O comércio varejista de asiáticos no Centro de Fortaleza já representa 25% (ou 1 em cada 4 estabelecimentos) de todas as lojas do bairro. As chamadas "Shopee do Centro" ganharam força, e segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas de Fortaleza (CDL), elas atraem um público cada vez maior.
“O consumidor é o mesmo, as vitrines estão lá para atrair as pessoas. Tem gente que vai para comprar um produto e, por já estar no Centro, acaba comprando mais alguma coisa”, explica o presidente da CDL Fortaleza, Assis Cavalcante, que diz ainda que as lojas asiáticas beneficiam inclusive os varejistas tradicionais.
Segundo ele, a estimativa, hoje cerca de 1/4 do varejo do Centro, tem tendência de crescimento. “E a tendência é de crescimento, porque os aluguéis são mais baratos e não há mais a luva (taxa paga pelo lojista para alugar um ponto), devido à vacância nos pontos comerciais”, explica Cavalcante.
Além disso, ele pontua que, com a taxação dos marketplaces em vigor desde 2024, os preços das lojas físicas de importados ficaram mais próximos dos preços praticados nos sites, tornando esses estabelecimentos mais competitivos.
Centro inicia temporada de descontos
Para uma terça-feira pela manhã, o movimento até que não era fraco. Dia 7 de janeiro, antes das 10h da manhã, pernas apressadas atravessavam a Praça do Ferreira com sacolas - muitas delas visivelmente abarrotadas de cadernos, livros e outros artigos de papelaria -, outras com sapatos, algumas poucas com roupas, algumas com utensílios para casa.
Início de ano no Centro de Fortaleza, assim como em muitas outras lojas de rua e também em shoppings, é período tradicional de liquidação. Com descontos de até 70%, fachadas na Major Facundo, Travessa Pará, Barão do Rio Branco e Floriano Peixoto exibem faixas e adesivos nas vitrines, indicando que os preços estão mais atraentes.
Ao entrar nos estabelecimentos, o que se vê são preços, de fato, um pouco mais baixos do que no período de final de ano. As araras de roupas, antes preenchidas de peças brancas, douradas e prateadas, agora contam com o colorido das coleções ditas “de verão” - e as pontas de estoque que precisam ser escoadas, sem dúvidas.
Se por um lado saem consumidores com sacolas de lojas de calçados e - pouquíssimas - de lojas de roupas, por outro, saem las lojas de importados muitos clientes com sacolas que podem ter da maquiagem ao quadro de parede. Não são sacolas grandes como as que saem das sapatarias, de fato, mas o fluxo de pessoas, cada uma com a sua compra, é intenso.
Material escolar
Impossível ainda não observar que as lojas de importados maiores, como a que ocupou o espaço da antiga C&A, entraram com tudo na sazonalidade das compras escolares. Em uma das prateleiras, pilhas de cadernos são mexidas e remexidas por clientes, assim como ocorre em outra prateleira de canetas. Agendas são escolhidas e mochilas e bolsas também.
O técnico de Tecnologia da Informação Caio Alexandre, 18, foi ao Centro de Fortaleza na última sexta-feira (3) em busca de uma mochila. Ele preferiu comprar presencialmente em detrimento de lojas virtuais porque tinha certa urgência.
“Vou começar a trabalhar em breve, aí precisava de uma mochila urgente”. Em uma loja de importados ele comprou o que precisava. A mãe de Caio, que estava com ele, aproveitou a ocasião e comprou um item para casa.
Comportamento do consumidor no início de ano
O economista e presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Wandemberg Almeida, lembra que os consumidores estão endividados com as compras de fim de ano e estão priorizando o pagamento de contas como IPVA e IPTU. “As pessoas buscam lojas mais baratas, que atendam a necessidade, chamamos de economia de bens substitutos. As lojas de importados costumam ter itens similares com preços mais baixos”.
“Outro ponto que a gente percebe é que a população começa a montar o planejamento financeiro, priorizando o que é importante nesse momento. E, nesse momento, vestuário não é o primeiro gasto que as pessoas pensam em fazer nesse período, até porque elas já gastaram com isso no fim do ano”, pontua Almeida.
Ele reforça que os consumidores passam a ter um pensamento mais crítico nesse período. “Tem o material escolar e fardamento”, diz, justificando a intensa busca por itens de papelaria, inclusive em lojas de importados.
“Além disso, dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostram que dezembro a janeiro é um período no qual há um número maior de desligamentos, o que leva as pessoas a fazerem uma reserva”, arremata o economista.