Foi uma maratona de quase quatro horas o Fórum Nordeste que, promovido pelo Lide Ceará, debateu ontem no Hotel Gran Marquise, em Fortaleza, sobre “Desafios e Oportunidades de Investimento Sustentável na região Nordeste”.
No final das palestras e debates, emergiu a constatação de que o Brasil – o Ceará no meio – e o mundo estão mudando mais rapidamente do que se imaginava, e a transição para a economia de baixo carbono é meta hoje de governos e de empresas privadas.
Tudo começou às 11 horas. Executivos do Banco do Nordeste, ouvidos com muita atenção por um grupo de empresários do qual fazia parte Igor Queiroz Barroso, acionista e membro do Conselho de Administração do Grupo Edson Queiroz, revelaram que o BNB está integrado ao esforço de descarbonização do planeta, razão pela qual todos os projetos de financiamento submetidos agora à análise da área técnica da instituição têm, obrigatoriamente, de apresentar um “compliance” de gestão ambiental. Ou seja, têm de mostrar sua sustentabilidade.
Eles revelaram que, em 2023, o BNB financiou, com recursos do FNE, R$ 42 bilhões projetos para as diferentes área da atividade econômica regional, dos quais R$ 7 bilhões se destinaram à geração de energias renováveis – eólica fotovoltaica e eólica onshore (em terra firme). E fizeram uma importante revelação: o FNE já não é mais suficiente para atender à crescente demanda do setor produtivo dos nove estados nordestinos e mais o Norte de Minas Gerais e o Norte do Espírito Santo, que são a geografia de atuação do banco.
Por esta razão, a alta direção do BNB está buscando novas fontes de financiamento, para o que mantém tratativas com instituições nacionais, como o BNDES, e com organização multilaterais, como o Banco Mundial e o BID, e com a Agência Francesa de Desenvolvimento, com a qual trata de obter um empréstimo de 300 milhões de euros. Igualmente, o BNB busca vários fundos, como o FIagro, destinado ao financiamento de projetos do setor da agropecuária nordestina.
A maratona do Fórum Nordeste prosseguiu ao meio-dia em outro espaço do Gran Marquise – um amplo e belo salão onde, em forma de U, dezenas de mesas foram arrumadas para receber cerca de 80 pessoas, a maioria empresários, que almoçaram e ouviram, primeiro, um discurso da presidente do Lide Ceará, Emília Burque, saudando-as. Depois, veio a fala do presidente do Banco do Nordeste, Paulo Câmara, que expôs o que sua instituição tem feito para cumprir os princípios ESG – no social, no ambiental e na governança.
Ele lamentou que, ainda hoje, o Nordeste, com um terço da população do país, segue respondendo por apenas 14% do PIB nacional, mas logo entrou no tema principal do Fórum, ao expor as oportunidades que a região oferece a quem quiser nela investir. Paulo Câmara citou o Plano Safra 2024/2025, que prevê a aplicação, somente no Nordeste, de R$ 20 bilhões.
Depois, o presidente do BNB disse que o Nordeste é o domicílio das energias renováveis, principalmente a solar fotovoltaica e a eólica, graças ao sol e aos ventos abundantes nesta região. E, com ênfase, anunciou que a região nordestina será um dos principais polos produtores do Hidrogênio Verde do Brasil e do mundo.
No final do seu pronunciamento, Paulo Câmara disse que, hoje, há um “compliance” mundial focado em um novo padrão de políticas ambientais e na descarbonização do planeta. E o Brasil, com sua indústria e seu agro modernos, acrescentou ele, está pronto para enfrentar os novos desafios.
Em seguida, falou Aldemir Freire, diretor de Planejamento do BNB, que, potiguar de nascimento, disse sentir inveja das lideranças empresariais do Ceará, que estão sempre à frente dos debates e das iniciativas que dizem respeito ao desenvolvimento sustentável de sua economia. Ele deu vários números que provam o crescimento da região Nordeste, que é estimulado pelos financiamentos do BNB.
Depois, falou o empresário Beto Studart, cujos empreendimentos imobiliários têm recebido selos de qualidade de instituições certificadoras internacionais. Declarou-se “um partícipe” da história recente do desenvolvimento econômico do Ceará, tendo conhecido todos os tipos de residências do cearense – desde a casa de taipa, que hoje não existe mais, “graças Deus”, até as mais modernas edificações.
Studart elogiou o empresário Lauro Fiúza, sentado na mesma mesa principal do Fórum, que “aproveitou o sol, antes um adversário do nosso progresso, e os ventos, ambos presentes da divina natureza, para produzir energia”, o que revela “o poder da criatividade e da inovação do cearense”.
Beto Studart falou dos seus empreendimentos, citando o edifício comercial BS Design, que recebeu a certificação internacional LEED de qualidade e sustentabilidade, como um marco da arquitetura e da engenharia sustentáveis.
Ele passou a palavra à arquiteta e urbanista Raquel Antonini, que, além do BS Design, se referiu ao BS Gold, um condomínio residencial de alto padrão, em construção, que já recebeu a certificação internacional Edge. E revelou que o BS Steel, em projeto, já busca a certificação LEED.
Antonini, que integra os quadros técnica da BSpar, também informou que no Brasil há 504 empreendimentos com certificação LEED, dos quais apenas 28 estão no Nordeste e 6 no Ceará, sendo que só um tem o selo Gold, que é o BS Golden.
O empresário Lauro Fiúza, fundador do Grupo Servtec, falou em seguida e contou a história de sua empresa, que, fundada em 1969 para projetar e instalar centrais de ar-condicionado, é hoje uma das gigantes nacionais do setor de geração de energia. Narrou o que chamou de “fracassos”, que consolidaram seu caráter e sua formação moral, e dos “sucessos”, que foram resultado do seu casamento com “bons e confiáveis sócios nacionais e estrangeiros”.
Carlos Rotella, CEO do Grupo Edson Queiroz (GEQ), falou depois e disse que há três anos sua organização passou a tratar dos princípios ESG, primeiro com a cautela de quem queria saber se não se tratava de “um modismo”. Não era e nem é um modismo, já está provado e comprovado, e por isto mesmo a questão entrou nas prioridades do grupo.
O GEQ, sob sua liderança, buscou a evolução na governança, e hoje esta é uma questão já bem resolvida, bem estruturada. Desde então, foi desenvolvido um processo que privilegiou a segurança, a saúde e o meio ambiente. Assim, as empresas do GEQ passaram a fabricar produtos ecoeficientes, como refrigeradores e fogões com menos aço e menos produção de carbono; embalagens recicláveis, como latinhas para suas águas minerais; e logística reversa. E o Sistema Verdes Mares criou e pôs no ar os programas de tevê Mares ao Mar e Terra de Sabidos, ambos de utilidade pública destinados a conscientizar a sociedade para a importância dos princípios ESG.
Rotella disse que “a vocação do GEQ é de ESG”, e afirmou que “nosso foco é a descarbonização; estamos inseridos nesse contexto”. E revelou que o grupo está lançando uma nova plataforma que reduz em três quilos o peso do aço em seus fogões e refrigeradores.
Ele finalizou, informando que o GEQ faz, periodicamente, pesquisas junto aos seus 10 mil colaboradores, dos quais recolhe informações e sugestões de que resultam em novos programas e novos produtos. E apresentou um comercial da água mineral Minalba, no qual um deficiente visual se emociona ao passar a mão sobre a embalagem e descobrir o que nele estava escrito em Braille:
“É uma água mineral com gás!!!” – ele disse quase gritando de alegria.