Por causa do agravamento da situação no Oriente Médio que escalou ontem, 14, com o forte ataque do Irã a Israel – com drones e mísseis – o preço internacional do petróleo do tipo Brent, produzido no Mar do Norte e referenciado pela Petrobras, que até a semana passada beirava os US$ 90 por barril para entrega em junho, deverá subir nesta segunda-feira. É o que preveem especialistas do mercado de óleo & gás.
Essa alta pressionará a Petrobras no sentido de elevar o preço dos combustíveis no mercado interno brasileiro, que opera, segundo a Abicom – Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Combustíveis – com uma defasagem perto de 20% no caso da gasolina e de 13% em relação ao óleo diesel, informação confirmada por consultorias do setor.
Neste momento, o preço do litro da gasolina, em Fortaleza, varia de R$ 5,36 no posto de serviço localizado na esquina das ruas Torres Câmara e José Lourenço (este era o preço no sábado, 13), até R$ 5,79, em outros postos. Havia um mês, esses preços variavam de R$ 5,99 a R$ 6,19. Em todas essas situações, isto é, vendendo com preço alto ou baixo, o dono do posto e as distribuidoras recolheram e seguem recolhendo um bom lucro.
Mandar para cima os atuais preços da gasolina, do óleo diesel, do gás e do Querosene de Aviação (QAV) será aplicar uma injeção de populismo na veia da inflação. E outra de impopularidade na jugular do governo, o que ampliará a crise interna no Palácio do Planalto, onde os ministros da casa gostariam muito de trocar o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates – que caiu nas graças do mercado – por alguém que, mesmo sendo técnico, aceite a orientação do acionista majoritário na direção de segurar os atuais preços dos combustíveis.
O Brasil é, desde 2017, autossuficiente em petróleo: produz pouco mais de 3 milhões de barris por dia, para um consumo diário de 2,5 milhões de barris. O que sobra é exportado.
Ora, se é assim, por que o país importa combustíveis? Resposta: porque a Petrobras deixou de investir no seu parque de refino. E as refinarias existentes – quase todas da estatal – são tecnologicamente atrasadas, exigindo altos investimentos, como os que ela começa a fazer para modernizar algumas de suas unidades, como a Abreu e Lima, operando a meia bomba no Nordeste, na geografia do município pernambucano de Ipojuca.
Essa unidade teve, na sua origem, a promessa de participação da PDVSA – Petróleo de Venezuela S/A, o que não aconteceu, e os especialistas dizem “graças a Deus”. Dessa promessa ficou só mais um grande prejuízo para a Petrobras (afora os que a Lava Jato descobriu).
Está hoje diante do presidente da República, do ministro de Minas e Energia e do presidente da Petrobras o novo cenário do mercado mundial do petróleo, diretamente impactado pela escalada da guerra no Oriente Médio.
Se os preços do petróleo subirem hoje – e ontem a tendência era nesse sentido – em algum momento a decisão de majorar o preço dos combustíveis aqui terá de ser tomada, sob pena de prejudicar a Petrobras e, pior, inviabilizar dezenas de empresas importadores de gasolina e óleo diesel (elas importam pagando o preço internacional e têm de vender aqui pelo preço estabelecido pela Petrobras, que é cerca de 20% menor). E aí a consequência será a imediata desvalorização das ações da maior empresa brasileira, cujo valor de mercado chegou, no dia 2 de fevereiro deste ano, a R$ 552 bilhões.
Para tornar mais cinzento ainda as cores do cenário, é preciso salientar que o conflito no Oriente Médio também terá impacto na economia dos EUA, uma vez que o Federal Reserve prorrogará de novo o início do ciclo de redução dos juros, o que fortalecerá o dólar que já está supervalorizado, e esta é outra hipótese ruim para a economia do Brasil e dos países emergentes.
Em março passado, a inflação oficial brasileira medida pelo IPCA do IBGE cravou 0,16%, surpreendendo o mercado, que previa 0,25%. Uma mexida para cima nos atuais preços da gasolina, do óleo diesel e do QAV terá como resultado um IPCA maior neste mês de abril e maior ainda em maio. E o que está ruim poderá piorar para o governo e, rápida e principalmente, para os consumidores.
Deve ser lembrado que este é um ano eleitoral: o governo e o PT querem eleger seus prefeitos nas capitais e no maior número possível de municípios Brasil adentro; a oposição tem o mesmo objetivo, e será fortemente ajudada pelo próprio governo, se este – por absoluta necessidade de política econômica – decidir por nova alta do preço dos combustíveis.
Eis aí o que, na linguagem popular, se chama de sinuca de bico.