‘Galeão do Nordeste’: Aeroporto de Fortaleza é comparado ao terminal do Rio pela fraca movimentação

O Aeroporto Internacional de Fortaleza está sendo comparado ao Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro (RIOGaleão). Infelizmente, a comparação não se dá pelos atributos do equipamento e sim pelo ‘abandono’ do terminal carioca pelas companhias aéreas e passageiros nos últimos anos. 

A performance totalmente descolada do potencial da região tem levado o Aeroporto Pinto Martins a receber comparações jocosas em fóruns especializados de aviação com o Aeroporto do Galeão. O Fortaleza Airport é chamado de “Galeão do Nordeste”.

Apesar de mina de ouro para as companhias aéreas, o Aeroporto de Fortaleza sofre com a redução de movimentação de passageiros. Tal contexto faz com que as companhias aéreas que operam no terminal tenham voos lotados, e consequente e teoricamente, resultados positivos nos balanços financeiros das empresas. 

Porém, por que comparar o Aeroporto de Fortaleza com o internacional do Rio de Janeiro?

Aeroporto do Galeão ganha destaque negativo

Primeiramente, precisamos entender o contexto de hoje do Galeão. Na volta da pandemia, o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, Antônio Carlos Jobim (RIOGaleão), ganhou destaque nacional negativo.

Pegou fama de aeroporto ocioso, com baixa movimentação de passageiros e aeronaves. Acontece que, no pós-pandemia, o Aeroporto do Galeão que movimentava 3 milhões de passageiros a mais que o Aeroporto Santos Dumont, no Centro do Rio, perdeu a liderança.

Perdeu de uma forma acachapante. Em agosto passado, o Galeão movimentou cerca de metade da movimentação do Santos Dumont.

Podemos de fato comparar o Pinto Martins com o Galeão?

Encontramos razões que aproximam ambos os aeroportos.

1. Ambos os terminais estão próximos em movimentação de passageiros. 

Em 2022, houve leve vantagem para o Galeão, com 5,8 milhões de passageiros (embarques e desembarques), contra 5,7 milhões para Fortaleza, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Em 2023, como o Pinto Martins registra movimentação aquém do esperado, a distância entre os dois aeroportos aumentou consideravelmente. De janeiro a agosto deste ano, o Galeão movimentou 4,6 milhões de passageiros; já o Fortaleza Airport, 3,8 milhões.

2. Ambos estão colados no ranking dos maiores aeroportos do Brasil

Considerando os 8 primeiros meses do ano de 2023, o Galeão e o Fortaleza Airport estão juntos na movimentação de passageiros comerciais: 10º e 11º respectivamente.

Ranking de movimentação dos aeroportos (de janeiro a agosto de 2023)

  1. Guarulhos (SP): 26.698.903
  2. Congonhas (SP): 14.334.456
  3. Brasília (DF): 9.754.754
  4. Campinas (SP): 8.229.262
  5. Santos Dumont (RJ): 8.075.372
  6. Confins-BH (MG): 6.759.177
  7. Recife (PE): 5.888.754
  8. Porto Alegre (RS): 4.832.629
  9. Salvador (BA): 4.629.000
  10. Galeão (RJ): 4.582.639
  11. Fortaleza (CE): 3.752.929
  12. Curitiba (PR): 3.636.350

3. “Buracos”, ocos de movimentação de aeronaves

O aeroporto carioca tem um “vazio” de movimentação de aeronaves de 12h as 18h. São de 12 a 15 decolagens, o que representa menos de 3 decolagens por hora. De 6h ao meio-dia, o Pinto Martins possui ainda maior ociosidade de aeronaves. São, em média, de 6 a 8 decolagens, não chegando a 2 decolagens por hora. 

Menos mau para os cariocas que contam com o Santos Dumont, o 5º mais movimentado do Brasil e movimenta mais de 8 milhões de passageiros entre janeiro e agosto de 2023.

4. Muita estrutura para pouco avião

Ambos os aeroportos foram recém-modernizados, com suas concessões: o Galeão foi concedido em 2013, o Pinto Martins, em 2017.

Os dois aeródromos contam/contaram com gestores globais para ter o que há de melhor no mundo em termos de instalações e equipamentos.

No Galeão, foi construído um 3º terminal (píer sul), o internacional. O aeroporto carioca conta com duas pistas enormes para recepcionar grandes jatos, inclusive a maior pista de aeroporto comercial do Brasil, cabeceira 10-28, de 4 mil metros de comprimento, feita de concreto.

O Galeão consegue ter pousos e decolagens totalmente independentes, de acordo com a configuração de pistas em uso: decolagens pela cabeceira 10 e pousos pela cabeceira 15, por exemplo, algo que nem Guarulhos consegue.

Devido à ociosidade do aeródromo, o aeroporto do Galeão recebeu uma corrida automobilística da categoria nacional Stock Car, justamente na imensa pista 10/28 em 2022.

No caso de Fortaleza, o aeroporto recebeu um upgrade de infraestrutura: grande ampliação e modernização de terminal de passageiros, ampliação de pista de pouso e decolagem e adequação de pátios e pistas.

Fortaleza teve dobrada a quantidade de portões de embarque, de 7 para 14, grande quantidade de estacionamentos remotos, pista satisfatória de 2.755m (nível do mar, próxima de EUA e Europa).

Pena que, ao contrário do que se esperava, a grande indução de voos, a modernização veio acompanhada de queda de movimentação. 

5. Protagonismo internacional

Ambos os aeroportos têm histórico de sucesso com voos internacionais. O Galeão é historicamente a 2ª porta internacional do Brasil.

Em dezembro de 2019, movimentou mais de 4 milhões de passageiros internacionais, 3,5 vezes menos que o primeiro colocado, o Aeroporto Internacional de Guarulhos (São Paulo).

Fortaleza também tinha seu protagonismo regional no Nordeste com passageiros internacionais. Foi o quinto aeroporto internacional em 2019, primeiro do Nordeste.

Em agosto de 2023, o Galeão, porém, totalizou aproximadamente 280 mil passageiros internacionais. Se anualizado, o valor representaria, aproximadamente, 3,5 milhões de passageiros, bem aquém do máximo de 2019.

Fortaleza, ainda pior, em agosto foram aproximados, 26 mil passageiros internacionais. Anualizando seriam 312 mil passageiros, apenas 56% de recuperação.

Movimentação de passageiros internacionais em 2019

  1. Guarulhos: 14.633.241
  2. Galeão: 4.383.354
  3. Campinas: 965.248
  4. Brasília: 659.261
  5. Fortaleza: 553.289
  6. Recife: 536.852

O motivo das ociosidades, entretanto, não aproximam os aeroportos. O Galeão está claramente sofrente os efeitos da grande quantidade de voos no Santos Dumont, algo que, como vimos no ranking de movimentação dos aeroportos, tem mantido a quantidade de passageiros crescente na Região Metropolitana do Rio.

Em Fortaleza, há um preocupante e decrescente decréscimo de passageiros, que conversa com a apatia de companhias aéreas e estratégias erradas para resolver o problema.

O caso cearense também merece muito mais atenção, uma vez que o problema do Galeão estão para ser resolvido com as restrições aplicadas ao Santos Dumont. Medida esta que deverá elevar a movimentação do RIOGaleão.

6. Cidades turísticas

Ambos os terminais estão localizados em cidades turísticas. Rio de Janeiro e Fortaleza estão sempre entre os destinos mais buscados para férias de alta estação. Além disso, as duas cidades possuem atributos para tal reconhecimento. Rio de Janeiro é conhecido pelo Carnaval, festas de fim de ano e pelas praias. Fortaleza tem importância gastronômica, prática de esportes aquáticos, como kitesurf e windsurf, além das praias e sol praticamente o ano inteiro.  

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*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.