Novo single de Chico Buarque reaviva um Brasil e sugere: que tal um samba?

Compositor que estava sem lançar trabalho novo desde 2017, propõe em música resgatar o país e sugere recomeçar da melhor forma, com música e cultura

Ao caminhar por Portugal, mais especificamente em Lisboa, sinto o cheiro de Fado em cada esquina ou viela. Natural, o estilo tem total identidade lusitana e não se pode fugir já que este se apresenta desde os grandes teatros aos bares boêmios da capital. 

Claro, viajar é bom e sempre traz boas histórias, agora é difícil, mesmo no outro lado do mar esquecer a simplicidade agradável do ser brasileiro. Fomos colonizados, mas existíamos muito antes de qualquer invasão europeia. Depois só fomos nos recriando e esse processo de se perder para um encontro futuro tornou o Brasil.

Com esse sentido e já com peito saudoso, palavra inclusive que só existe na nossa língua, tinha que falar da falta sentida do nosso país quando estamos distante. Não me refiro a espaço e sim a essência. 

Toda essa longa introdução é precisa para pulsar a crítica sobre a nova música do gênio Chico Buarque de Hollanda, single “Que tal um samba?", trabalho que anuncia uma nova turnê do artista, um retorno aos palcos após um longo período de isolamento devido a pandemia da Covid.

Já tentei por várias vezes escrever sobre o Chico. A admiração por ele é tanta que me coloca perdido no meio das palavras, mas a nova composição do artista me faz sentir a necessidade de rememorar as raízes que parecem terem sido ceifadas da memória soberana e nada melhor que um samba para reviver o batuque do nosso coração.

Precisamos é sambar

Um dos livros que comecei a ler nesse ano foi o "Raízes do Brasil” de Sérgio Buarque de Hollanda, nele o historiador adentra em nossas entranhas e esse sangue mestiço ultrapassa gerações até seu filho, o nosso Chico, reavivando a pluralidade que insiste em ser negada por olhares maiores.

“Que tal um samba?” Trata exatamente disso, um país que precisa ressurgir depois de tantos tempos sombrios, e para que melhor do que um gênero musical tão representativo nosso para recomeços. Inclusive, do próprio autor já que estava afastado dos palcos desde o último trabalho lançado em 2017.


“Caravanas”, por mais que empolgasse, não era o Chico Buarque que esperamos, cheio de energia, até quando escreveu valsas leves, mas agora em “Que tal um samba?”, sentimos nas entrelinhas a esperança de um povo que canta em uma só voz, desde as periferias das metrópoles as palafitas no alto do Xingu: Precisamos recomeçar!

“Puxar um samba, que tal? Para espantar o tempo feio, para remediar o estrago” e assim a composição recém chegada às plataformas digitais ecoa dizendo que necessitamos “zerar o jogo, coração pegando fogo e cabeça fria”.

Outro poeta já falava que via o futuro repetir o passado. De alguma forma Chico Buarque adentra no seu novo trabalho assim, resgatando o seu começo de letras e protesto, porém dizendo que a melhor forma de lutar contra qualquer ódio ou autoritarismo é com calma.

Para a nova canção é preciso acreditar no futuro. “Fazer um filho, que tal? Pra ver crescer, criar um filho num bom lugar, numa cidade legal, um filho com pele escura, com formosura, bem brasileiro, que tal?”, e ele completa que criança não vai ser criada sem dinheiro, mas com cultura.

Vale a pena pensar no amanhã, no depois da pandemia, em um resto de sonho onde possamos nutrir de sons e poesia. E que tal um samba? Juntemos os cacos para irmos à luta rumo a cadência e esconjurando a ignorância. É, Francisco Buarque, você continua sendo Chico Brasileiro e realmente precisamos é sambar.