Foi uma cerimônia com pompa e circunstância, digna de uma circunspecta entidade que se dedica à defesa e à propagação da cultura e do bom jornalismo. E tudo começou conforme o ritual acadêmico: uma clarinata executada, literalmente, a plenos pulmões pelo arauto da casa, um homem alto, elegante, todo vestido de preto. Ele soprou um longo clarin, sem pistões, mas cujo som é o mesmo de um trompete, que tem pistões.
Foi assim – e muito mais – que a Academia Cearense de Cultura e Jornalismo (ACCJ) recebeu o empresário Ivens Dias Branco Júnior, eleito a Personalidade Cearense de 2024, ao qual entregou – sob fortes e prolongados aplausos do superlotado auditório – o troféu, o diploma e a medalha correspondentes. Na mesa diretora da cerimônia, estavam, entre outros, os empresários Beto Studart, Personalidade do Ano 2022, e Ricardo Cavalcante, Personalidade do Ano de 2023.
O presidente da Academia, Reginaldo Vasconcelos, abriu os discursos, dizendo, em alto e bom som: “Serei prolixo”. E falou por apenas dois minutos, como se advertisse os demais oradores a replicá-lo. Teve êxito.
O mestre de cerimônia e membro da Academia, jornalista Vicente Alencar, com voz ajustada ao severo ambiente, convidou Ivens Dias Branco Júnior a posicionar-se diante da mesa diretora da solenidade, para receber o título que lhe foi conferido por unânime decisão dos acadêmicos da ACCJ.
Em seguida, convidou a benemérita da instituição Graça Dias Branco e o também benemérito Beto Studart a ladearam o homenageado. Sob novos, fortes e demorados aplausos, Ivens Júnior apossou-se do título. Depois, falou.
Ivens começou dizendo que estava ali com sentimento de gratidão e humildade. E afirmou que “receber este título é uma honra que transcende o plano pessoal”. E prosseguiu, afirmando que M. Dias Branco, da qual ele é o CEO, “é fruto de um sonho do meu avô, Manoel Dias Branco, que plantou as bases do que a empresa é hoje”.
Ele destacou o papel do seu pai, o saudoso M. Dias Branco, que expandiu a empresa, abriu o seu capital e a transformou na líder do mercado brasileiro de massas e biscoitos, com fábricas no Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e, também, em Montevidéu, no Uruguai. M. Dias Branco tornou-se internacional e seus produtos são exportados para vários países. A empresa emprega, formal e diretamente, 15 mil pessoas, e sua atuação é obediente aos rigorosos padrões de sustentabilidade estabelecidos pela ONU.
Ao concluir sua fala – que demorou sete minutos – Ivens Júnior citou o maior romancista brasileiro, o cearense José de Alencar, para quem o sucesso “nasce do querer e da persistência em alcançar os objetivos”. Foi novamente muito aplaudido.
A cerimônia prosseguiu. Antenor Barros Leal, um cearense que há 50 anos mora no Rio de Janeiro sem perder o vínculo com sua terra natal, recebeu o título de benemérito da Academia. Ao falar por cinco minutos, elogiou os empresários cearenses, que tornaram a economia estadual um polo de muitas coisas, o último dos quais está chegando, que é o Hub do Hidrogênio Verde do Pecém. E concluiu lembrando que esses empresários tiveram pais que os tiraram da cama cedinho da manhã, todos os dias, e os levavam à escola.
O mestre de cerimônias convidou Carlos Rubens Alencar, um empresário da mineração, presidente do Sindicato da Indústria de Mármores e Granitos do Ceará e um homem dedicado à literatura. Sob aplausos, ele foi empossado na Cadeia 11 da ACCJ, cujo patrono é Gustavo Barroso – um gigante cearense do século passado, tendo nascido no século anterior – que foi advogado, professor, museólogo, político, contista, folclorista, cronista, ensaísta e romancista.
Em seguida, Vicente Alencar convidou José Alves Brasileiro, outro empresário, que recebeu o título de benemérito da Academia. Brasileiro. Ele é do setor de transporte. Trabalhou por muitos anos na Natura, cujos diretores o incentivaram a abrir uma transportadora para transportar os produtos da empresa. Hoje, ele não apenas transporta o que a Natura produz e vende, mas também atende a várias empresas cearenses e de outros estados do Nordeste.
Fechando os discursos, Lúcio Alcântara – que já foi deputado, senador e governador e é um dos mais respeitados intelectuais do Ceará – prometeu um pronunciamento curto, arrancando risos discretos do público presente. Citou os homenageados, mas fez questão de focar seu improviso na família Dias Branco, enaltecendo o patriarca Manoel Dias Branco, o fundador, e seu filho Ivens, que tornou a empresa M. Dias Branco uma das maiores do Brasil.
Alcântara referiu-se à D. Consuelo Dias Branco com palavras carinhosas, chamando-a de agregadora, conduzindo com sucesso e rapidez o processo de sucessão na família. Por fim, Lúcio Alcântara parabenizou Ivens Júnior pelo excelente trabalho que desenvolve à testa de M. Dias Branco.
Quando Lúcio Alcântara concluiu seu discurso, o público o aplaudiu de pé. A bela e grave cerimônia durou apenas 90 minutos.