Fim das eleições, fim dos debates e embates. A alegria de uns é a tristeza de outros. O processo eleitoral gera um caos necessário para a construção de uma sociedade mais justa. As realizações dos últimos quatro anos são objeto de análise, discussão e crítica. Novas propostas e lideranças emergem neste contexto. Este é o tempo certo para avaliação e renovação. Assim funciona a democracia.
A alternância no poder assegura mudanças pacíficas, sem necessidade de violência ou revoluções sangrentas. Aos derrotados nas eleições cabe refletir sobre as suas estratégias, reconsiderar as suas propostas, revisar as alianças e preparar-se para os próximos desafios. Por outro lado, aos vencedores compete implementar as suas promessas e enriquecê-las com as críticas e sugestões provenientes dos debates com seus opositores.
Aqueles que ganharam devem governar para toda a sociedade e enriquecer seu projeto com as críticas recebidas durante a campanha. O debate público, que envolve a exposição de diferentes ideias e propostas para o futuro, é benéfico para toda a sociedade. No entanto, torna-se prejudicial quando ultrapassa os limites e se transforma em ataques pessoais, com o intuito final de alcançar um poder autoritário.
Vencer uma eleição significa obter a chance de alterar a vida de inúmeras famílias, além de ajustar e redirecionar o caminho da sociedade. Quando conquistamos algo após um esforço considerável, sentimos uma grande alegria que nos revigora e nos ajuda a superar as dificuldades e o sofrimento enfrentado ao longo da luta. Expressar nossa alegria, celebrar as vitórias da vida nos estimula a seguir em frente, vontade de fazer coisas novas, de realizar mudanças.
O mais importante de uma vitória ou de um fracasso está no esforço feito, em nossa tentativa de acertar, de construir, e não nos resultados. Mais importante do que perder ou ganhar, é aprender, tirar lições. Quando vencemos, passamos a acreditar no futuro, e descobrimos que vale a pena se esforçar e lutar para transformar as coisas. Nada mais nos alegra do que a certeza de que no final dá tudo certo, que a dedicação compensa o esforço feito.
Como disse Tolstoi “a alegria de fazer o bem é a única felicidade verdadeira”. É ela que dá sentido e horizonte à vida. Já a tristeza diminui nossa energia, fragiliza nosso sistema imunológico. A alegria dos outros nos incomoda, nos leva ao isolamento e a solidão. Essa emoção todo ser humano já experimentou.
Não podemos confundir tristeza com depressão. A tristeza dói, mas passa rápido. É o que faz a vida ser digna de ser vivida. Basta um ombro amigo, uma noite entre dois dias e ela se dissipa. Na depressão, essa dor não passa facilmente e muitas vezes precisa da ajuda de um especialista.
Na depressão, a perda material, a perda de um mandato, se confunde com a perda do sentido da vida. A perda natural de um embate se transforma em um evento traumático, produzindo danos emocionais, transtorno de ansiedade desestruturantes. A ideia fixa, a dificuldade de aceitar o ocorrido, recordações aflitivas, provocam prejuízos a vários aspectos da vida.
Tanto na alegria como na tristeza, elas tendem a nos aproximar das pessoas que amamos. Quando vemos alguém chorar, a nossa primeira reação é nos aproximar e tentar consolar, oferecer um colo, um ombro amigo, intensifica a empatia que nos aproxima uns dos outros, aumentando o sentimento de proteção e pertença. A tristeza nos deixa mais pensativos, reflexivos, introspectivos, amplia nossa consciência e nos faz crescer.
Como diz o ditado popular, tudo que acontece de ruim é para melhorar a vida d’agente. A frustração é uma fonte de aprendizado que nos reconecta com valores que frequentemente deixamos de lado. É nesse estado que encontramos uma força maior que nos encoraja e alimenta a expectativa de tempos mais alegres. Ela nos liga à nossa espiritualidade e suaviza o peso da dor.
O essencial é manter viva a esperança, pois a vida é repleta de desafios. Perdemos muitas vezes e ganhamos outras tantas. Aceitar uma derrota e reconhecer uma perda são atitudes que engrandecem o ser humano e evidenciam a verdadeira qualidade de um líder. Por outro lado, a recusa em aceitar a derrota e o não reconhecimento do vencedor expõem a personalidade autoritária, antidemocrática, que não aceita a oposição.
Ela se coloca como a referência máxima como líder supremo e não aceita autoridade superior a ele ou ela. Isso ocorre nos sistemas autoritários, ditatoriais, fascistas, que desejam exercer o poder absoluto por décadas. Não aceita ter perdido para outras propostas diferentes da sua. Ele só acredita no seu ponto de vista e vê o ponto de vista dos outros como uma ameaça à sua integridade.
Ora, um ponto de vista é apenas a vista de um ponto. Nos lembra um filósofo alemão quando diz: “Não tenho vergonha de mudar porque não tenho vergonha de pensar.” Mas só muda quem se dispõe a rever suas certezas. Do contrário, fica prisioneiro de suas próprias ideias e não evolui nem como pessoa, nem como gestor.
Quando encontramos satisfação apenas na derrota de outra pessoa, revelamos nossa insignificância e nossa mesquinhez. Cada momento vivido, de alegria ou tristeza, deve nos aproximar da dinâmica da vida.
Ao celebrarmos nossas vitórias, é fundamental respeitar o silêncio ou a tristeza daqueles que não tiveram a mesma sorte. Da mesma forma, ao enfrentarmos uma derrota, é importante entender e acolher a felicidade dos que triunfaram. O que não devemos fazer é festejar nossa alegria às custas da dor de outrem.
A tônica de uma eleição deve ser debater ideias para melhorar a vida dos cidadãos. Toda emoção é válida e deve ser respeitada. Reconhecer a alegria na felicidade alheia e a tristeza na dor dos outros nos enriquece e nos humaniza. Esse é o verdadeiro caminho para a felicidade daqueles que manifestam emoções saudáveis, sejam elas de alegria ou de tristeza.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.