Recebo queixas de famílias enfrentando muitos desafios sobre como agir quando as crianças desobedecem ou têm comportamentos inadequados. Muitos na tentativa de corrigir, recorrem à atitude de tirar algo que a criança gosta, seja brinquedos, celulares ou algum privilégio. Porém, escuto com frequência, “meu filho não tem jeito, ele já está quase sem nada e ainda está repetindo os mesmos comportamentos errados”.
Por que essa medida de correção pode não ser a mais eficaz?
Quando retiramos coisas da criança que acabou de cometer algum comportamento errado, estamos dando ênfase na punição e não na consequência, ou seja, na lição que pode ser aprendida com o comportamento inadequado.
Essa tentativa de correção, normalmente, tem um efeito temporário. Não se sustenta porque não aborda as razões subjacentes para o comportamento inadequado.
A criança não aprende como resolver o comportamento, e acaba o repetindo no futuro.
Normalmente, quando retiramos algo da criança, agimos pelo impulso da nossa raiva ou desapontamento. Portanto, essa medida acaba não tendo uma relação direta e lógica com o comportamento inadequado do pequeno.
Vamos analisar a seguinte situação: a criança bateu no irmão mais novo e por causa disso ficará sem o brinquedo favorito dela. No primeiro momento, a criança até poderá ficar com remorso pelo que fez porque não gostaria de ficar sem seu brinquedo.
Porém, logo em seguida, essa “atitude corretiva” poderá causar confusão na criança e despertar o desenvolvimento de ressentimento e hostilidade, o que prejudicará o relacionamento entre os cuidadores e crianças, ao invés de aproximá-los. A criança interpretará essa retirada como injusta, o que torna o entendimento das consequências do comportamento mais difícil. O que ficar sem o celular ou o brinquedo favorito ensinará sobre o fato de que a criança não pode bater no irmão?
No caso do exemplo que citei, o que seria mais apropriado para educar a criança seria ensiná-la a pedir desculpas ao irmão, a cuidar do machucado que causou e trabalhar essa relação dos irmãos. Assim, seria ofertado para a criança estratégias de corrigir seu comportamento inadequado.
Algo comum que vejo acontecer é que crianças expostas a muitas punições ficam cada vez mais resistentes, porque, infelizmente, vão se adaptando aos castigos. Alguns chegam no momento extremo em que dizem, “pode tirar o que quiser, eu não ligo”.
O que ocorre nesse processo é que, diante de tantas restrições, o foco da criança não é aprender mais o que estava errado. Com essa medida restritiva, a criança acaba absorvendo a raiva, a injustiça, os sentimentos negativos que ela experiencia, e entra em um embate com o adulto. O foco passa a ser “vencer” o adulto que fez isso com ela.
Porém, quando o adulto corrige, apresentando para a criança a consequência direta do seu comportamento, ela aprenderá como o corrigir e terá ferramentas para agir de outra forma, caso se repita. O adulto nesse processo, não será o punidor, mas sim quem fará acontecer a consequência mais direta, facilitando o processo de aprendizado.
É necessário criarmos uma história lógica para corrigirmos de forma saudável a atitude negativa. A criança tirou nota baixa na prova, então precisa estudar mais. Riscou a parede, precisa limpar a parede. Quebrou os brinquedos, está jogando tudo no chão, “então mamãe vai recolher tudo e você só volta a brincar com eles novamente quando se acalmar”.
Disciplinar é ajudar as crianças a resolver os próprios problemas e se autorregularem emocionalmente. E não fazê-las sofrer ainda mais pelo seu comportamento errado. Por isso devemos focar nas consequências e soluções e não nas punições.
Nesse processo de disciplina é importante também focarmos nos comportamentos adequados das crianças. Elogie e recompense o bom comportamento quando ocorrer. Reforçar o que está certo é, muitas vezes, mais eficaz do que focar no que está errado.
O objetivo é ajudar a criança a desenvolver habilidades para lidar com as situações de forma mais construtiva e a aprender lições valiosas para a vida. Lembre-se que o diálogo, a paciência e o acolhimento são essenciais ao lidar com o comportamento infantil.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora