Um empresário cearense, que acompanha os avanços nacionais e mundiais da Tecnologia da Informação (TI) transmitiu ontem a esta coluna uma mensagem clara de crescente preocupação com o que chama de “falta de interesse” da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Secitece) pelo desenvolvimento do setor.
E revelou um detalhe que expõe a gravidade da questão: “O Governo do Estado tem um Conselho Superior de TIC que quase não se reúne, sendo esta uma das razões desse incrível esquecimento e surpreendente distanciamento”.
Na sua preocupação, ele também envolveu o empresariado, ao formular as seguintes perguntas: “Como está o domínio das bigtechs sobre o nosso estado? Quais são os planos de investimentos do Governo do Ceará para desenvolver seu ecossistema de TI? Onde está o planejamento estratégico de Tecnologia para o Ceará?”
E acrescentou: “Onde estão os empresários de TI do Ceará? Onde se reúnem para avaliar e criticar os planos do governo? Quanto por ano fatura a Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará (Etice)? De onde vem sua receita e para onde ela vai?”
A mesma fonte fez uma revelação surpreendente: “Em Quixadá, no Sertão Central do Estado, o campus da UFC ministra, por meio da inteligência de 48 professores-doutores, seis cursos de TI para uma garotada superinteligente, parte da qual já trabalha para empresas multinacionais – comunicando-se em inglês.”
Resumindo: tudo isso está acontecendo – e não é de hoje – à revelia da Secitece, pois não se conhece um plano estratégico de Tecnologia e Inovação do governo estadual que possa absorver essa mão de obra especializadíssima que o sertão está despejando no mercado de trabalho tecnológico do Brasil e do mundo.
O dono de uma das grandes empresas de informática do Ceará disse a esta coluna, há dois anos, que perdeu para uma corporação norte-americana dois dos seus melhores e mais brilhantes funcionários.
“Esses dois meninos são desenvolvedores de sistemas e se transferiram para uma empresa dos Estados Unidos, que lhes paga três vezes mais do que eu pagava, e com uma vantagem: eles não precisaram emigrar, pois trabalham em sua casa, aqui em Fortaleza”, contou o empresário.
O vizinho estado de Pernambuco – graças à união de sua Universidade Federal (UGPE) com o seu governo estadual e com sua iniciativa privada – criou, no ano 2000, o Porto Digital do Recife, que hoje é fonte de referência nacional quando se fala de Tecnologia da Informação.
O exemplo pernambucano poderia ser replicado aqui. Só para contextualizar a questão: a próxima instalação do Hub do Hidrogênio Verde no Complexo Industrial e Portuário do Pecém exigirá mão de obra altamente qualificada, principalmente no campo da TI. Pois essa mão de obra já está sendo formada no calor saariano do Sertão Central cearense.
Pelo que se lê e ouve, por enquanto só empresas estrangeiras descobriram essa fonte geradora de inteligência em Quixadá. O Governo do Ceará e sua Secitece parecem adormecidos diante do que se passa ao seu redor, conforme aduz a mensagem da fonte desta informação e deste comentário, aturdida com a inação das autoridades responsáveis pela Ciência e a Tecnologia da Informação.
Deve ser lembrado que ainda é o Ceará a única unidade da Federação a dispor de um Cinturão Digital, o que quer dizer que toda a geografia cearense está enlaçada por uma rede de fibra ótica que lhe garante uma condição excepcional para a perfeita comunicação entre seus 184 municípios.
Enfrentando, pela primeira vez nos últimos 30 anos, dificuldades financeiras – resultado de gastos superiores à receita – que o impedem de ampliar seus investimentos, o governo estadual cearense, na atual gestão, ainda não jogou luz na área de C&T. Mas pretende fazê-lo agora, e esta é a boa notícia que chega.
Esta coluna pode adiantar, com base em informação obtida ontem à noite junto a uma fonte do Palácio da Abolição, que o governador Elmano de Freitas tomou – ele mesmo – a iniciativa de buscar líderes da comunidade empresarial do setor de TI para uma conversa que poderá resultar na construção de novos caminhos para as duas partes.
“O governador e o empresariado da área de TI querem essa conversa, e dela poderá sair a luz de que os dois lados precisam para erguer a ponte do entendimento”, disse a fonte palaciana.