Sabemos que a sociedade atual vem adotando outras configurações familiares que se distanciam do modelo tradicional de família. Esses novos arranjos refletem as mudanças sociais, culturais e econômicas e podem incluir famílias: monoparentais (mães ou pais solo), homoafetivas, famílias mosaico (aquelas na qual o casal já possui filhos de outro relacionamento), multigeracionais (várias gerações convivendo juntas), dentre outros.
Falar sobre esse assunto, ainda gera estranhamento para muitos e levantam questões importantes sobre como diferentes configurações familiares podem influenciar no desenvolvimento infantil, quais os desafios e como os cuidadores podem apoiar as crianças nesse contexto.
Embora esses arranjos sejam enriquecedores, proporcionando para a criança um ambiente mais inclusivo, por outro lado, trazem uma série de desafios que exigem por parte dos membros adaptação, comunicação e muita resiliência.
Principais desafios x Oportunidades de aprendizado
1) Adaptação a novas funções e papéis
Diante dos diferentes arranjos, como em famílias reconstituídas após a separação, famílias multigeracionais ou homoafetivas, a adaptação a novas funções e papéis pode ser um dos maiores desafios.
Desafio: Incluir novos membros como um padrasto ou madrasta exige muita flexibilidade e paciência. As crianças e os adultos precisam redefinir seus papéis e estabelecer novas dinâmicas de relacionamento. A adaptação a esses novos papéis pode ser difícil, especialmente quando há sentimentos de lealdade em relação ao pai ou mãe biológicos, ou quando as expectativas dos membros da família não são claras. Aqui é necessário diálogo franco e aberto sobre o papel de cada um, estabelecendo regras e limites, e muito acolhimento.
Oportunidade de aprendizado: Por outro lado, essa adaptação pode ensinar as crianças a serem mais flexíveis e a desenvolverem habilidades de resolução de problemas. Ao se ajustarem a novas situações de maneira saudável, os pequenos se tornam mais resilientes e abertos a diferentes perspectivas, aprendendo a conviver com a diversidade de experiências e pessoas.
2) Fortalecimento e construção de vínculo
Em famílias mosaico por exemplo, nas quais um ou ambos os cônjuges trazem filhos de relacionamentos anteriores, a construção de vínculos pode ser complexa.
Desafio: A convivência com novos membros da família pode gerar ciúmes, rivalidade e insegurança, tanto para as crianças quanto para os adultos. Há ainda os casos em que a criança pode estar lidando com sentimentos de perda (luto), aqui o processo se torna mais longo e desafiador. É necessário a valorização da individualidade, além de muita escuta e um espaço onde todos possam expressar seus sentimentos.
Oportunidade de aprendizado: Com o tempo e o esforço, esses vínculos podem se fortalecer e criar uma nova rede de apoio emocional. As crianças têm a oportunidade de aprender sobre a importância da empatia, compreensão e paciência, desenvolvendo laços que, embora diferentes dos biológicos, podem ser igualmente significativos e enriquecedores.
3) Gerenciamento de conflitos
Os conflitos são inevitáveis em qualquer arranjo familiar, mas em novos arranjos, eles podem ser exacerbados por questões de adaptação e aceitação.
Desafio: Diferenças nos estilos parentais, expectativas divergentes e a necessidade de conciliar diferentes culturas e tradições familiares podem levar a discussões e conflitos. Além disso, a presença de múltiplos cuidadores, como avós ou padrastos, pode complicar a tomada de decisões e a gestão da disciplina. Aqui novamente é necessário muito diálogo e uma disposição a cada um estar aberto a perceber suas dificuldades e se necessário buscar ajuda profissional para auxiliar.
Oportunidade de aprendizado: A gestão eficaz desses conflitos pode ensinar às crianças importantes lições sobre compromisso e negociação. Ao ver os adultos resolverem conflitos construtivamente, as crianças aprendem a lidar com seus próprios desafios de maneira saudável. Todos podem fortalecer os vínculos familiares, criando um ambiente mais harmonioso e cooperativo.
Compreender e respeitar as possibilidades nos novos arranjos familiares é essencial para a construir relações harmoniosas e estáveis. Precisamos desconstruir a ideia de que apenas o modelo tradicional de família consegue proporcionar um ambiente saudável para as crianças, esse conceito não reflete a diversidade das experiências humanas.
As crianças precisam ser amadas, não importa se por somente uma mãe, um pai, ou avós, ou se por duas mães, dois pais. O que importa é a função que cada um exerce, é a qualidade das relações, a comunicação e o suporte emocional dentro da família, independentemente de sua configuração. Desde que as necessidades básicas de afeto, segurança, acolhimento, limites, apoio e orientação sejam atendidas, cada tipo de arranjo familiar pode oferecer um ambiente único e rico para o desenvolvimento infantil.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.