Causou imediata repercussão entre empresários da indústria e da agropecuária do Ceará a informação, aqui divulgada ontem, segundo a qual a Value Global Group – uma empresa com quatro fábricas no Brasil, uma nos EUA e escritórios comerciais na Alemanha e na China – investirá R$ 650 milhões na construção de um Porto Seco na cidade de Quixeramobim, bem ao lado dos trilhos da Ferrovia Transnordestina, em construção. A empresa já toma providências para obter a necessária licença ambiental para iniciar as obras.
Seu CEO, Ricardo Henrique Ferro Azevedo, em mensagem à coluna, disse que o alto investimento será bancado com recursos próprios da empresa, adiantando que haverá “nenhum real proveniente de bancos ou órgãos públicos”.
Ele disse, ainda, que o foco do Porto Seco de Quixeramobim se concentrará na operação de transporte multimodal de grãos, provenientes do Matopiba (Mato Grosso, Tocantins, Piauí e Bahia), minérios oriundos dos diversos estados do Nordeste, principalmente calcário agrícola do Ceará, e produtos das empresas dos setores calçadista, de laticínios e de energia.
Ontem, em um grupo social integrado exclusivamente por empresários industriais, agricultores e pecuaristas, um grande exportador de frutas incluiu-se no debate que se travava a respeito da viabilidade econômica do Porto Seco de Quixeramobim. O fruticultor escreveu o seguinte:
“Desculpem-me por entrar neste assunto, pois em minha modesta opinião gastar R$ 650 milhões para colocar um porto seco em Quixeramobim é o mesmo que ter políticos daquela cidade gerindo o Porto do Mucuripe! Ou seja, distante do mar, distante das indústrias do Ceará e das indústrias dos estados vizinhos.”
Ele prosseguiu, apresentando seus argumentos:
“Tomemos, por exemplo, o Estado de Santa Catarina, que possui cinco portos comerciais e um sexto porto em estudos. Naquele estado, tem-se notado uma expansão fabulosa do volume de armazéns e portos secos com importações e exportações extraordinárias, inclusive atendendo aos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Mato Grosso.”
O mesmo empresário exportador de frutas deu sequência à sua dissertação, acrescentando:
“Temos dois portos no Ceará e nenhum Porto Seco próximo ao porto do Pecém, em São Gonçalo do Amarante, ou do Mucuripe, em Fortaleza. Na área do Pecém, existe uma ZPE (Zona de Processamento para Exportação). A dois quilômetros do Mucuripe, há um hub tecnológico, com alguns Data Centers já em operação. Nessa área, encontram-se 16 cabos submarinos que unem o Brasil aos EUA, à Europa e à Africa. E não há uma só estrutura de Porto Seco ao redor.”
Em seguida, o exportador levanta dúvidas sobre a operação do Porto Seco de Quixeramobim, ao referir-se, com alguma ironia, aos serviços burocráticos que o Poder Público oferece nos portos do Pecém e Mucuripe:
“Em que pese o assunto da Ferrovia Transnordestina, estamos a falar de quais produtos? Grãos? Quantos fiscais da Receita Federal do Brasil e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) serão necessários para atuar no Porto Seco de Quixeramobim? Quantos funcionários públicos nos faltam hoje nos portos do Mucuripe e do Pecem?”
Um avicultor, sem esconder seu sentimento bairrista, entrou no debate e, como se tivesse o objetivo de pôr um termo à discussão, postou o que a seguir está escrito:
“Desculpem-me, também, por entrar neste mesmo assunto. Sabemos que (o Porto Seco) será feito de qualquer forma. Melhor que o seja no Ceará do que em Pernambuco.”
Para bom entendedor, meia palavra basta.
O debate se encerrou aí, mas revelou algo interessante: o Porto Seco de Quixeramobim, com seu alto investimento, é um empreendimento importante para incentivar a economia do estado do Ceará. Como ele será um empreendimento privado, e como o capital, sem pátria e sem coração, procura sempre o melhor lugar para reproduzir-se em menos tempo, tem-se a certeza de que a Value Global Group não daria um tiro no próprio pe. Se ela escolheu Quixeramobim, é porque viu lá a chance de êxito do seu grande projeto. Então, seja bem-vinda!