Pensando sobre o tema deste artigo, fiquei envolta nas notícias sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia. Queria falar da guerra, falando de paz. Comecei a buscar mais notícias sobre o assunto quando me deparei com uma que trazia a foto de carrinhos de bebê deixados em uma estação de trem.
Os carrinhos eram colocados lá por mães polonesas para receber as famílias ucranianas que chegassem refugiadas ao país. Foi então que me lembrei de um livro lido algum tempo atrás chamado A guerra não tem rosto de mulher, cuja autora, a vencedora do prêmio Nobel de literatura, é ucraniana e conversa com mulheres que combateram o nazismo, na Segunda Guerra Mundial.
Svetlana Aleksiévitch é o nome dela. Ela inicia o livro falando sobre os relatos de guerra que passou toda sua infância ouvindo. História de quem venceu e das façanhas incríveis para chegar à vitória. Questionando a ausência de histórias contadas por mulheres, a jornalista vai em busca dessas narrativas e descobre, como ela diz, que “a guerra feminina tem suas próprias cores, cheiros, sua iluminação e seu espaço sentimental”.
Segundo ela, “não há herois nem façanhas incríveis, há apenas pessoas ocupadas com uma tarefa desumanamente humana”. Quando Svetlana começa a conversar com essas mulheres, ela começa a ver uma história se humanizando, “ficando mais parecida com a vida comum”.
Certamente, não conseguirei falar de paz ou narrar uma vida comum, mas quero aqui me voltar a outra face dessa guerra. Uma guerra invisibilizada como tantas as que nós mulheres vivenciamos diariamente.
Fugindo
Falo aqui das mulheres que, na Ucrânia, embarcam seus filhos em direção aos países vizinhos para escapar dos confrontos. São crianças sozinhas no trem, pois suas mães precisam cuidar dos idosos que ficam, na expectativa de depois irem ao encontro de seus filhos e filhas.
Há também aquelas que conseguem ir juntos dos filhos, mas deixam para trás os companheiros, uma vez que todos os homens com idade entre 18 e 60 anos são proibidos de sair do país.
Na Rússia, mães, esposas e filhas de soldados também choram ao receberem as notícias desses homens sendo capturados. No início de março, o governo ucraniano decidiu libertar os prisioneiros russos, sob a condição de que estes se encontrem com suas mães.
Uma representante da Embaixada Popular de Belarus no Brasil, Volha Yermalayeva Franco, disse em uma entrevista que “às mulheres, só resta falar com seus filhos. Mas se o poder estivesse nas mãos delas não haveria guerra. As mulheres trazem mais paz. Mas isso não deve ser usado para responsabilizá-las, e sim para que sejam mais ouvidas em qualquer instância de poder”.
“Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor”.