Para que serve o dia 29 de fevereiro no ano bissexto

Se não fosse adicionado esse dia, depois de 120 anos, as estações se atrasariam em um mês e não poderíamos marcar no calendário para colher

Uma vez fui convidado para visitar uma enorme plantação de melão, na Bahia, de uma importante empresa do agronegócio internacional. Percorremos um longo percurso de carro durante várias dezenas de minutos sem sair de uma das fazendas. Tudo era muito bem planejado e organizado, principalmente o tempo. Em fevereiro, é necessário preparar o solo com tratores e fertilizantes. O plantio das sementes ocorre em julho e a colheita em setembro. Graças ao nosso calendário muito bem montado, esse planejamento pode ser repetido a cada ano. Se não fosse a adição do dia 29 de fevereiro no ano bissexto, esse planejamento seria muito mais complicado.

A explicação está no movimento da Terra ao redor do Sol. Você já deve ter observado que, em diferentes meses, o Sol se põe em pontos distintos no horizonte. Em dezembro, ele se põe mais à esquerda e, em junho, mais à direita, conforme a figura abaixo.

O Sol volta a se pôr no mesmo lugar depois de 365 dias e 6 horas. Por isso o ano tem 365 dias. Essa maneira de definir o ano é chamada de "ano trópico" porque marca o dia em que o Sol volta para o mesmo trópico.

Porém, essas 6 horas que sobram a cada ano vão se acumulando e depois de 4 anos temos 24 horas sobrando, ou seja, um dia. Daí devemos acrescentar um dia no calendário que passa a ter 366 dias, o ano bissexto

Observe nos dígitos "366" aparece duas vezes (bi) o número 6 (sexto). Porém, a origem do nome é mais complexa. É uma referência aos calendas, assim chamado o primeiro dia de cada mês dos calendários romanos. Em 46 antes de Cristo, o imperador Júlio Cesar mandou repetir o sexto dia antes do calendar.

Antigamente, se repetia o sexto dia antes do calendar, por isso foi chamado de bissexto o ano com um dia a mais. 

Para saber se um ano é bissexto, basta ver se os dois últimos números do ano são divisíveis por 4. Esse ano é bissexto, pois 24 por 4 é 6, uma divisão exata. 

Se não fosse adicionado esse dia, depois de 120 anos, as estações se atrasariam em um mês e não poderíamos marcar no calendário para colher, por exemplo, melões em setembro, a colheita ficaria para outubro. Na verdade, toda a vida seria afetada.  

Eu gosto de observar o nível do reservatório do açude Castanhão que costuma atingir seu máximo no fim de maio e início de junho. Atualmente, o maior açude do Ceará está com 23,7% da capacidade, o que corresponde a 1.588 hectares cúbicos de água. Estimo que deva atingir cerca de 33% em torno do dia 1º de junho de 2024 mesmo nesse ano de El Niño. 

Não fosse a um calendário bem elaborado com uso do dia 29 de fevereiro, no ano bissexto, pensaríamos que fenômenos sazonais como este se atrasariam quando na verdade seria um erro de calendário

Eu considero o calendário moderno uma verdadeira obra de arte do conhecimento humano, construído com o conhecimento de Astronomia aplicado a diversos setores da vida contemporânea, como nos exemplos citados da Agricultura, Engenharia Hidráulica, Meteorologia e Climatologia (quando observados por mais de 30 anos).