Pequeno produtor rural cearense pede assistência técnica do governo

São os grandes empresários da pecuária que ensinam a ensilar capim, sorgo e milho. São as grandes empresas que ensinam a construir estufas e telas para o cultivo protegido. E a Ematerce?

Se o governo do estado executasse o que lhe cabe, a agropecuária do Ceará daria, em cinco anos, um salto de qualidade extraordinário. 

E o que cabe ao estado fazer? Resposta de 10 entre 10 grandes, médios e pequenos empresários do setor primário da economia cearense: oferecer assistência técnica a quem trabalha nas diferentes áreas da produção no campo. 

Por exemplo: hoje, quem ensina a produzir mais e melhor leite bovino são fazendeiros empresarialmente organizados, como Luiz Girão e sua Fundação, que, na Chapada do Apodi, transmitem a tecnologia de como construir silos para guardar capim, sorgo e milho e assim garantir a alimentação do rebanho no tempo de estio. 

Outro exemplo: quem ensina a construir estufas ou áreas teladas para o cultivo protegido de hortaliças na Serra da Ibiapaba são as grandes empresas, como a Trebeschi, a Reijers e a Itaueira, as quais, como Luiz Girão, investem recursos próprios para executar uma tarefa que é do estado.

O Ceará tem a Empresa de Assistência Técnica – a Ematerce, que respira por aparelhos na UTI na ineficiência. Ela carece não apenas de dinheiro, mas de pessoal técnico para, percorrendo pequenas propriedades rurais, transmitir o conhecimento das novas tecnologias. 

Houve uma época em que a Ematerce era, digamos assim, a universidade do pequeno produtor. Nos seus tempos de Ancar, nos anos 60 do século passado, sob o comando do agrônomo Valdir Pessoa, a Ematerce, de forma pioneira, plantou a semente da melhor agricultura estadual cearense. Mas ela estacionou no tempo, e este passou na janela e o governo não viu.

No recente Água Innovation, empresários da agropecuária do Ceará – reunidos num workshop que tratou das culturas protegidas e entusiasmados com o que se passa à revelia do governo na Ibaiapaba, onde essa atividade está mudando para melhor a vida do agricultor – disseram o seguinte a esta coluna:

“Temos o melhor futuro diante de nós. Temos a disposição plena para investir, temos o conhecimento da tecnologia, mas falta agora que o governo invista na qualificação do pequeno produtor, para que ele também produza com a mesma qualidade e eficiência do grande produtor, e é o governo que tem de executar essa tarefa”.

É a mesma opinião de um fruticultor que, ainda neste semestre, começará a instalar suas primeiras estufas para produzir hortaliças de modo protegido na região do Cariri.

O secretário Executivo do Agronegócio, Sílvio Carlos Ribeiro, que tem o dom da onipresença, não deixa dúvidas e assegura que a Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE) do governo do estado vai implantar, no Cariri e na Ibiapaba, dois Centros de Tecnologia em Culturas Protegidas. 

Trata-se de promessa feita ainda no governo Camilo Santana que começa a sair do papel. 

Há um mês, na Holanda, Sílvio Carlos Ribeiro – acompanhado do presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), Amílcar Silveira, do empresário Fábio Regis, maior produtor de bananas do Ceará e do Nordeste, e de Sérgio Oliveira, superintendente do Senar-CE – visitou a Universidade de Wageningen, com a qual o governo cearense celebrou contrato para a instalação daqueles centros e, principalmente, para a transmissão da tecnologia do cultivo protegido. 

Será um gol já muito bem desenhado, mas ainda não marcado no gramado da efetividade. Por isto mesmo, cresce a expectativa em torno desse empreendimento.

Enquanto os especialistas holandeses não chegam, Fábio Régis, para citar apenas um exemplo, acelera suas providências para instalar, em suas terras de Missão Velha, onde produz banana no Sítio Barreiras, sua primeira área de hortaliças cultivadas de modo protegido – ele ainda não sabe se usará telas, de custo mais barato, ou estufas. 

Qualquer uma das opções lhe dará a chance de produzir tomates, pimentões e pepinos sem o uso de defensivos químicos, pois o cultivo protegido é assim denominado porque os insetos, que transmitem doenças e pragas, não conseguem penetrar nele. 

Em nome da Faec, Amílcar Silveira, não deixa por menos, e diz: 

“A Federação da Agricultura, por meio do Senar, já está mobilizada para transmitir, via Sindicatos Rurais, a tecnologia do cultivo protegido, pois este é o futuro que já chegou para a horticultura do Ceará”. 

Como se observa, entusiasmo e vontade de investir em novas tecnologias não faltam ao agricultor cearense.