A falha que deixou no escuro mais de 530 mil casas em São Paulo acende o alerta sobre a infraestrutura das redes elétricas nas grandes cidades. A crise climática, com eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos, exige das concessionárias, como a Enel, presente tanto em São Paulo quanto no Ceará, uma adaptação urgente.
Na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), dias de chuva já registram interrupções ocasionais no fornecimento elétrico, demonstrando a necessidade de investimentos em tecnologias e soluções para garantir resiliência do sistema elétrico frente às demandas impostas.
No Brasil, as concessionárias são responsáveis pela manutenção da rede elétrica e pelo fornecimento de energia. Já as prefeituras devem garantir a poda e saúde das árvores, embora as distribuidoras também tenham obrigação de cortar galhos que possam comprometer o funcionamento da estrutura.
O setor é fiscalizado e regulamentado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O que precisa ser feito por parte das concessionárias
Para a engenheira de energias renováveis e diretora da Energo Soluções, Marília Brilhante, o apagão foi um exemplo de como esses eventos podem afetar a infraestrutura urbana.
“As concessionárias de energia, diante dessa realidade, precisam urgentemente de um plano que leve em consideração as mudanças climáticas”, avalia. De acordo com ela, deve-se fazer um mapeamento detalhado dos riscos climáticos para cada região, considerando chuvas intensas, secas prolongadas e ventos fortes.
Ademais, a adequação requer melhorias na infraestrutura elétrica, como reforço de postes, redes subterrâneas em áreas vulneráveis e instalação de sistemas de proteção contra raios.
A implementação de sistemas de monitoramento climático e de rede elétrica em tempo real, permitindo respostas rápidas às emergências é uma boa opção. Também é necessário desenvolver e praticar planos de resposta a crises que incluam evacuação, realocação de recursos e comunicação com a população. Além de, claro, promover treinamentos regulares para os funcionários sobre como agir nessas situações”, lista.
Ela enumera três pontos fundamentais para evitar um apagão no Ceará. São eles:
- Investir em modernização da rede elétrica, com foco em áreas mais suscetíveis a eventos climáticos;
- Expandir o uso de energia solar e eólica, que podem ser mais resilientes às condições climáticas extremas;
- Criar microrredes independentes da rede principal em caso de falha, além de sistemas de armazenamento de energia.
Apagão em São Paulo demonstrou despreparo da Enel
A distribuidora Enel precisou levar equipes do Rio de Janeiro e do Ceará para resolver o problema do apagão em São Paulo. Conforme Marília, esse movimento pode indicar uma falta de preparo e planejamento da companhia.
Essa dependência de mão de obra externa sugere que não havia recursos suficientes ou protocolos eficazes para gerenciar a crise localmente. Isso revela a urgência de as concessionárias se prepararem adequadamente, não apenas com infraestrutura, mas também com a capacitação de suas equipes para responder a situações climáticas extremas", enfatiza.
Em nota, a Enel informa ter investido para melhorar a qualidade do fornecimento de energia, dando mais resiliência ao sistema, modernizando a rede e reforçando as manutenções preventivas, no Estado (leia posicionamento abaixo).
O blecaute ocorrido em 11 de outubro deixou, após seis dias, cerca de 36 mil residências ainda sem energia elétrica. O episódio gerou um embate sobre a responsabilidade entre os órgãos competentes, como a Aneel, que possui a função de fiscalizar as empresas do setor.
A Controladoria-Geral da União (CGU), a pedido do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, abriu uma investigação para apurar possíveis irregularidades cometidas por dirigentes da Aneel em relação às interrupções no fornecimento de energia em São Paulo.
Paralelamente, a Aneel estabeleceu um prazo de 60 dias para que a concessionária responsável, a Enel, apresente esclarecimentos sobre o ocorrido.
O que a Enel tem feito no Ceará, segundo a empresa
Segundo a concessionária, o acordo de investimento de R$ 4,8 bilhões, firmado em maio deste ano, prevê a construção de 10 mil quilômetros de rede elétrica e contratação de 1.800 novos profissionais até 2026. Até o momento, foram contratados 528 novos eletricistas.
A Enel também afirma ter um plano de manutenções preventivas para elevar a resiliência na rede no período de chuvas. Conforme a companhia, de janeiro a setembro deste ano, foram realizadas mais de 17 mil inspeções no Ceará, totalizando mais de 240 mil podas e limpeza de faixa sob linhas de distribuição numa área equivalente a 5,1 milhões de quilômetros.
A companhia assegura, ainda, ter instalado mais de 560 equipamentos telecomandados para realizar transferências de carga à distância, diminuindo o tempo de atendimento para os clientes afetados. Outro ponto, acrescentou, é parceria com a Climatempo para acompanhar, por meio de boletins meteorológicos, as previsões para as condições climáticas dos próximos dias.
"Esse acompanhamento é feito dentro do Centro de Operações da companhia, a partir do Sistema de Monitoramento e Alerta, o qual monitora, em tempo real, possíveis eventos climáticos que possam afetar a distribuição de energia, como chuvas, ventos fortes, raios e até queimadas. Dessa forma, a distribuidora consegue se antecipar e redirecionar o seu efetivo em campo, acompanhando a evolução das ocorrências e atuando para agilizar o atendimento", completou.
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