Governadores reagem diante da crise da Segurança no Ceará

O Ceará está no centro do embate nacional que envolve os estados e os poderes da República brasileira. O caldeirão tem muitos ingredientes, mas um dos mais fortes foi a reação dos governadores, que envolveu Câmara, Senado e STF, em relação ao movimento dos policiais militares, gerando alerta no Governo Federal. 

Durante a semana passada, chamou atenção do País, inclusive desta coluna, que analisou os fatos na edição da última quarta-feira (26), a ausência de firmeza do ministro da Justiça, Sérgio Moro, sobre a ilegalidade do movimento dos policiais militares no Ceará, quando se esperava que o Governo Federal, mesmo usando um tom conciliador (necessário para o momento), desautorizasse paralisações da PM, em nome do respeito à regra constitucional. Moro era o principal representante do presidente, ainda que houvesse mais dois auxiliares.

Na noite de quinta-feira, veio a confirmação de que a ausência de um posicionamento mais duro do ministro Moro ao movimento era um alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro. Em uma ‘live’ nas redes sociais, ele deixou em dúvida se renovaria ou não a GLO (Garantia da Lei e da Ordem) no Ceará e cobrou que o governador Camilo Santana resolvesse a questão da Polícia. O presidente também não emitiu nenhuma opinião sobre os amotinados. 

Tensão no Ceará

Com o recrudescimento da violência, a fala do presidente, naquele momento, deixou o poder público estadual, o setor produtivo e a população cearense em um altíssimo grau de tensão. A dúvida deixada por Bolsonaro, entretanto, reforçou o apoio dos governadores a Camilo Santana. Segundo interlocutores próximos, após a ‘live’ do presidente, Camilo começou a receber ligações dos chefes do Executivo, em novo apoio. Na manhã de sexta, ao menos cinco estados, incluindo Rio e São Paulo, se ofereceram para mandar reforço de policiamento ao Ceará, caso Bolsonaro não renovasse a GLO. A madrugada, segundo informações divulgadas, ontem pela imprensa nacional, foi de conversas entre governadores, incluindo os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, do Senado, Davi Alcolumbre, e do STF, Dias Toffolli.

Sob pressão

Diante da mobilização nacional, o presidente, mesmo tendo sido “resistente”, como Moro admitiu ontem, renovou a GLO. Ainda no Paraná, o ministro da Justiça e Segurança Pública, em mais um papel político diante da pressão nacional, finalmente, admitiu que o movimento de policiais no Ceará é ilegal.

Expectativa

Autoridades que participam da observação e interlocução entre a comissão dos três poderes do Ceará e a representação dos policiais amotinados dizem que há, no Exército Brasileiro, uma expectativa quanto ao desfecho da crise de segurança no Ceará. Nas Forças Armadas, a compreensão é que, se movimentos similares eclodirem em outros estados, pode haver problemas para o Exército porque a capacidade operacional para cumprir a GLO também é limitada. Há informações de insatisfações nas polícias de, pelo menos, 12 estados.

Em alta: OAB-Ce e Defensoria Pública
São os dois órgãos que, por seus líderes, Erinaldo Dantas e Elizabeth Chagas, estão atuando em conjunto para tentar buscar uma solução ao impasse, anotando ponto a ponto e tentando clarear o caminho. Exercem papel de mediação responsável. 

Em baixa: Walmir Medeiros
Surgiu do nada para se apresentar, na semana passada, como “negociador” a resolver a crise e buscar um acordo pelo lado dos policiais. O advogado e coronel reformado do Exército, entretanto, de uma tacada só, foi desautorizado pelo movimento e rejeitado pela comissão dos três poderes.