Já falei aqui algumas vezes sobre como sou fã de reality show. Com o Big Brother Brasil não seria diferente, é um programa que, de fato, eu adoro e em todas as edições, me vejo refletindo sobre como a realidade se projeta na TV. No programa, já vimos atitudes machistas, xenofóbicas, homofóbicas, racistas… Mas dessa vez, uma das coisas que me tocou foi a intolerância religiosa.
Na noite desta terça-feira (28), o eliminado da vez foi o médico Fred Nicácio, um participante polêmico, que fez o público o amar e o detestar várias vezes ao longo desses 45 dias de programa. Sem dúvidas, um dos protagonistas desta edição. Fred perdeu para Cara de Sapato, seu principal rival na casa, e para Cézar Black, um de seus principais aliados.
Desde a madrugada circulam pela internet imagens de Fred reagindo às descobertas do programa e, especificamente, o momento em que ele vê a cena de Key Alves, Gustavo Cowboy e Cristian Vanelli - seus aliados - conversando sobre ter medo do jogador por sua fé. O trio insinua que Fred estaria “lançando” alguma maldade a partir de sua religião, o Candomblé.
Quando o fato aconteceu, muitas pessoas aqui fora se revoltaram com as falas dos participantes, eu fui um dos. Mas hoje, especificamente, foi muito mais difícil. Não consigo imaginar a tristeza que deve ter sido para Fred encarando seus próprios “amigos” dentro do jogo confabularem sobre isso. Fredão foi às lágrimas.
Eu, como pessoa de axé, também senti a dor. Afinal, até quando usarão de nossa fé para nos diminuir, incriminar e extinguir?
Tadeu Schmidt ainda tentou alertar os brothers sobre o assunto, mas a mensagem não foi compreendida da forma correta. E é nesse momento que concordo com outro argumento de Key após o ocorrido, quando ela diz que reproduziu o que “muitas pessoas pensam aqui fora”. É verdade. O BBB é um espelho que reflete o que nossa sociedade é, das maiores alegrias até o que temos de pior.
Segundo dados do portal Disque 100, do então Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, do antigo governo, foram registrados 447 casos de intolerância religiosa no Brasil em 2019, 353 casos em 2020 e 966 casos em 2021. Isso, levando em consideração apenas os casos que são denunciados. Adivinhem só quais religiões mais sofrem perseguições no país?
E a intolerância não está apenas em atos mais violentos como destruição de terreiros. Está também nas pequenas coisas, como falta de espaço ou proibição de professar sua fé. Está no bullying com crianças nas escolas, está na negação de atendimento médico a pessoas de axé e saravá. Está nas piadas sobre a ritualística dos povos de terreiro. Está no “medo” que se sente de tudo o que tem pé fora do cristianismo.
Intolerância religiosa é crime. Inclusive, esse não deveria ser o termo utilizado. A verdade é que atos como os do trio de “medrosos” é racismo religioso.
Intolerância carrega uma ideia de que alguém é tão superior a ponto de precisar tolerar uma religião. E religião, meus amigos, não se tolera, se respeita. A melhor religião é aquela que é a mais adequada a você mesmo.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor