Hipóxia é um risco químico ao ser humano associado à deficiência de oxigênio nos tecidos humanos: ou seja, na prática, o ser humano não conseguirá respirar de forma efetiva.
Na aviação, o evento pode ser mais frequente e perigoso devido a menor pressão do oxigênio com a altitude que se voa, chamada de hipóxia hipobárica (menor pressão).
Sim, quanto mais alto se voa, menor a quantidade de oxigênio em termos absolutos, logo o indivíduo tem mais dificuldade de atender a sua necessidade fisiológica pelo gás.
Até aproximadamente 10.000 pés, ou 3.000m, o organismo consegue se adaptar a menor oferta de oxigênio e (zona fisiológica), ainda que a menor oferta possa causar transtornos temporários ao indivíduo, há populações que vivem em altitudes até maiores, como em La Paz na Bolívia, que possui 3.650 metros de elevação.
Até essa altitude, as aeronaves que realizam voo de cruzeiro nessa faixa não precisam ser pressurizadas. Um exemplo claro, é o Cessna Gran Caravan utilizado pela Azul Conecta que realiza voos por volta de 10 mil pés, porém, não lembro de ter sentido efeito prático mais relevante, pelo contrário, todos os voos que fiz foram muito bons e estáveis.
Embora não se sintam efeitos imediatos, importante ressaltar, que voar por horas no limite superior da zona fisiológica pode trazer riscos à aviação como fadiga precoce das tripulações.
Após a faixa de 10.000 pés (zona fisiologicamente deficiente em oxigênio), as aeronaves precisam ser pressurizadas, porque a oferta de oxigênio exterior não é bem tolerada pelo ser humano. Assim, ocorre por exemplo, com os ATRs, Brasílias (Embraer-120), que voam classicamente entre 15.000 e 20.000 pés.
Na média, as cabines pressurizadas simulam altitudes mais baixas, entre 6.000 e 8.000 pés. Ou seja, a cabine é pressurizada, mas não reproduz as condições ao nível do mar, porque o esforço estrutural da fuselagem seria maior, dado que haveria ainda maior diferença de pressão (interna e externa), fazendo com que as aeronaves precisassem ser mais pesadas.
Nessa faixa, porém, um indivíduo exposto a esse cenário (18.000-20.000 pés) conseguiria performar atividades com alguma habilidade entre 20 e 30 minutos. Para os jatos, entretanto, que voam acima de 30.000 pés, a pressão de oxigênio é aproximadamente um terço da pressão a 10.000 pés, logo região hostil ao ser humano.
Nessas altitudes, a hipóxia é rapidamente mortal, porque torna o ser humano inconsciente em menos de 2 minutos. Acima de 35.000 pés (cruzeiro clássico de aeronaves comerciais), o ser humano fica inconsciente entre 30 segundos e 1 minuto. Em 40.000 pés, entre 15 e 20 segundos.
Por essa razão, a hipoxia é muito perigosa para aviação e mata os passageiros rapidamente se algo não for feito.
Despressurização de cabine
Você, viajante de aviação comercial clássica sabe bem: “em caso de despressurização, máscaras cairão automaticamente do compartimento acima. Ponha as máscaras primeiro em você, depois auxilie crianças e idosos”.
Trecho do Regulamento Brasileiro de Aviação Civil 121 (RBAC-121)
“121.333
(f) Instruções aos passageiros – Antes de qualquer voo a ser conduzido acima do nível de voo 250, um tripulante deve instruir os passageiros sobre a necessidade de usar oxigênio no evento de uma despressurização da cabine, mostrar-lhes a localização das unidades de distribuição de oxigênio e demonstrar como usar as mesmas.”
Entende por que é importante por a máscara primeiro em si próprio? Em alguns segundos, todos podem estar inconscientes, então é importante garantir o oxigênio para adultos o quantos antes, pois serão esses que auxiliarão os menos capacitados a posicionarem suas máscaras.
Em caso de ou risco de despressurização, as tripulações são treinadas para rapidamente perder altitude, justamente para que se atinja condições de ar respirável natural o quanto antes.
Quanto tempo de oxigênio há nas máscaras de oxigênio?
Importante ressaltar que o oxigênio das máscaras não pode permitir o voo contínuo da aeronave, pois o suprimento suplementar dura poucos minutos. O oxigênio, chamado de suplementar, deve garantir que se atinja em poucos minutos altitudes em que o ar seja naturalmente respirável.
Deve garantir apenas que a aeronave atinja a zona fisiológica.
121.333: Oxigênio suplementar para descidas de emergência e para primeiros socorros. Aviões pressurizados com motores a turbina
(e) Ocupantes de cabine de passageiros – Em operações em altitudes acima de 10.000 pés, o seguinte suprimento de oxigênio, para uso dos ocupantes da cabine dos passageiros, deve ser provido:
(...) e em operações acima do nível de voo 250, deve haver oxigênio disponível para não menos que 10% dos ocupantes, fornecido na razão estabelecida por este regulamento, durante todo o tempo de voo em que a altitude pressão da cabine, após ocorrer despressurização, permanecer acima de 10.000 pés até 14.000 pés inclusive. (...)
Entretanto, em nenhum caso, o suprimento de oxigênio pode ser menor que o necessário para atender 10 minutos de fornecimento para todos os ocupantes da cabine de passageiros;
Em 10 minutos é mais que suficiente para que se atinja região com ar respirável.
Acidente helios
Em 2005, um triste e mortal acidente aconteceu teve hipoxia como fator contribuinte.
No voo Helios 522, companhia grega, a investigação mostrou que no check list pré decolagem, a tripulação não setou o controle de pressurização de manual para automático.
Isso acabou acarretando a não pressurização da aeronave. Como resultado, como resultado da baixa pressão de oxigênio, tripulação e passageiros acabaram inconscientes. Os Pilotos não conseguiram identificar os sintomas da ocorrência de hypoxia, como falhas de visão e dificuldade de raciocínio e também ficaram inconscientes.
Tragicamente, a aeronave (Boeing 737-300) acabou não sendo mais controlada, e voou por horas até que o combustível acabou e o avião caiu violentamente contra o terreno, vitimando 121 pessoas.
Hipóxia é algo extremamente perigoso.