Informação para os que imaginam que o setor industrial brasileiro é muito subsidiado pelo governo: a Nota Econômica 35, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra que 71% dos mecanismos de incentivo à indústria, estavam, em 2023, nas economias avançadas. Essas medidas consistiram em subsídios à produção doméstica, como, por exemplo, reembolsos fiscais, empréstimos ou garantias estatais e medidas de estabilização de preços.
A nota da CNI revela que, entre os mecanismos mais usados pelos governos do chamado mundo desenvolvido para estimular sua indústria, estavam subsídios às exportações; estratégias de localização; barreiras à importação; e compras públicas. Em contraste, as economias emergentes usaram os mesmos mecanismos, mas em menor quantidade.
O documento da CNI aponta que planos, programas e estratégias da China, Coreia do Sul, Estados Unidos, Japão, Reino Unido, União Europeia e, em particular, a Alemanha, contam, desde 2019, com um valor aproximado de US$ 12 trilhões em recursos públicos para estimular o desenvolvimento de soluções verdes, inovação, aumento das exportações e ganhos de produtividade.
Para discutir as principais tendências em política industrial, a CNI, em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) realizarão amanhã, em Brasília, o “Seminário Políticas Industriais no Brasil e no Mundo”. O evento será realizado na sede da CNI. As inscrições podem ser feitas neste link.
Entre os palestrantes do seminário estão a premiada professora Carlota Perez, do Institute for Innovation and Public Purpose (IIPP) da University College London, considerada uma das “cinco economistas que estão redefinindo tudo”; e professora de Economia, Réka Juhász, de Economia da University of British Columbia e cofundadora do Industrial Policy Group, Réka Juhász.
O diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Rafael Lucchesi, lembra que há mais de 2,5 mil políticas industriais em vigor no mundo voltadas para fortalecer as indústrias dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, conforme mapeado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em 75 países.
“Temos de ficar alertas para o fato de que as grandes potências estão investindo recursos significativos para se manterem competitivas e se adaptarem às tendências atuais. Em outras palavras, assistimos a uma corrida global, que constrói as novas bases da indústria mundial, com iniciativas ligadas à descarbonização, transformação digital, saúde e vida, infraestruturas urbanas, econômicas e digitais, formação de recursos humanos qualificados e defesa e segurança nacional”, explica Lucchesi.
Segundo ele, as políticas industriais ganharam força mundo afora, principalmente no período pós pandemia e por iniciativa das economias avançadas, com investimentos vultuosos para reagir aos novos desafios tecnológicos e ambiental, em particular as mudanças climáticas.
“O Brasil ficou de fora da revolução da microeletrônica e isso nos tirou competitividade e nos fez dependentes do mundo em produtos de alto valor agregado. Agora, temos uma outra janela de oportunidade. A descarbonização é uma grande janela de oportunidade. A nossa política industrial precisa focar no futuro da economia, com continuidade, e ser uma política de Estado resistente às mudanças de governo”, avalia Lucchesi.