No semiárido de Boa Viagem, a palma e o capim fazem milagre

Desprezando o sorgo e o milho, o dono da Fazenda Triunfo usa novas culturas consorciadas que garantem volumosos para a alimentação dos rebanhos bovinos leiteiros do Sertão Central

Na Fazenda Triunfo, na zona rural do município de Boa Viagem, no entorno da área que mais produz leite bovino no Ceará, há uma revolução agrícola acontecendo. 

O seu proprietário, Marcelo Vieira, já cultiva, em 50 dos 400 hectares previstos no seu projeto, a palma forrageira e o capim Massai destinados à produção de volumosos para silagem e para posterior oferta de alimentos aos rebanhos bovinos leiteiros. 

Apoiado na consultoria do zootecnista Raimundo Reis, especialista em agropecuária, o fazendeiro – levando em conta que o pequeno pecuarista não tem tempo de investir em tecnologia no semiárido – decidiu ele mesmo tomar esta iniciativa para beneficiar os produtores de leite de Quixeramobim, Pedra Branca, Milhã e Senador Pompeu, que integram o que pode ser chamado de cinturão do leite do Sertão Central cearense. 

Observando, ainda, que o pecuarista, por causa da baixa e duvidosa pluviometria da região, não tem a segurança necessária para produzir volumosos – Marcelo Vieira acelera o desenvolvimento do seu projeto Mata Branca, que consiste no casamento da palma miúda doce com o capim Massai (uma variedade precoce, que produz e floresce várias vezes ao ano) cultivados em sistema integrado – ruas de quatro metros de largura plantas de capim, separadas por uma longa linha de palma forrageira. 

Também são cultivadas a pornunça (espécie de prima da mandioca), igualmente consorciada com o capim Massai, a mandioca e a gliricídia (árvore de tamanho médio cultivada originalmente do México até a Colômbia, mas já espalhada por outras regiões tropicais), ambas integradas ao mesmo capim Massai. 

“Mas temos por vir, ainda, outras novidades”, diz Marcelo Vieira, com a aprovação do consultor Raimundo Reis, que não esconde sua alegria por ver o rápido e consistente avanço do projeto, todo ele em sequeiro (dependendo só da água da chuva). 

Neste ano, a pluviometria de Boa Viagem foi considerada excelente. A do próximo ano dependerá da extensão do fenômeno El Niño, que, segundo os organismos internacionais de monitoramento do clima, já chegou às regiões Norte e Nordeste do Brasil.

Raimundo Reis faz questão de deixar claro que o projeto em execução na Fazenda Triunfo “é para a produção de forragem que será vendida ao produtor de leite”. Ele diz e o fazendeiro Marcelo Vieira repete que “a fazenda é uma empresa especializada na produção de volumosos”.

Marcelo Vieira adianta que a meta do projeto é, no prazo de quatro anos, cultivar volumosos em 400 dos 790 hectares de sua propriedade. 

Para isso, ele – estimulado pela consultoria de Raimundo Reis – está inovando, pois utiliza não as tradicionais culturas – como as do sorgo e do milho, com as quais colheu só prejuízos por culpa da seca que castigou o Ceará todo – mas as novas culturas, que têm respondido com alta produtividade e em pouco tempo.

No ano passado, com chuvas praticamente em todos os meses do ano, a produção e a produtividade foram consideradas excepcionais: houve dois ciclos de cultivo e colheita.

Neste ano, a previsão de Marcelo Vieira é produzir duas mil toneladas de palma forrageira e mais 500 toneladas dos outros produtos – capim Massai, pornunça, gliricídia e a “parte aérea” (os ramos e folhagens) da mandioca, tudo isso nos 50 hectares plantados hoje.

Para Raimundo Reis, o exemplo da Fazenda Triunfo, em Boa Viagem, tem tudo para ser multiplicado em outras propriedades do entorno. Ele chama a atenção para o que denomina de “doce problema”: o da colheita. 

Como a produção é alta e em ciclos curtos, o produtor tem de estar atento à tarefa da colheita no tempo certo.
 
Por sua vez, o fazendeiro Marcelo Vieira adverte que, como cada imóvel rural tem suas próprias características de solo, que variam de propriedade para propriedade, o correto será buscar a melhor e mais adequada tecnologia de correção, “sendo, porém, fundamental para isso a mecanização”. 

Ele acrescenta:

“Não dá para pensar num projeto como este sem a utilização de equipamentos e de tecnologia adequados, e nós, aqui na Fazenda Triunfo, dispomos dessa estrutura de equipamentos e dessa tecnologia. Nós utilizamos a própria matéria orgânica da vegetação para fazer a adubação do solo. Quando fazemos o desmatamento, nós utilizamos todos os arbustos, que são material orgânico, para adubar o solo.” 

E conclui:

"Nós não fazemos queimadas”.