Retorno da CPI das Associações Militares no Ceará prepara terreno para eleições de 2022

Em um cenário que se desenha para ter um capitão da reserva na disputa pelo Governo do Estado, qualquer movimento na área da segurança é crucial

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o possível envolvimento das associações de policiais e bombeiros militares no motim de 2020 retoma os trabalhos uma semana após o mesmo motim voltar ao palco político, com um embate entre o governador Camilo Santana (PT) e o deputado federal e pré-candidato ao Governo, Capitão Wagner (Pros).

O retorno mexe com os bastidores justamente no momento em que Wagner, capitão da reserva da Polícia Militar, deve vencer a disputa pelo União Brasil, o que pode dar novo vigor à oposição na disputa eleitoral desse ano. 

O que vai sair de resultado das investigações da CPI ainda é um mistério, mas certamente convocações, depoimentos, documentos e discursos vão gerar burburinhos e trazer o assunto à tona, com desgastes que caem na conta principalmente da oposição.

Ainda que se diga que não há interesses eleitorais na atuação da CPI, os reflexos podem ser inevitáveis e fugires ao controle dos deputados. Não é de hoje que a segurança pública é o calcanhar de Aquiles das gestões públicas e tema crucial nos debates eleitorais.

Camilo x Wagner

Na última quinta-feira (10), Camilo Santana, ao ser questionado sobre as críticas da oposição à gestão da segurança, subiu o tom contra o adversário.

"Qual é a sugestão dele para a segurança pública, sabe alguma? A única contribuição que ele deu foi fazer dois motins e prejudicar a segurança pública no Ceará", disse o governador.

Em nota, Capitão Wagner rebateu as críticas do governador e disse que o petista tenta "transferir uma responsabilidade que é dele". 

"Ter humildade para reconhecer que não consegue resolver um problema é muito mais honesto do que tentar transferir uma responsabilidade que é dele", disse o deputado.

Desde que passou a representar a oposição no Estado, Wagner é atacado pelo envolvimento com motins. Em 2020, um dos pontos altos da disputa eleitoral pela Prefeitura de Fortaleza foi o assunto.

Na campanha, Wagner disse, em entrevista ao programa PontoPoder Eleições, que não apoiou o motim que culminou para paralisação de fevereiro de 2019, tentando se distanciar dos desgastes do assunto.

"Vi hoje no DN entrevista do Capitão Wagner dizendo não ter apoiado o motim deste ano, que aterrorizou o Ceará. Não é verdade. Tanto liderou o motim de 2011, como teve participação direta nesse último motim", escreveu Camilo nas redes sociais.

Na semana passada, Wagner relembrou também o episódio.

“Camilo me atacou em 2020, na época da eleição de prefeito e, agora, em 2022, voltou a me atacar. E como já tinha me comprometido em algumas entrevistas à imprensa, não vou bater boca com ele, nem com ninguém que venha de lá pra cá querer me puxar para esse ringue”, disse Wagner. 

Relação com associações

Foi uma greve de PMs em 2011 que alçou Wagner à carreira política e uma série de outras lideranças do movimento nos últimos anos. É intrínseca a relação, tanto de Capitão Wagner, como de nomes como o deputado estadual Soldado Noélio (Pros) e o vereador de Fortaleza, Sargento Reginauro (Pros), não só com a categoria em si, como com as próprias associações. 

Wagner foi o fundador, por exemplo da Associação dos Profissionais da Segurança (APS), sobre qual Noélio registra, em sua biografia no site da AL-CE, ter começado a trabalhar como motoboy na associação e, porteriormente, ter sido convidado para assumir o cargo de diretor de interior e, depois, de vice-presidente. Sargento Reginauro é ex-presidente da APS também. As investigações na AL-CE abrangem outras entidades. 

Um dos principais aliados de Capitão Wagner no início da carreira política, o ex-deputado federal Cabo Sabino, eleito em dobradinha com Wagner em 2014, foi um dos mais afetados pela repercussão do motim de 2020. 

No final do ano passado, a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário do Ceará (CGD) expulsou o policial militar da corporação.

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CPI das Associações

O cerco às associações se acirrou no começo de 2020, durante novo motim de agentes de segurança no Ceará. Houve ações no Legislativo, no Executivo e no Judiciário. 

A Justiça do Ceará proibiu que as entidades adotassem qualquer tipo de mobilização visando “melhorias salariais, estrutura de trabalho e conquistas para a carreira militar”. Já o governador decretou o bloqueio do repasse de verba descontada diretamente na folha de pagamento dos agentes às associações.

Na Assembleia, o deputado Romeu Aldigueri (PDT) protocolou o pedido de abertura da CPI, que se efetivou mais de um ano depois, em agosto de 2021. Pelo menos seis associações são investigadas desde então por suspostos interesses políticos em sua atuação.