Os riscos da militância política nos quartéis

Para proteger as fardas e a sociedade, é urgente para o Brasil discutir o tema com a seriedade que merece e elaborar uma série de regras

A excessiva politização das polícias não é algo novo, mas merece um cuidadoso estudo e um conjunto de providências da sociedade brasileira que envolva as próprias corporações, especialistas e, muito provavelmente, uma discussão legislativa.

Para proteger as fardas e a sociedade, é urgente para o Brasil discutir o tema com a seriedade que merece e elaborar uma série de regras - de alcance nacional - para disciplinar de maneira mais efetiva o exercício político que é legítimo ao cidadão.

Uma mostra clara da urgência do tema é o debate eleitoral em Fortaleza. Em reportagem publicada, ontem, neste jornal, a repórter Alessandra Castro revelou uma série de movimentações de lideranças policiais que tiveram papel ativo no motim de PMs, ocorrido em fevereiro, na preparação para a eleição de novembro.

Entre os cabeças da militância política nos quartéis há informações de que cerca de 30 agentes ligados a órgãos de segurança pública podem concorrer no próximo pleito, alguns, inclusive, estão presos suspeitos de atuação política dentro de corporações aqui no Ceará.

Questão nacional

O recorte cearense é apenas uma amostra do que vem ocorrendo no Brasil. Dados recentes revelam que entre 2010 e 2018, saltou em 30% o número de candidaturas de profissionais de segurança pública em todos os níveis.

Esse movimento de postulações aos cargos eletivos, que é legítimo ao cidadão brasileiro, não pode manchar a imagem das polícias e causar tumulto em uma área tão sensível para a população brasileira e na qual há tantos desafios.

Interesses eleitorais

O motim dos policiais aqui no Ceará, movimento ilegal e considerado crime de acordo com o Código Penal Militar, causou grandes transtornos à população cearense e deu um bom exemplo do quanto a politização dos quartéis pode ser danosa.

Agora, cerca de quatro meses depois, figuras que participaram ativamente dos atos ilegais começam a se apresentar como candidatos. É preciso rigor na punição dos que praticam atos ilegais para desencorajar outros que estão por vir. É hora de o tema ser levado mais a sério por todos os envolvidos. Dentro e fora das polícias.

Em pauta

Nesta semana, o Congresso Nacional põe em pauta dois assuntos da maior importância para o Estado do Ceará. O primeiro é o projeto que prevê a renovação do Fundeb, a principal fonte de financiamento da educação básica e pública no País. Para o Nordeste, a matéria é ainda mais importante. O outro tema que recomeça a discussão é a reforma Tributária, na qual o Ceará tem interesses estratégicos.