Ontem, foi mesmo uma super quarta-feira na economia e na política.
Para começar, logo de manhã surgiu uma denúncia da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja, cuja sigla é CervBrasil, segundo a qual a Ambev, dono das mais famosas marcas de cerveja e refrigerantes do país, praticou manobras tributárias que resultaram num rombo de R$ 30 bilhões.
Os principais acionistas da Ambev são Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, os mesmos que detêm 30% do capital da Americanas, em cujas contas apareceu, no dia 11 de janeiro, uma inconsistência contábil de R$ 20 bilhões, a qual, no dia seguinte, saltou para R$ 40 bilhões.
Segundo a denúncia da CervBrasil, a Ambev usou de artifícios para inflacionar o preço dos insumos necessários à produção de suas bebidas na Zona Franca de Manaus, o que gerou isenção e geração de créditos fiscais para além do que a legislação permite.
Imediatamente após a divulgação da notícia, as ações da Ambev passaram a cair no pregão da Bolsa de Valores B3, fechando o dia com desvalorização de 3,51%, cotadas a R$ 13,18. A queda não foi maior porque a Ambev distribui um comunicado desmentindo a informação.
Na nota, a Ambev declara: “Calculamos todos os nossos créditos tributários estritamente com base na lei. Nossas demonstrações financeiras cumprem com todas as regras regulatórias e contábeis, as quais incluem a transparência do contencioso tributário. A Ambev está entre as cinco maiores pagadoras de impostos no Brasil.”
No meio da tarde, saiu outra informação, a de que esse rombo de R$ 30 bilhões se refere a todas as indústrias de bebidas da Zona Franca de Manaus e não apenas à Ambev, o que ajudou a reduzir a queda dos papeis da empresa. O caso, porém, é escandaloso e será objetivo de investigação da Comissão de Valores Mobiliários, da Receita Federal e da Polícia Federal.
Quase simultaneamente com a divulgação dessa notícia, surgiu outra que repercutiu rapidamente no mercado: a operadora de telefonia Oi, que há pouco mais de um mês saiu de uma Recuperação Judicial que durou seis anos, entrou ontem na Justiça do Rio de Janeiro, pedindo uma medida liminar de proteção preventiva contra credores, o que pode causar “risco iminente de dano irreparável”. Por isto mesmo, a Oi diz na petição que a liminar é necessária até que a empresa entre com novo pedido de Recuperação Judicial.
O motivo de tudo isso é o seguinte: no próximo dia 5, ou seja, no próximo domingo, vencerão compromissos no valor de R$ 600 milhões, dinheiro que a Oi não tem. A dívida total da OI é de R$ 29 bilhões.
Para animar ainda mais a super quarta-feira, o Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, aumentou em 0,25% a taxa de juros da economia norte-americana, em linha com o que aguardava o mercado. Mas no comunicado distribuído após a decisão, o FED diz que poderá subir de novo a taxa de juros em sua próxima reunião, daqui a 45 dias.
E já no comecinho da noite de ontem, o Copom – Comitê de Política Monetária do Banco Central – anunciou que manteve em 13,75% a taxa de juros básico Selic, algo também esperado pelo mercado.
Mas, no comunicado distribuído à imprensa, o Copom revela que sua decisão reflete a incerteza do cenário de futuro próximo da economia nacional, com riscos maiores para a inflação. E afirma que a manutenção da taxa Selic está em linha com a política de convergência da inflação para o redor da meta neste ano e em 2024.
O comunicado ressalta ainda que há “incerteza no âmbito fiscal”, ou seja, o Copom está preocupado com a política de gastos do governo do presidente Lula. E reafirma que o Comitê conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas.
Todas estas notícias levaram a Bolsa de Valores B3 a fechar em queda de 1,20%, aos 112.073 pontos. E o dólar também caiu, fechando o dia cotado a R$ 5,06, um recuo de 0,37%.
E para terminar: ontem, foram reeleitos o presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira, e o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco. Lira, que era aliado do presidente Bolsonaro, agora é aliado do presidente Lula; Pacheco manteve a aliança com Lula, que agora tem o apoio do Congresso Nacional para aprovar as reformas de que o país precisa.
Espera-se, então, que os três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – deixem de lado as divergências e comecem a trabalhar pelo bem do Brasil e dos brasileiros.