Cumprindo agenda em Fortaleza, mais especificamente no aniversário de 25 anos do Crediamigo e de 18 anos do Agroamigo, programas de microcrédito orientado do Banco do Nordeste, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) "alfinetou" o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.
A primeira "cutucada" ocorreu nos primeiros dez segundos de fala do presidente Lula na sede do Banco do Nordeste.
À plateia, ele disse que "tinha um discurso preparado", mas que após ouvir a fala das clientes do Crediamigo e do Agroamigo Maria da Conceição Menezes e Maria do Socorro Nascimento, que discursaram alguns minutos antes dele, decidiu "largar o discurso e conversar" com os presentes.
As clientes discursaram sobre como o Crediamigo ajudou a transformar suas atividades em um negócio e sobre a transformação social que vivenciaram por meio do programa.
"Eu espero que alguns economistas brasileiros e que o senhor presidente do Banco Central estejam assistindo essa solenidade e tenham ouvido os discursos das duas companheiras", continuou o presidente, referindo-se às mulheres mencionadas.
Em seguida, Lula reforçou que o presidente do Banco Central foi indicado pelo governo anterior. "Não tem mais interferência do presidente da República, que podia chamar o presidente do Banco Central e conversar".
Esse cidadão, se ele conversa com alguém, não é comigo. Ele deve conversar com quem o indicou, e quem o indicou não fez coisas boas por esse País"
"Dinheiro precisa circular"
Ainda alfinetando o presidente do BC, ele disse que "essa gente precisa compreender que o dinheiro que existe nesse País precisa circular nas mãos de muita gente". "Se o dinheiro ficar parado na mão de poucas pessoas, é concentração de riqueza", disse Lula.
Ele reforçou que, com o dinheiro sendo distribuído para mais pessoas, essa "muita gente que pega dinheiro com vocês, que compra alguma coisa, que produz alguma coisa, esse dinheiro vai gerar mais emprego, mais desenvolvimento, mais comércio e mais fábrica", pontuou.
"A gente não pode ficar assistindo na televisão que o PIB cresceu, mas não foi distribuído, porque nunca foi nesse País. O PIB começou a crescer e ser distribuído quando nós resolvemos aumentar o salário mínimo em 77% quando governamos esse País da outra vez", arrematou Lula.
Lula e Roberto Campos Neto protagonizaram algumas rusgas nos últimos meses envolvendo a taxa básica de juros, a Selic. O presidente da República vinha criticando fortemente o patamar da taxa e defendendo a queda dos juros. Antes de passar de 13,75% ao ano para 13,25% ao ano, no início deste mês, Lula chegou a dizer que Campos Neto "não entende de Brasil".