Combate à crise do coronavírus pede mais serenidade

O raciocínio do presidente Jair Bolsonaro sobre os riscos que o País corre em um possível aprofundamento da crise econômica, após um isolamento total prolongado, não é de todo errado. Faz sentido. Mas, pense comigo, não é isso que está posto. As situações de emergência e calamidade pública editadas e decretadas por governadores e prefeitos são temporárias e consideram a volta gradual da normalidade após algumas semanas, depois que se estabelecer o ponto máximo da curva de infecções pelo coronavírus.

Mas o discurso do presidente não traz só a preocupação com a situação econômica. Ele joga culpa nos governadores, responsabiliza a imprensa e pede a reabertura do comércio e das escolas, completamente na contramão do que vêm defendendo as autoridades de saúde no Brasil e no mundo para o momento (não é por tempo indeterminado). 

As posições divulgadas por Bolsonaro nas últimas horas destoam do tom conciliador que o presidente usou na reunião virtual com os governadores do Nordeste, na qual anunciou repasses de R$ 85 bilhões aos Estados. A cada dia, Bolsonaro tem se mostrado mais dúbio em suas posições e isso está prejudicando o combate à grave crise que o Pais vive.

E o cidadão?

O presidente da República, contrariando o que já defendeu o seu ministro da Saúde, pede o fim do isolamento. Os governadores, ao contrário, determinam medidas e pedem para que todos fiquem em casa. O que faz o cidadão que acompanha tudo em casa, à distância? Há uma divergência que precisa, o quanto antes, ser resolvida. Ao radicalizar o discurso, o presidente parece ter o objetivo de mobilizar seus apoiadores, num momento em que já passou da hora de se deixar a política de lado para o melhor combate ao problema.

Conhecimento técnico

No momento em que ainda não há vacinas e nem tratamentos comprovados ao coronavírus, a melhor ciência e os órgãos internacionais de Saúde têm recomendado o isolamento total sob pena e risco de um colapso no sistema de Saúde, público e privado. Exemplos pelo mundo como os casos de Londres e Nova York que adotaram estratégias diferentes e tiveram que recuar, assumindo o isolamento, mostram que não adianta forçar a barra para antecipar a circulação de pessoas. O momento é de reclusão. Setor público, iniciativa privada e sociedade precisam estar em diálogo permanente. E, com a situação mais controlada, tudo vai, gradualmente, voltar à normalidade. Até lá, menos política e mais união.

Seriedade

Um dos parlamentares mais experientes do Congresso, o senador cearense Tasso Jereissati foi uma das vozes mais contundentes ante o pronunciamento do presidente. “As recomendações de todas as organizações mundiais são de manter o isolamento. Ir contra isso é absolutamente irresponsável. Venho ao extremo de dizer que qualquer coisa contra isso (as recomendações da Saúde), mesmo que venha do presidente, não devem ser levadas a sério pela população”.