Aposentadoria é uma coisa; inatividade é outra terrivelmente diferente

São os aposentados com serviço e os idosos empresários com empresas que devem ensinar aos mais jovens como desviar-se dos apelos à ação sub-reptícia. O caso Americanas é exemplar

Empresário sem empresa é como tetraplégico sem cadeira de rodas, ou maestro sem orquestra. Da mesma maneira que o aposentado sem serviço é o exemplo pronto e acabado do inativo. 

Aposentadoria é uma coisa; inatividade é outra coisa terrível e, lamentavelmente, diferente que pode levar ao Alzheimer. 

A idade do homem não é a imposta pelo calendário, mas pela sua mente. Há homens e mulheres de 80 anos que agem e pensam como garotos de 18. Alguns oitentões aparentam tanta jovialidade que provocam inveja. 

O essencial é que os mais idosos transmitam a experiência que têm aos mais jovens, ensinando-os a enfrentar e a superar os desafios do cotidiano. Isto vale na vida em família e, também, na vida empresarial, principalmente quando chega o momento de promover o processo sucessório. 

Terá maior e melhor sucesso quem, no auge de sua inteligência, souber conduzir a família e a empresa sob os rígidos padrões da ética, do respeito ao concorrente e às regras do mercado, rejeitando, condenando e denunciando qualquer tipo de apelo à ação sub-reptícia.
 
Na vida pública e, também, na vida privada, esses apelos amiudaram não só no Brasil, cujo estamento da política é um arquivo de maus feitos, mas no mundo todo. 

Como diz a antiga propaganda, todos gostamos de levar vantagem em tudo. Aqui, todos – não só noventões e oitentões, mas belos exemplares da juventude – têm sido estimulados à prática da irregularidade.  De que maneira? Pelos exemplos “que vêm de cima”.

Para os que duvidam, uma sugestão: leiam, desde o dia 11 de janeiro passado até agora, sobre o que aconteceu com uma das duas maiores redes do comércio varejista nacional – a Americanas, em cuja contabilidade foram descobertas o que, tecnicamente, se chamou de “inconsistências”, mas que, na verdade e na prática, foi uma fraude, de acordo com o que os credores enganados disseram nos longos e circunstanciados recursos encaminhados à Justiça. 

O caso da Americanas – cujos principais acionistas eram, até a explosão do escândalo, a personificação da genialidade do empresariado brasileiro – é só a ponta de um iceberg que cresce à medida que se avoluma a tendência criminosa da parte suja da elite nacional, e contra o qual é impotente o fenômeno do aquecimento global.
 
O iceberg da corrupção, ao contrário das geleiras do Ártico e da Antártida, é imune à revolta da natureza. Os corruptos são regidos por uma natureza própria, que os protege contra qualquer reação de algum segmento indignado da sociedade. 

O que assoma, o que exaspera, o que encoleriza é o fato de que, no balaio da corrupção, estão juntos idosos e jovens políticos. Mas não só políticos: no meio deles há, no Brasil, empresários, líderes religiosos, artistas famosos, enfim, gente de todas as faixas da pirâmide social.  De todas as idades, dos 18 aos 90 ou mais anos. 

Seria bom se os maduros, os com larga experiência de vida, que já experimentaram de tudo – da corrupção, inclusive, e hoje estão distantes dela – tomassem, com a ajuda dos jovens, a dianteira de um movimento que erga uma nova bandeira, a do bem de todos e felicidade geral da Nação, o mesmo lema que, em janeiro de 1822, levou D. Pedro a tomar a primeira de várias atitudes que conduziram à ruptura do colionizado com o colonizador.

São os aposentados em atividade, são os idosos empresários com empresa que devem, pelo exemplo, transmitir aos mais jovens o ensinamento de como – em casa, no trabalho e em qualquer espaço – empreender pelo caminho da honestidade, do respeito às leis, da obediência às regras sociais, do repúdio ao ilegal. 

São eles a luz de que a juventude precisa para guiar-se pela obscuridade em que o mundo – o Brasil no meio – está metido de alguns anos para cá.