Projeto que já deveria estar concluído e em plena operação – entre o início de sua construção, em 2006, e o estágio em que se encontra hoje, já se passaram 17 anos, tempo que a China consumiu para construir sua gigantesca malha ferroviária de mais de 12 mil quilômetros de linhas permanentes só para a circulação dos seus trens de alta velocidade – a Ferrovia Transnordestina é, ainda, um sonho que se sonha só.
Mas, segundo a própria empresa que executa suas obras de construção – a Transnordestina Logística S/A (TLSA) – ainda demandará mais quatro anos até que seus trens circulem pela sua linha permanente de bitola larga.
Quando isto acontecer, estará realizado um dos dois sonhos mais antigos do Nordeste e dos nordestinos – o outro é o Projeto São Francisco de Integração de Bacias, que sofre do mesmo mal: falta de recursos, deletéria influência do que a política e os políticos têm de mais lamentável, carência de planejamento estratégico nacional, interesses escusos transversais, enfim, tudo o que não existe em países sérios, como os nórdicos, por exemplo.
Diante do que acima está exposto, não chegou a surpreender a Nota de Esclarecimento que a TSLA transmitiu a esta coluna na manhã de ontem, a respeito das informações dadas pelo superintendente da Sudene, Danilo Cabral, que, na véspera, dissera, em entrevista à imprensa, o que se segue:
“Essa obra está sendo retomada pelo governo do presidente Lula. Nós vamos avançar para concluir essa obra, tanto o trecho de Salgueiro até Pecém, remanescente do contrato anterior, quanto o trecho paralelo, que liga Salgueiro a Suape. São dois portos importantes. Os dois trechos serão retomados. Estamos fechando uma discussão em torno, digamos assim, da equação de recontratação de aditivos que precisam ser feitos, de avaliação do que precisa. Há um número que fala em torno ainda de R$ 7 bilhões para concluir o trecho daqui (do Ceará) e R$ 5 bilhões para concluir o trecho de Pernambuco”.
Em menos de uma hora, esta coluna recebeu mensagem da TLSA, deixando claro que o projeto da Transnordestina, de acordo com o aditivo celebrado com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e aprovado pelo pleno do Tribunal de Contas da União (TCU), não contempla sua ligação com o Porto de Suape, em Pernambuco.
O superintendente da Sudene é um político pernambucano, assim como o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, citado por ele como a autoridade que decidiu concluir o trecho da Transnordestina na geografia de Pernambuco. A decisão de Lula está politicamente correta. E o que disse Danilo Cabral, também.
Na nota que transmitiu a esta coluna, a TLSA diz que o projeto da Ferrovia Transnordestina “foi dividido em duas fases, sendo a fase 1 de São Miguel do Fidalgo, no estado do Piauí, até o Porto de Pecém, no estado do Ceará, e a fase 2, de São Miguel do Fidalgo até Eliseu Martins (PI)”.
E a Transnordestina Logística deixou bem clara a questão, ao acrescentar mais um parágrafo, que é o seguinte:
“O orçamento total das duas fases é de R$ 7,8 bilhões, sendo R$ 6,3 bilhões para fase 1 e R$ 1,5 bilhão para fase 2.”
Está claro que, além do aspecto econômico-financeiro do empreendimento, há o aspecto político, no qual está inserido o próprio presidente Lula, que, a esta altura do campeonato, precisando de consolidar seu prestígio e popularidade em sua região de origem, decidiu atrair para o seu governo a tarefa de implantar o trecho pernambucano da Ferrovia Transnordestina.
A Transnordestina Logística, para a conclusão do trecho Salgueiro-Pecém em andamento, depende da liberação de recursos oriundos de fundos públicos, como o Finor e o FNDE, razão pela qual está focada no contrato de aditivo que celebrou com a ANTT e aprovado pelo plenário do TCU, e este estabelece o Porto do Pecém como destino da Ferrovia Transnordestina, cujo quilômetro zero está em São José do Fidalgo, no Piauí.
Traduzindo: o Porto de Suape está fora desse contrato, mas isto não impede que o governo Lula invista, como está decidido a investir, na construção do trecho Salgueiro-Suape, com o qual atrairá, naturalmente, toda a produção do Polo Fruticultor e Exportador de Petrolina/Juazeiro e também do minério de ferro do Oeste daquele estado para o porto marítimo pernambucano.
Conhecendo de cor e salteado os meandros e as curvas da política brasileira e levando em consideração as dificuldades que até agora mantiveram em ritmo lento as obras da Ferrovia Transnordestina, esta coluna passa a admitir que o trecho Salgueiro-Porto de Suape será concluído antes de que fique pronto o trecho Salgueiro-Porto do Pecém.