Desde criança, a televisão sempre me fascinou. Aquele aparelho mágico capaz de levar pessoas fascinantes para dentro da minha casa, seja por programas de auditório, novelas ou filmes, mexia tanto comigo, que eu conseguia esquecer todas as dificuldades e tristezas da vida real.
Eram tempos de muita pobreza, escassez, falta de brinquedos e, de sobra, muito machismo e preconceito rondando minha realidade. A TV, então, sempre foi uma válvula de escape. Daí a minha imaginação me levava longe, me fazendo criar um universo particular televisivo, uma caixa de sonhos.
Tanto que criei o meu Silvershow, um programa de entrevistas onde eu recebia celebridades. O meu estúdio era o banheiro da minha casa e eu tinha o maior prazer em imitar os programas de televisão. Além dele do meu próprio talkshow, eu me virava para fazer acontecer minhas próprias novelas, filmes e jornais. Em resumo, uma emissora.
E dava trabalho manter tudo isso, viu?! Eu era o único artista, o único apresentador, o único jornalista e todos os outros papéis, com a imensa vontade de garantir uma programação de qualidade. Isso me fazia, intuitivamente, treinar habilidades como atuação, canto, apresentação, performance e o que mais fosse necessário para manter a audiência de uma criança que tinha a fantasia como sua força vital.
Usava toalha na cabeça para fingir ter cabelos compridos, lençóis como vestidos esvoaçantes para treinar números musicais de grandes divas, ainda que com muito medo de ser flagrado e levar uma surra como corretivo.
O fato é que mesmo parecendo uma grande loucura, um sonho de menino, hoje, com 42 anos, realizei mais uma “delírio” do pequeno Silvero. No palco do Domingão com Huck - um dos programas de maior audiência familiar da televisão brasileira - fui consagrado no concurso de dublagem, homenageando uma das grandes estrelas do mundo, Whitney Houston.
Eu sei que isso não foi por acaso, é óbvio que é fruto de muito trabalho, muitas escolhas que precisei fazer e os caminhos que trilhei, inclusive negando outros tantos caminhos e caixas que tentaram me impor. Contudo, esse texto não é sobre carreira, profissão, TV ou fama.
Não existe nada melhor ou maior do que cuidar e realizar sonhos da sua criança interior.
Tenho tido cada vez mais certeza disso, sempre que conquisto algo novo na minha vida pessoal ou profissional. Fazer o pequeno Silvero feliz, amar essa criança que habita em mim tem me feito abraçar meu eu adulto também, fazer escolhas sérias, mas que o Silverinho também possa ter espaço de brincar.
Dia 27 de setembro foi Dia de Cosme e Damião. Dia 12 de outubro é Dia das Crianças. Precisamos deixar as nossas colherem felicidade e viverem de doçura.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor