O que leva um jovem a praticar comportamentos de extrema violência?

Diante de tantas notícias de acontecimentos violentos praticados por jovens nos últimos dias, surgem vários sentimentos e questionamentos, sensação de revolta, impotência, desespero e uma pergunta angustiante:

O que leva um jovem a praticar tamanha crueldade?

Embora a agressividade seja instintiva ao ser humano, o comportamento violento tem origem em vários fatores, que podem ser neurológicos, psicológicos, histórico familiar e sociais.

Fatores neurológicos

Vários estudos da psicologia e neuropsicologia, explicam como funciona o cérebro de uma pessoa que pratica atos de extrema violência.

Exames de tomografia feitos em cérebro de assassinos, por exemplo, mostram que há pouca atividade nas áreas do cérebro como o córtex pré-frontal que é responsável pela tomada de decisão, planejamento, e regulação emocional. Essa mesma região, mais especificamente na parte ventromedial, é ativada também quando temos sentimento de empatia e culpa.

Pesquisas sugerem que danos no lobo frontal podem levar a impulsividade, falta de controle inibitório e comportamentos agressivos.

Por outro lado, outras regiões como a amígdala, que está envolvida na resposta emocional e na regulação do medo e da ansiedade, têm grande atividade em pessoas violentas. Nesse caso, ela pode estar hiperativa, levando a pessoa a reações emocionais extremas e comportamentos agressivos.

Além disso, desequilíbrios nos níveis de neurotransmissores, como serotonina, dopamina e noradrenalina, podem estar associados a comportamentos violentos. A serotonina, por exemplo, é um neurotransmissor que ajuda a regular o humor, a impulsividade e a agressão. Da mesma forma, a dopamina e a noradrenalina estão envolvidas na regulação do comportamento.

Fatores psicológicos

Pessoas que sofreram abuso físico, emocional ou sexual na infância podem desenvolver comportamentos violentos como uma forma de lidar com essas experiências traumáticas.

Outra condição psicológica motivadora desses comportamentos, são pessoas que não desenvolveram a habilidade de lidar com emoções intensas, como raiva e frustração, elas podem recorrer à violência como uma forma de expressão.

Além disso, pesquisas apontam que o estresse crônico pode influenciar no comportamento violento dos jovens, pois é uma resposta prolongada do corpo ao estresse, que provavelmente foi desencadeado por diversas situações, como exposição a violência, pobreza, conflitos familiares, entre outros.

Fatores genéticos/histórico familiar

Pessoas com predisposição genética a desenvolver problemas de saúde mental, como transtornos de conduta, transtornos de personalidade ou esquizofrênicos, podem ter um risco maior de comportamento violento.

É importante pontuar que apenas a existência dos genes não é o suficiente para que o transtorno se manifeste, é necessário também a influência de fatores externos como por exemplo uso de drogas e álcool que podem desinibir o comportamento e tornar os jovens mais impulsivos, agressivos e propensos a comportamentos violentos.

Quando investigamos a história de vida de pessoas com esse comportamento, observarmos que houve de alguma forma uma desestrutura familiar. Jovens que foram negligenciados, sofreram abandono afetivo, falta de amor e/ou violência doméstica.

A falta de supervisão adequada dos pais ou responsáveis, ou a falta de orientação e suporte por parte dos adultos, também são fatores que podem contribuir para deixar os jovens vulneráveis a esses comportamentos violentos.

Causas sociais

Várias causas sociais contribuem para comportamentos violentos entre os jovens. Entre elas podemos citar o bullying, a exposição a conteúdos violentos em casa, na comunidade ou na mídia, que podem normalizar a violência e influenciar o comportamento dos jovens.

Estudos desenvolvidos pelo psiquiatra austríaco Rudolf Dreikurs, apontam que o comportamento violento dos jovens pode ser o resultado da falta de pertencimento ao grupo social. O que pode despertar a busca por atenção indevida, por poder, vingança e sentimentos de inadequação.

Outro fator importante é que a busca por aceitação, pode levar o jovem a andar acompanhado por más companhias e a reproduzir os maus comportamentos.

Existem também os jovens que adotam ideologias extremistas, como o racismo, o fanatismo religioso ou político, e podem também ser motivados a realizar atos violentos em nome de suas crenças.

A desnutrição e má alimentação, também podem contribuir para o desenvolvimento de problemas comportamentais e emocionais que podem levar à violência.

Estudos tem mostrado que a desnutrição durante os primeiros anos de vida pode prejudicar o desenvolvimento cognitivo e emocional e afetar a capacidade dos jovens de lidar com o estresse e a frustração, o que pode aumentar a probabilidade de comportamentos agressivos e violentos.

A desnutrição ainda pode afetar a qualidade do sono, o que pode levar a irritabilidade e impulsividade.

A epigenética

É o campo de pesquisa que mostra o quão poderoso são os estímulos ambientais e como eles podem afetar a expressão dos genes, esse estudo mostra que o ambiente em que o indivíduo está inserido é capaz de operar profundas mudanças na estrutura do organismo desse indivíduo.

Ou seja, já é comprovado cientificamente que exposições a fatores como estresse crônico, exposições a traumas, privações de afeto e violência doméstica, afetam a expressão de genes relacionados ao controle emocional e podem levar a mudanças estruturais no cérebro como nas áreas citadas anteriormente relacionadas com o comportamento de extrema violência.

Mas o que os pais, escolas e sociedade podem fazer para evitar e prevenir o comportamento violento dos jovens?

Obviamente essas explicações aqui apresentadas, não tem intenção de justificar o comportamento violento desses jovens. Mas buscar alternativas para ajudar a entender e a prevenir esses comportamentos, pois acredito que o trabalho preventivo é o mais eficaz.

Precisamos ficar alertas para os primeiros sinais de agressividade, falta de empatia, instabilidade emocional, comportamentos violentos e mudanças de humor. Percebendo esses sintomas, os responsáveis devem buscar profissionais especializados como psicólogos e psiquiatras. O tratamento pode incluir terapia, uso de medicamentos, apoio social e educação em habilidades sociais e emocionais.

É importante ressaltar que pessoas que cometeram esses atos, em algum momento de suas vidas, também foram vítimas de violência, e foram negligenciadas em seu sofrimento. Provavelmente se elas fossem tratadas no momento oportuno, as chances de cometerem esses atos seriam reduzidas.

Existem algumas estratégias que se aplicadas, ajudarão muito no trabalho preventivo:

  1.  Ensinar habilidades de resolução de conflitos: Aprender a lidar com situações conflituosas de forma positiva pode ajudar a prevenir comportamentos violentos. Pais e escolas podem ensinar as crianças a lidar com conflitos de forma não violenta, através de atividades como jogos de papéis, resolução de problemas em grupo, entre outros.
     
  2. Promover a empatia e a compaixão: O desenvolvimento da empatia e da compaixão pode ajudar a prevenir a violência, ao encorajar as crianças e jovens a entender os sentimentos e perspectivas dos outros. Pais e escolas podem incentivar comportamentos empáticos, através de atividades que estimulem a cooperação e a colaboração, entre outras.
     
  3. Fornecer acesso a recursos de apoio emocional: Jovens que passam por situações traumáticas ou estressantes podem se beneficiar do acesso a recursos de apoio emocional, como terapeutas, psicólogos, orientadores e serviços sociais. As escolas podem ter programas de aconselhamento ou orientação aos alunos, e os pais podem buscar ajuda profissional quando necessário.
     
  4. Promover a construção de relações saudáveis: Relacionamentos saudáveis e positivos podem ajudar a prevenir comportamentos violentos. Os pais podem encorajar seus filhos a fazerem amizades saudáveis, enquanto as escolas podem incentivar atividades sociais e esportivas que envolvam a colaboração e a construção de laços de amizade.
     
  5. Reduzir a exposição à violência: A exposição à violência, incluindo a mídia violenta, pode aumentar o risco de comportamento violento. Os pais e escolas podem limitar o acesso dos jovens à mídia violenta, enquanto a sociedade pode pressionar para uma redução da violência na mídia e na cultura em geral.
     
  6. Prevenir o bullying: O bullying pode levar a comportamentos violentos, tanto por parte do agressor quanto da vítima. As escolas e os pais podem trabalhar juntos para prevenir o bullying, através de medidas como a criação de ambientes escolares seguros e a promoção de programas de conscientização sobre o bullying.
     
  7. Fornecer educação sobre os perigos do álcool e das drogas: Como dito anteriormente, o consumo de álcool e drogas pode aumentar o risco de comportamento violento. A educação sobre os perigos do álcool e das drogas pode ajudar a prevenir comportamentos violentos relacionados ao uso dessas substâncias.

Essas são apenas algumas das muitas estratégias que podem ser adotadas para prevenir o comportamento violento entre jovens. É importante que pais, escolas e sociedade trabalhem juntos para criar um ambiente seguro e saudável para os jovens, promovendo valores positivos e fornecendo recursos e suporte emocional quando necessário.

A educação e o respeito ao próximo são o fundamento de uma sociedade equilibrada e pacifica. Essa educação e respeito são aprendidos em casa, no seio familiar, reforçar os valores da família, como o amor, o respeito às diferenças e à individualidade, o apoio, compreensão e o acolhimento nos momentos difíceis dos filhos, hoje, podem fazer uma grande diferença positiva na sociedade do futuro.

“ É mais fácil construir crianças fortes do que consertar homens quebrados”.
Frederick Douglas
Escritor

*O texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora