Foi, como se imaginava, uma super quarta-feira. O dia de ontem, 22, balançou as bolsas de valores do Brasil, dos Estados Unidos e da Europa.
Para começar, no meio da tarde saiu a notícia de que o Federal Reserve, o Banco Central norte-americano, decidiu aumentar a taxa de juros de lá em 0,25%, em linha do que previa o mercado.
Mas o FED foi além: admitiu que os juros subirão mais, se for necessário, de acordo com o comunicado distribuído após a reunião. Resultado: as bolsas caíram.
Pesou na decisão do FED a inflação, que segue elevada para os padrões norte-americanos.
Aqui no Brasil, após a reunião do FED, as atenções voltaram-se para o Comitê de Política monetária do Banco Central (Copom), que decidiu, em sua segunda reunião deste ano, manter inalterada a Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, em 13,75% patamar na qual se encontra desde agosto do ano passado.
Foi uma decisão tomada pela unanimidade dos membros do Copom.
Imediatamente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad pronunciou-se a respeito. Ele disse aos jornalistas que o comunicado em que o Copom anuncia a manutenção da taxa de juros Selic “é preocupante”.
Para o mercado, não houve surpresa na decisão do Copom. Para o governo, porém, havia a esperança de que a Selic recuasse 0,25%.
O comunicado do Copom refere-se ao cenário externo, citando o episódio da falência de bancos regionais norte-americanos, como o Silicon Valley, e a crise do europeu Credit Suisse, salvo por uma ação conjunta do governo da Suíça com o UBS, maior banco privado daquele país alpino. Diz o comunicado:
“Os episódios envolvendo bancos nos Estados Unidos e na Europa elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento. Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes da atividade econômica segue corroborando o cenário de desaceleração esperado pelo Copom.”
E acentua o comunicado que “as expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela Pesquisa Focus se elevaram desde a reunião anterior do Copom e encontram-se em torno de 5,0% e 4,1%, respectivamente”.
Durante o dia de ontem, o ministério da Fazenda, tentando influir na decisão do Copom, que saiu à noite, divulgou relatório sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal, indicando que há um grande esforço do governo no sentido de buscar a redução do déficit orçamentário e caminhar para o equilíbrio das contas públicas. Não adiantou: o Copom manteve a Selic em 13,75%, o que dá ao Brasil a mais alta taxa de juros real do mundo.
Na sua rápida entrevista aos jornalistas, o ministro Haddad fez menção às dificuldades que as empresas terão, com juros tão altos, para vender e até para recolher impostos.
Diante de tudo isso, a Bolsa de Valores B3 fechou em queda de 0,77%, aos 100.221 pontos. O dólar recuou 0,21%, fechando o dia cotado a R$ 5,23.
Nesta quinta-feira, o mundo político vai posicionar-se diante da decisão do Copom. Mas é preciso entender que, até agora, o governo não cumpriu sua parte: ainda não divulgou a nova âncora fiscal, e só o fará quando o presidente Lula retornar na próxima semana de sua viagem à China, que começará sábado, 25.
Até lá, permanecerão as incertezas, que terão reflexo no mercado.
Também é preciso entender que, até agora, o governo do presidente Lula ainda não mostrou à sociedade um programa de desenvolvimento econômico e social. Nem como fará para substituir o teto de gastos por uma nova matriz fiscal.
O que até agora tem sido apresentado são fiapos de um tecido que ainda está na tecelagem. Sem o rumo do governo, as empresas – industriais, agropecuárias ou do serviço – adiam investimentos, ou, simplesmente, os cancelam.