Emmanuel Macron e Marine Le Pen disputam a presidência da França no segundo turno das eleições, no próximo dia 24. Um quer continuar no cargo, a outra quer ocupar a cadeira pela primeira vez. Se fossem os brasileiros a escolher, quem venceria?
A resposta não tem base científica, visto que não há nenhuma pesquisa oficial fazendo a pergunta para cidadãos brasileiros. É apenas um exercício de reflexão.
Emmanuel Macron não é simpático a Jair Bolsonaro. Em 2019, quando o presidente brasileiro endossou uma piada de mau gosto sobre a aparência da primeira-dama francesa, Macron desejou que o Brasil tivesse “um presidente à altura” do cargo.
No mesmo ano, com os graves incêndios que atingiram a floresta Amazônica, o presidente francês reforçou a campanha pela fiscalização da política ambiental brasileira e continua um crítico feroz de Bolsonaro nesse setor.
A entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) está condicionada ao cumprimento de uma série de requisitos, inclusive de preservação ambiental, e precisa da aprovação da França para ir adiante.
Por outro lado, Macron respeita Lula. Em novembro passado, o ex-presidente brasileiro teve uma agenda intensa na França. Um dos compromissos foi um encontro com Macron, em que foi recebido com honrarias oficiais. Os dois discutiram temas “fundamentais” da agenda global, conforme foi divulgado pelo governo francês.
Já Marine Le Pen circula no grupo ideológico de Jair Bolsonaro. Matteo Salvini, da Itália, Viktor Orbán, da Hungria, Vladimir Putin, da Rússia, são alguns dos nomes da extrema-direita com os quais Le Pen dialoga e que contam com o apoio do presidente brasileiro.
No entanto, nem Le Pen parece querer papo com Bolsonaro. Em 2018, quando foi questionada em um programa de TV sobre a corrida eleitoral no Brasil, a francesa disse que Bolsonaro “fala coisas extremamente desagradáveis”.
A declaração foi um ano depois das eleições presidenciais que deixaram Marine Le Pen em segundo lugar e elegeram Emmanuel Macron para o primeiro mandato. Desde a derrota em 2017, ela conseguiu construir uma imagem de mais moderação. A ajuda que faltava para que a campanha de Le Pen em 2022 decolasse veio com a guerra da Rússia na Ucrânia e com o surgimento de um direitista ainda mais radical do que ela.
Na frente de Eric Zemmour, candidato assumidamente racista e xenófobo, Le Pen soou moderada. E diante da demora de Emmanuel Macron para começar a campanha, assoberbado pela diplomacia na tentativa de acabar com a guerra, Marine Le Pen soube ressaltar temas fundamentais para a vida na França.
Como diria o Le Monde, os franceses estão preocupados com o fim do mês, não com o fim do mundo. A guerra incomoda, mas não tanto quanto as questões da economia doméstica. Le Pen pegou nessa bandeira, embora no programa eleitoral dela constem medidas extremistas, como pena de morte, alterações à Constituição e fim da imigração.
No primeiro turno, realizado no último dia 10, o atual presidente teve 27,6% dos votos e Marine Le Pen 23%. Para o pleito final, as pesquisas apontam 54% para Macron, que seria reeleito, contra 46% para a adversária. No entanto, Le Pen vem se aproximando e o cenário é considerado indefinido por alguns analistas.
No Brasil, no cenário da disputa que teria Sérgio Moro como principal candidato da terceira via, a última pesquisa Datafolha indicou 43% das intenções de voto para Lula e 26% para Bolsonaro no primeiro turno. Mas outras sondagens indicam que o atual presidente brasileiro é beneficiado com a ausência do ex-juiz, que desistiu da candidatura, e vem se aproximando de Lula.
Se fosse, hoje, o Brasil a escolher, quem venceria?
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.