Chegamos exaustos ao dia de ontem, de hoje. O fôlego de tantos, literalmente, se perdeu no meio dessa travessia, deixando pessoas órfãs de parentes, de histórias, de sorrisos, de serenidade. Quem por aqui resiste também interrompeu por vezes a respiração para ganhar ar diante do choro, de si mesmo, de outrem. Um atravessamento calcário. E cá estamos. Celebrando a vacina - já podemos? Digam-nos que sim.
Mostrem-nos o caminho da trégua. Essa que parece nos dar fôlego, por meio de uma travessia em que sentimos o interstício entre o abrir e o fechar de uma ferida chamada pandemia.
Ainda não acabou - é fato. Colecionamos verdadeiras chagas ao longo de meses. Foi até preciso costurar brechas na própria carne. Tem sido! Ainda sangram muitos corações, peitos estão abertos. Sequelas em corpos, em multidões. Em silêncio. As marcas aqui estão - aí também, eu sei. Chamas apagaram-se diante da frigidez do inverno criado pelos tantos corpos vivos de almas adoecidas.
Muito já sabemos. De quase nada. Mas algo nos inquieta ante a rotina de incertezas - apesar de muito, de tudo. É quão urgente que tomemos como tarefa primordial a defesa dos discursos de esperança, embasados em verdades, de fato, mas que se coloquem na sociedade a partir de variadas narrativas de coerência, sejam elas em que formato forem; artigos de Ciências, cartas de fé; discursos políticos, poesias, funks, pinturas, silêncios, até.
Porque estamos aqui para sermos um laço único. Uma voz ressonante entre pensar e sentir. Palavras de certezas.
Estamos aqui catando dizeres poéticos para nos fazermos entender no redemoinho político que se tornou a busca pela sobrevivência, de pessoas e de verdade. Justamente porque temos vivido a dura e injusta realidade da desimportância em relação à dor do outro.
Alguns esquecem que o outro somos nós mesmos. São 300 e tantos dias de mortes todos os dias, falências de corpos, mas também de subjetividades. De verdades. Óbitos que alcançam almas na inacreditável e irresponsável rotina de cultivar a desesperança, por meio do que não tem outro nome ou metáfora para que se possa amenizar: mentiras que matam gente e matam crenças.
Mas o tempo de trégua - aquele já citado, almejado, refletido - é isso, apenas para tomar fôlego e seguir viagem. Agora, mais que nunca, convoquemos do Universo todos os elementos que nos deem condicionamento, físico, espiritual, emocional. A poesia precisa estar nas nossas tórridas manifestações. Holofotes a postos. A música tem que gritar.
Nosso trajeto é demasiado político também. E por que não ? Não importa o tamanho dos nossos versos, desde que as palavras sirvam de certezas às multidões. E que as ações não apenas desenhem caminhos, mas cravem em pedras a rota mais segura na tarefa coletiva de construir um discurso uníssono em prol do único lado que agora existe: o sim à vacina contra COVID-19. Ergamos nossos braços para a luta! Quem mais está pronto?