A primeira missão tripulada à Lua ocorreu em 20 de julho de 1969 levando os astronautas Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins. Semanas antes deste evento, estes astronautas treinavam em um deserto com terreno cheio de buracos e pedras, parecido com a Lua. Nessa região de treinamento, viviam povos nativos americanos. Um velho índio chegou e perguntou:
— “O que estão fazendo?”
Os astronautas disseram para o homem que estavam treinando para irem à Lua. Talvez você tenha pensado que o índio não acreditou na história dos astronautas, mas pelo contrário, ele disse:
— Meu povo acredita que a Lua é habitada por espíritos sagrados, vocês podem levar uma mensagem para eles?
— Qual a mensagem? — perguntaram os astronautas.
O índio os fez repetir palavras estranhas do seu dialeto até os astronautas decorarem.
— O que significa? — eles perguntaram.
— É segredo do meu povo e dos espíritos da Lua.
Os astronautas realmente memorizaram, mas eles estavam querendo descobrir o que significavam e procuraram bastante por alguém que entendesse aquelas palavras. Quando finalmente encontraram uma pessoa, o intérprete caiu em gargalhadas. Depois que o tradutor se acalmou, ele finalmente traduziu da seguinte forma:
“Não acredite em uma única palavra do que essas pessoas estão lhe dizendo. Eles vieram roubar suas terras”. (Yuval Harari, 2018, Sapiens)
Essa história cômica ilustra uma discussão que permanece atual após 55 anos deste a missão Apollo 11.
No dia 8 de janeiro de 2024, o foguete Vulcan Centaur foi lançado em direção à Lua. Trata-se de um foguete da iniciativa privada dirigido pela ULA (United Launch Alliance ), com o objetivo principal de levar o módulo lunar Peregrine com 15 experimentos científicos. Dentre eles, um que mede a radiação a partir da superfície lunar. Contudo, o que chamou a atenção foram os restos mortais do astronauta Philip K. Chapman e do cineasta Gene Roddenberry, famoso por ter criado a série Star Trek.
Para o Navajo, a Lua é um território sagrado e eles seriam os descendentes diretos. Então eles enviaram uma nota oficial para NASA informando que consideram levar cinzas mortais ao astro, uma profanação.
Na minha opinião, enviar cinzas de humanos para a Lua é tão supersticioso e místico quanto acreditar nos espíritos da Lua. Então, eu prefiro respeitar a crença dos nativos americanos e não enviar cinzas. Já que os representantes Navajo foram tão educados e civilizados, o mais educado e civilizado seria no mínimo respeitar as crenças dos diferentes povos da Terra e não enviar. A NASA respondeu que tem respeitado a religião dos Navajo, mas não tem controle sobre a iniciativa privada.
Poderia uma civilização reivindicar a Lua baseado em suas crenças? É óbvio que não, pois qualquer um pode usar o mesmo argumento sem se aventurar pela perigosa viagem ao satélite natural da Terra. E se os Navajo enviassem uma astronauta?
Em 2022 a primeira astronauta indígena foi ao espaço a bordo da nave Crew Dragon da SpaceX, Nicole Mann. Ela realizou cerca de 200 experimentos em órbita. Como todo Astronauta, Nicole tem um currículo magnífico. É bacharel e mestre em Eng. Mecânica e ocupou o cargo de coronel dos fuzileiros navais dos EUA. Ela pertence à tribo dos Wailack localizada no norte da Califórnia.
Baseado no costume primitivo dos exploradores da época das grandes navegações de que a terra é de quem chega primeiro, os Navajo até poderiam ter algum direito sobre a Lua, pois são norte-americanos, únicos a enviarem humanos para lá até agora. Contudo, atualmente, a Lua é considerada território internacional como o alto oceano.
Dentre as últimas notícias que tenho antes de publicar esta coluna, há a informação de que houve um vazamento de combustível e isso impedirá a peregrine de pousar em segurança. Ou, pior, talvez não consiga sequer chegar à Lua, o que estava previsto para acontecer no dia 23 de fevereiro. Pois é, meus amigos, parece que os “espíritos da Lua” estão vencendo. Rê! Rê!