 

O IBGE diz ainda que observar a longevidade da população é ver a probabilidade de uma pessoa de 60 anos chegar aos 80. Em 1980, de cada mil pessoas que chegavam aos 60 anos, 344 atingiam os 80 anos de idade. Em 2019, esse número passou para 604 indivíduos na média do Brasil.

Em resumo, estamos envelhecendo. Isso significa fazer planos a longo prazo, ver as netas e os netos crescerem e construírem suas próprias vidas, significa ainda sonhar com a aposentadoria e o tempo do descanso que poderá vir depois de anos de trabalho árduo. 

Na contramão desses dados, estudos apontaram que a pandemia do coronavírus pode diminuir em dois anos a expectativa de vida do brasileiro. O dado é resultado de um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV). 

Se confirmada, essa será a primeira redução desde 1940. Na tentativa de reduzir o impacto da Covid-19 sobre essa população que se viu tão vulnerável com o vírus, a medida primeira dos governos foi a prioridade na vacinação.

Somente agora no mês de maio pessoas com mais de 80 anos foram 11% das vítimas da Covid. Pessoas com idade entre 60 e 79 anos são 45,7% das vítimas fatais do coronavírus. Esses percentuais são os menores desde o princípio da pandemia, segundo o site Poder360. Enfim, podemos ver os efeitos reais da vacinação.

Ao mesmo tempo em que adotamos todas as medidas sanitárias para sobreviver ao vírus,  nos deparamos com uma quantidade enorme de preconceito contra idosos.

A antropóloga Márcia Goldenberg chamou esse fenômeno de “velhofobia”, algo que, segundo ela, já existiu e se evidenciou com o coronavírus: a ideia de que os idosos já não podem contribuir com a sociedade. Essa ideia mescla preconceitos contra idosos e medo de envelhecer. 

Em entrevista à BBC, a antropóloga observa: “A única categoria social que une todo mundo é ser velho. A criança e o jovem de hoje serão os velhos de amanhã. Os velhofóbicos estão construindo o seu próprio destino como velhos, e também o destino dos seus filhos e netos: os velhos de amanhã”. 

Olhando para a trajetória que construí, eu vos digo: envelhecer é um privilégio. Saibamos usá-lo.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.