Tragédia no Rio Grande do Sul é a Covid do Governo Lula

Além do caos social, a economia gaúcha está na UTI, de onde só sairá quando – e se – houver um plano estratégico de custo ainda não estimado. Mais: a catástrofe ambiental na opinião do engenheiro José Carlos Braga.

Anotem: a catástrofe natural, social, econômica e financeira que se abate sobre o Rio Grande do Sul, cuja real dimensão só surgirá quando baixarem as águas desse dilúvio, é muito maior e mais duradoura do que prognosticam as autoridades dos governos daquele estado e da União Federal. 

Além dos 145 mortos e outro tanto de desaparecidos, há cerca de dois milhões de pessoas, nas cidades e no campo, afetadas pelas inundações e suas consequências – este é o balanço social, que se agrava à medida que mais chuvas desabam sobre todo o território estadual.

Por sua vez, a economia gaúcha foi ferida gravemente e entrou na UTI, onde respira por aparelhos, e de lá só sairá quando – e se – um plano estratégico for elaborado e executado a um custo ainda não calculado. O que aqui está dito não é exagero, mas a constatação extraída de todas as imagens que a tevê está a exibir a todo momento. 

Com base nelas e sustentada pelos depoimentos de empresários gaúchos da indústria e da agropecuária, esta coluna ousa afirmar que o presidente Lula e seu governo estão diante de um desafio semelhante ao da Pandemia da Covid-19, que, em 2020 e 2021, inundaram a administração de Jair Bolsonaro. 

Reconstruir o Rio Grande do Sul será uma tarefa que, dependendo de como ela for executada, afundará ou renovará o mandato presidencial. Simples assim. (Uma pesquisa da Quaest, que está sendo divulgada hoje revela que 55% dos brasileiros não querem a reeleição de Lula). 

Não se sabe, ainda, quantas mini, pequenas, médias e grandes indústrias estão cobertas pelas águas da enchente no Rio Grande do Sul. Não se sabe quantas delas sobreviverão. É desconhecido, por enquanto, o número de desempregados que essa tragédia produzirá. Mas já se teme pelo que acontecerá quando começar o esforço de reconstruir o Rio Grande do Sul. 

De antemão, surge um alerta para que todos os organismos de fiscalização e controle – incluindo a Polícia Federal – deverão ser mobilizados para bloquear qualquer tentativa de fraude nos processos de licitação que serão abertos nas esferas federal, estadual e municipal para a reconstrução das mais de 400 cidades gaúchas e da infraestrutura rodoviária, aeroportuária, de escolas do ensino fundamental, primário, secundário e superior, de hospitais e postos de saúde e de energia.

Políticos e empreiteiros já esfregam as mãos, antevendo o que sempre acontece em ocasiões como esta.

Só na área da habitação – pelos primeiros levantamentos divulgados – será necessária a construção de 40 mil novas residências. Nas movimentadas estradas federais e estaduais que cortam o Rio Grande do Sul, mais de 40 pontes desabaram e terão de ser construídas no curto prazo. Sem elas, a logística gaúcha, já comprometida, ficará caótica.

Nas redes sociais, há depoimentos de cortar o coração. Em um deles, um empresário chega a afirmar que “o estado acabou; o que vai fechar de empresa, meu irmão, é de assustar; temos shoppings center embaixo d’água; temos faculdades e fábricas debaixo d’água; temos hospitais sob as águas; temos indústrias totalmente inundadas; já imaginaram o tamanho do prejuízo?”

No mesmo grupo social, o empresário antecipa o que se verá quando baixarem as águas: “Cidades acabaram. O Rio Grande do Sul tem suas cidades entre vales, à beira dos rios. Cidades como Lajeado, com 400 mil habitantes, terminaram. O que vai acontecer? Eles terão de construir essas cidades em outro lugar, porque em setembro (de 2023) elas ficaram debaixo d’água, em novembro (de 2023) elas ficaram debaixo d’água, e reconstruíram de novo, e agora terminou tudo. Essas cidades não podem mais ficar onde estão, porque vai dar outra (inundação) e quando der outra vai acabar de novo.”

A OPINIÃO DE UM ENGENHEIRO

A propósito: o engenheiro José Carlos Braga, especialista em energias renováveis, disse ontem à coluna que se engana ou se deixa enganar, até por conveniência ou acomodação, “quem simplesmente terceiriza a culpa da tragédia no Rio Grande do Sul, e outras que ainda ocorrerão mais tenebrosas e em escala exponencial, ao ‘aquecimento global’, sem conhecer causas ou sem combatê-las”. Ele acrescentou:

“Analisando particularmente o Brasil, cuja solução ainda seria possível, principalmente pela vegetação nativa em larga escala preservada, devem ser evocados alguns corolários científicos que atingem a raiz do problema. Primeiro, transformar o país numa imensa fazenda agrícola a exportar bilhões de toneladas de grãos a serem beneficiados no estrangeiro é o primeiro grande problema, pois cada árvore cortada e cada gota d'água perdida significam menos refrigeração na atmosfera e no solo, antes poroso para captar e levar a chuva às raízes e lençóis. Isto transforma-se em algo denso, pois a água escoa para outros sítios mais abaixo, inundando campos e cidades, veloz e enfurecidamente, sem falar das encostas cuja ocupação antropizada desliza vorazmente sobre construções pífias e pujantes com efeito ‘bola de neve’, soterrando seres humanos e animais, numa verdadeira carnificina.”

José Carlos Braga prossegue:

“A mais relevante solução seria o fomento massivo de uma agroindústria potente no Brasil, com exportação de produtos já manufaturados, gerando milhões de novos empregos e multiplicando as divisas com utilização reduzida das commodities, sem agredir a natureza. Absurdo criminoso é a flexibilização das exigências ambientais como as 25 que tramitam no Congresso Nacional e nos parlamentos estaduais.

“Somente a título de exemplo, cito o governador Eduardo Leite, que ajudou a transformar os pampas gaúchos numa armadilha às enchentes, permitindo que APAS fossem ocupadas pelo agro, indiscriminadamente, abrindo as portas do meio ambiente para terríveis tragédias recorrentes. Alguns governadores do Sul e Sudeste e até um senador do Ceará chegaram ao ridículo de endossar algumas atitudes imbuídas de antigas e tacanhas visões separatistas do Brasil.

“Outra questão: a carência de saneamento básico é mais um pilar fundamental a impulsionar o aquecimento pelo colapso poluente das águas doces e salgadas, infestando bueiros, ruas e avenidas, rios, montanhas e mares. Uma tragédia anunciada. E as energias fósseis, que hoje movem o mundo, são grandes responsáveis pelo aquecimento dos oceanos, o que implica evaporação indiscriminada, causando chuvas além da conta, derretimento das calotas polares e fúria das correntes marítimas e dos ventos.
“A utilização em larga escala da energia elétrica oriunda de fontes limpas e renováveis, bem como a substituição do hidrogênio cinza por verde, traria um impacto colossal na estabilização do aquecimento global, podendo, no limite, reduzi-lo a médio e longo prazos.”