Pela primeira vez desde novembro de 2002, a cotação do euro se igualou ao do dólar, levantando alguns questionamentos sobre os efeitos sobre a atividade global e as consequências para o mercado brasileiro.
E apesar de ser um fato marcante, o cenário, segundo especialistas, confirma a desaceleração das principais economias do mundo e pode gerar dificuldades na recuperação de ativos no Brasil, considerando, por exemplo, a Bolsa de Valores (B3).
De acordo com Wilton Daher, conselheiro do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE), o cenário de alto endividamento na Europa, somado a uma pressão inflacionária, gerados pelos aumentos de incentivos fiscais implementados para reativar a economia durante a pandemia, pode ser apontado com um ponto de redução de potencial do euro.
A perspectiva é corroborada por Ricardo Coimbra, membro do Conselho Regional de Economia no Ceará (Corecon-CE), que ainda apontou o enfraquecimento de grandes mercados europeus por conta do conflito entre Rússia e Ucrânia.
A Alemanha, por exemplo, apontou ele, deverá passar por problemas relacionados ao fornecimento de gás vindo da Rússia no segundo semestre, e isso favorece uma desvalorização do euro frente ao dólar.
Além disso, a pressão inflacionária registrada nos Estados Unidos gerou uma reposta de aumento das taxas de juros pelo Federal Reserve (FED, banco central dos EUA), ajudando a atrair recursos e investidores ao país norte-americano. Com um fortalecimento do fluxo financeiro, o dólar vem se fortalecendo frente a outras moedas pelo mundo, incluindo o euro.
"Esse cenário já vinha se encaminhando ao longo das últimas semanas. Isso se deve principalmente à possibilidade de recessão na Europa, focando no terceiro e quarto semestre do ano, quando a Alemanha precisa muito do gás russo, o que pode gerar uma suspensão dos embargos e, ao mesmo tempo, ter impactos na economia lá, gerando um processo recessivo", explicou Coimbra.
"E também temos o processo inflacionários nos EUA, que gerou as intervenções do FED sobre as taxas de juros por lá. E devemos ter novas altas para tentar conter essa inflação. Isso tudo gera uma sensação de recessão econômica no mundo e em função disso, por conta dos juros, temos um fluxo muito grande de recursos para os EUA, o que valoriza a moeda norte-americana. Isso tem impacto global sobre a economia e sobre ativos", completou.
Impacto no mercado brasileiro
Sobre o cenário no Brasil, o enfraquecimento do euro e o fortalecimento do dólar, explicaram os economistas, deverá puxar a cotação do real frente à moeda americana a uma tendência de baixa, já que os investidores estão buscando opções mais conservadoras nos Estados Unidos.
"Com relação ao Brasil, nós tivemos meses atrás o real conseguindo uma valorização frente ao dólar, mas observamos um fortalecimento da moeda americana, então vemos uma complexidade da situação econômica do Brasil, até também pela Bolsa de Valores. A B3 chegou a 130 mil pontos, mas agora está decaindo a cerca de 90 mil pontos. A situação é muito complexa para o Brasil e sinaliza um momento difícil da economia global", disse Daher.
Apesar das perspectivas negativas para Bolsa brasileira, Coimbra destacou que uma redução da pressão inflacionária nos Estados Unidos, somada à melhora do controle dos casos de covid na China, poderão encurtar o período de tendências negativas na economia brasileira.
"No Brasil, vemos a desvalorização do real frente ao dólar e a saída de capital do País, mesmo com a elevação da taxa de juros por aqui, já que o risco brasileiro é muito maior do que nos EUA, e isso influencia o cenário de ativos de bolsa. Esse cenário dificulta a recuperação da Bolsa no Brasil e à medida que tivermos uma melhora do controle dos juros no Estado Unidos, e dependendo do controle da covid na China, poderemos ter um futuro melhor", disse Coimbra.