O Censo está aí, vamos participar

Em 29 de março de 2021, escrevi o texto “Porque precisamos do Censo Demográfico”. À época, acabávamos de saber que, mais uma vez, a pesquisa nacional seria adiada, nesta ocasião, por falta de recursos financeiros. Uma trágica notícia, haja vista que, no ano anterior, o recenseamento fora cancelado em virtude da pandemia de Covid-19. O atraso em dois anos modifica a periodicidade da série histórica, tradicionalmente realizada de 10 em 10 anos, e gera um grande prejuízo pois compromete as comparações e as análises.

Neste Diário, mais de uma dezena de matérias foram publicadas com a intenção de demonstrar a relevância do Censo para a nação e outros tantos artigos de opinião foram escritos com argumentos a apoiar a realização da referida pesquisa. Todos os pesquisadores e pessoas de bom senso estavam revoltados com a falta de planejamento federal e com a possibilidade de um apagão de informações estratégicas para todo o país.

Depois de todo esse drama, enfim, no início de agosto, comemoramos o início dos trabalhos porta a porta dos milhares de agentes recenseadores. Ora, em uma pesquisa realizada num país continental como o Brasil, com mais de 210 milhões de habitantes e com número superior a 70 milhões de domicílios, não é de estranhar que grandes sejam as dificuldades enfrentadas pelos profissionais a serviço do IBGE.

Fato inusitado é que, após tanta luta pelo Censo Demográfico, muitos respondentes estejam negando sua participação no processo e fechando a porta aos recenseadores. O medo, a falta de tempo e a indiferença são algumas das “justificativas” injustificáveis para negar sete minutinhos ao representante do IBGE.

É necessário ratificar que os dados censitários são decisivos para o planejamento nas esferas pública e privada. Sem as informações dessa pesquisa, nem o Estado nem as empresas conseguem bem distribuir os recursos e efetuar novos investimentos.

Até mesmo as pesquisas de opinião nos períodos eleitorais são afetadas. Por falta de dados recentes, os institutos de pesquisa enfrentam obstáculos para fazer os cálculos amostrais, visto que os quantitativos populacionais e as diferentes camadas sociais (segmentados por renda) mudaram significativamente de 2010 para cá.

Inegavelmente, a realização do Censo é essencial, sobretudo, para os mais pobres. Para não me delongar, vou enfatizar mais três razões.

Primeiro, todos estão cansados de saber que as transferências constitucionais obrigatórias (estaduais e federais) são distribuídas proporcionalmente de acordo com o tamanho populacional de estados e municípios. Tais recursos públicos destinam-se para o atendimento médico, para o funcionamento das escolas e também para a assistência social. O conhecimento dos números exatos evitará distorções ou distribuição injusta dos recursos públicos.

Segundo, graças às informações a respeito das características urbanísticas do entorno dos domicílios (calçadas, esgoto, arborização...) sabe-se em que condições urbanas vivem as famílias com menor renda. Com isso, os cientistas e os movimentos sociais têm em mãos dados oficiais capazes de fundamentar suas demandas junto aos vereadores e aos prefeitos. Bem informados, os governantes devem reorientar as obras prioritárias em benefício das áreas mais precárias.

Terceiro, com os dados podemos conhecer a composição etária de um bairro, ou seja, saberemos quantas crianças com idade escolar (infantil e fundamental) vivem naquele espaço. Dessa forma, a prefeitura conhecerá a necessidade ou não de construir mais creches ou escolas. Com os mesmos números, os prefeitos terão a certeza do tamanho da população enquadrada na melhor idade e, pode assim, elaborar ações e políticas públicas para bairros, entendendo, de tal modo, as especificidades das pessoas nessa faixa etária.

Por esses e tantos outros motivos, é inadmissível qualquer ação capaz de impedir o andamento do Censo Demográfico 2022. Você que lê esta coluna, fale com seu vizinho desconfiado, explique a importância da pesquisa e convença-o de que, com uma simples ação de responder ao simpático recenseador, ele pode fazer um grande bem para o Brasil.