As férias de verão naturalmente atraem a atenção do país ao Nordeste, e suas muitas atrações turísticas, baseadas nas belezas naturais e herança cultural (sem falar na gastronômica). O setor de turismo parece ser relativamente mais importante no Nordeste do que nas demais partes do país, e pode se mostrar relevante alavanca para a recuperação da economia regional em um cenário pós-pandemia.
A participação do turismo no PIB pode ser aproximada por dois itens dentro do setor de serviços: “alojamento e alimentação” e “artes, cultura, esporte e recreação e outras atividades de serviços”. Utilizando essa aproximação, o turismo seria responsável por 5% do PIB do Nordeste, ante 4,4% para a economia nacional. Considerando as maiores economias da região, a relevância do turismo seria maior no Ceará (6,0% do PIB estadual), Bahia (4,9%), Pernambuco e Maranhão (4,5%) – dados de 2019.
Note-se que, seja pelo fator distância com relação a países de maior renda (que pode diminuir a atratividade para viajantes internacionais), ou pela falta de investimentos consistentes no setor, o turismo no Brasil, e no Nordeste, ainda é bem menos relevante do que em outras economias, como Espanha e México, onde fica entre 10% e 15% do PIB.
Considerando o mercado de trabalho, o turismo cria mais empregos no Nordeste do que nas demais regiões do país. Segundo um interessante estudo do Banco Central, levando em conta apenas o setor formal, com dados para 2019, as atividades turísticas geravam 2,4% dos empregos no Nordeste, ante 1,7% no Sudeste e 1,6% na região Sul.
Assim sendo, seja pelo efeito no PIB, ou no mercado de trabalho, o impacto econômico inicial da pandemia foi agravado, no caso do Nordeste, pela forte contração da atividade turística. Segundo o citado estudo do Banco Central, enquanto o setor de serviços, como um todo, apresentou contração de cerca de 20% no segundo trimestre de 2020 (o pior momento da pandemia do ponto de vista econômico), o setor de turismo registrou queda superior a 60%.
Por outro lado, os economistas do BCB apontam que, desde o fundo do poço em meados de 2020, a atividade turística no Nordeste teve uma recuperação mais intensa do que nas demais regiões, notadamente em comparação ao Sudeste – a atividade turística no Nordeste teria virtualmente retornado ao patamar de 2019 no terceiro trimestre de 2021, enquanto ainda estava cerca de 24% abaixo do padrão pré-pandemia no Sudeste.
As explicações mais plausíveis para essa divergência são o aumento do turismo de lazer doméstico, motivado por restrições sanitárias às viagens internacionais, bem como pela depreciação do real, e a lenta retomada das viagens de negócios, que, talvez de forma permanente, podem em certa medida serem substituídas por reuniões remotas.
Já o indicador diário de atividade do Itaú (IDAT), baseado nas despesas em cartões de crédito e débito na compra de bens e serviços, pode ser utilizado para monitorar o desempenho do setor com alta tempestividade. Segundo o IDAT, com dados até 31 de dezembro passado, os gastos com hospedagem e com pacotes turísticos em 2021 ultrapassaram os níveis pré-pandemia no Nordeste em 16%, ficando 57% acima do observado em 2020. Os estados que se destacaram foram Rio Grande do Norte, Alagoas e Maranhão. Além disso, o Nordeste foi a segunda região que mais cresceu em 2021, comparado a 2019, perdendo apenas para a região Norte.
Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor