Não lembro a última semana que não tenha recebido uma notícia de violência contra a mulher. São agressões físicas, violência sexual, pressão psicológica ou ameaças contra a vida da pessoa com quem se divide – ou dividiu – a vida. Chego a pensar que a violência está mais latente nos dias de hoje. Mas em uma reflexão mais demorada, lembro-me da nossa luta diária pela equidade de gênero e posso concluir que não, essa violência não aumentou. Ela deixou o âmbito doméstico. Agora, com informação e a certeza de que há quem as ouça sem julgar, quem fique ao lado delas na hora da denúncia, essas mulheres começam a criar coragem de dar um basta à violência.
Penso também que a forma como criamos nossas filhas e netas é determinante para a compreensão de que no amor não há violência. Tenho visto as mães, em sua maioria, e os pais, em menor medida, dizerem às suas meninas que elas são capazes de tudo o que desejarem, que elas podem expressar suas ideias e, sim, que essas ideias são boas. Tenho visto ainda mais essas mulheres-mães não tolerarem violência contra si e contra as suas. Isso é mais ensinamento do que qualquer lição.
Ainda mais: essas mulheres da atualidade também têm ensinado que o corpo de cada mulher é algo sagrado, algo que cada uma de nós deve cuidar com carinho e que somente nós podemos decidir o que fazer com ele.
Mas volto ao amor. Ao saber de toda essa violência, quero acreditar que antes do desfecho já existiu o sentimento de amor e respeito. Mas amor e paixão não combinam com posse, e sim com liberdade, cuidado e bem querer. Faz parte do machismo esse sentimento do homem de que é dono do corpo da mulher, ou melhor, da vida da mulher.
Nos últimos anos, aprendemos também que não existe crime passional. Que esmurrar a parede já é violência. Assim como revirar o celular, tratar aos gritos, falar de forma pejorativa da aparência ou ameaçar retirar o telefone e/ou o dinheiro.
Mesmo com uma legislação firme e uma resposta severa da Justiça, os homens parecem não temer a punição. Vencer o machismo é uma construção diária. Um enfrentamento que se faz em casa, em sala de aula, com os colegas de trabalho, nos grupos de whastapp. E esse enfrentamento passa pelo nome que damos às coisas. Assim, lembro: Não precisa bater para ser violência. Não existe crime passional. Não nos calemos diante dessas agressões, elas podem um dia custar nossas vidas.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.