Base governista e oposição sofreriam impactos de candidatura própria do PL ao governo do estado

Aliados de Camilo Santana e de pré-candidatura de Capitão Wagner teriam que rever estratégias caso se confirme a postulação liberal

Em debate entre lideranças locais e nacionais do Partido Liberal (PL), uma candidatura própria ao governo do Estado no Ceará poderá movimentar de forma concreta a sucessão do governador Camilo Santana, com impactos tanto na situação como na oposição ao governo no Estado.

O cenário local tem, atualmente, uma candidatura do núcleo governista, que deve reunir PT, PDT e aliados, e outra de oposição, comandada pelo deputado federal Capitão Wagner e aliados. Ambas aparecem com mais robustez de intenções de voto nas pesquisas internas, embora haja outros postulantes anunciados, como o do Psol.

Uma candidatura própria do PL tende a dividir o grupo de oposição, mas também traz impactos para o grupo governista que, até agora, tinha o partido em seu arco de alianças até o pleito de 2020. 

O primeiro impacto local seria ao grupo governista. Uma postulação do PL poderia estar, indiretamente, ajudando a base aliada de Camilo Santana, uma vez que tiraria o partido, forte por ter o presidente Bolsonaro como filiado, da aliança de oposição a ser liderada por Capitão Wagner, que deve ser o mais forte candidato entre os opositores.

Aí está também um dos impactos para Wagner: perder um forte partido para o arco de aliança que tenta montar para fazer frente à ampla aliança governista. Ter um partido como o PL implica em possibilidade de recursos e também de tempo de propaganda no rádio e televisão.

"Capitão lá, capitão aqui"

Outra questão simbólica a ser administrada seria o fato de ficar difícil Wagner atrelar sua candidatura a Bolsonaro, tendo o partido do presidente um candidato próprio no Estado. O nome especulado para o momento é o do ex-deputado Raimundo Gomes de Matos, que está atualmente na Sudene e se aproximou do bolsonarismo.

Após momento de oscilação como ocorrido na campanha à Prefeitura de Fortaleza em 2020, Capitão Wagner, desde o ano passado, tem feito sinalizações mais concretas pró-Bolsonaro como o fato de ter sido um dos líderes a discursar nos atos do 7 de setembro em Fortaleza.

Mais recentemente, na última passagem de Bolsonaro pelo Estado, Wagner novamente teve microfone aberto para criticar os adversários estaduais e chegou a se referir a Bolsonaro como “estadista”.

O fator PP

Um terceiro fator que pode influir também dos dois lados da disputa local é a posição do Progressistas (PP). Também ligado ao governismo local, por meio do deputado estadual Zezinho Albuquerque e do filho AJ, que é presidente estadual da legenda, fontes ouvidas por esta coluna consideram como provável que o partido vá com o PL para uma coligação majoritária, o que agradaria ao Palácio do Planalto, pois ambos são os partidos mais próximos de Bolsonaro atualmente.

Neste caso, seria mais uma perda considerável para a base governista que, além do PL, deixaria de contar com o PP.

Discussão de nomes

O nome de Raimundo Gomes de Matos, suplente de deputado federal filiado ao PSDB, surgiu de diálogos em Brasília e tem apoio do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, um dos mais próximos do presidente Jair Bolsonaro. Matos ocupa um cargo na Sudene e tem apoio de Marinho, de quem foi colega por anos no Congresso Nacional, como deputados tucanos.

Nos bastidores da política cearense, o nome é visto com pouco potencial de competitividade. Para os governistas, entretanto, seria melhor ter o partido com um candidato próprio do que indo integrar a coligação da oposição.

Um argumento que pesa a favor da postulação é a formação de um palanque local do mesmo partido de Bolsonaro e também fortalecer as chapas proporcionais. O partido quer eleger 5 deputados federais.