Sim! Ela tem uma semana dedicada à sua existência e sua importância entre aqueles que formam a biodiversidade brasileira. Estamos falando da Caatinga que está recebendo homenagens. A programação, realizada pela Secretaria do Meio Ambiente, foi distribuída em três dias de debates com a participação de diversos atores que estão diretamente envolvidos com os assuntos relacionados ao bioma. Uma semana de discussões e reflexões para celebrar, em especial, o dia 28 de abril, que comemora o Dia Nacional da Caatinga.
Este ano, o tema central dos debates aborda não só as políticas públicas, conservação, gastronomia e cultura desse ambiente tipicamente nosso, mas também como ele está reagindo às pressões em tempos de pandemia. “O objetivo principal é promover e divulgar a Caatinga, estimulando a sua valorização e conservação”, diz o secretário de Meio Ambiente do Ceará, Artur Bruno.
Mas o que é a Caatinga? Que valor ela tem? Quem não a conhece e faz essas perguntas, geralmente, tem em mente apenas aquelas imagens do solo árido, arbustos secos, árvores mortas e o calor escaldante do sertão. Mas não é bem assim! Apesar de ser a própria essência do semiárido brasileiro, a Caatinga é muito mais do que esse cenário. Então como traçar um perfil diferente desse bioma? Que tal começar pela sua valorização. Para começar poderíamos dizer em alto e bom tom: a Caatinga é o único bioma 100% brasileiro e vive no coração do Nordeste. Em seu solo, moram mais de 28 milhões de brasileiros distribuídos ao longo de seus 850 mil km² que cruzam todos os estados nordestinos e a região norte do estado de Minas Gerais. E, nesse mesmo ambiente, segundo dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), é possível encontrar 3.200 espécies de plantas, 371 de peixes, 224 de répteis, 98 de anfíbios, 183 de mamíferos e 548 de aves.
Associação Caatinga
Para falar mais sobre o bioma Caatinga nós fomos buscar informações na associação que foi criada com o único e exclusivo objetivo de proteger esse patrimônio natural brasileiro através de ações de conservação da sua biodiversidade. A Associação Caatinga, localizada na Reserva Natural Serra das Almas, no sertão que divide os municípios de Crateús (CE) e Buriti dos Montes (PI), nasceu em 1998 com o apoio do Fundo Samuel Johnson. Desde então, a entidade tem se dedicado à criação e gestão de áreas protegidas, restauração florestal, disseminação de tecnologias sustentáveis de convivência com o semiárido, educação ambiental, comunicação para a valorização da Caatinga, apoio ao desenvolvimento de políticas públicas socioambientais e fomento à pesquisa.
Pesquisa. Essa é uma palavra bastante usada na Associação Caatinga. Através de estudos contínuos da fauna e da flora, foi possível descobrir muitas peculiaridades do bioma. A Caatinga, por exemplo, tem sua própria maneira de se defender. “No período seco as folhas caem evitando a perda de líquidos, então essa é a estratégia de adaptação da vegetação para que ela sobreviva durante o período seco. E aí, nas primeiras chuvas a gente vê aquela floresta esplendorosa, aquela floresta verde, que continua rica em biodiversidade”, diz Daniel Fernandes que é o coordenador Geral da Associação Caatinga.
Quando falamos em degradação de florestas no Brasil, a primeira informação que conseguimos lembrar é a devastação da Amazônia com o desmatamento ilegal e as queimadas. Mas a Caatinga também sofre com a ação devastadora do homem. O coordenador da Associação Caatinga reforça que mais de 50% da cobertura vegetal original do bioma já foi desmatado, já foi degradado. “Esse desmatamento é associado às queimadas e ao uso de lenha para fins de matriz energética. Nós temos um outro problema na Caatinga que é a caça, que é uma atividade ilegal que, além de prejudicar a biodiversidade local expõe pessoas a doenças e riscos de novas pandemias”, explica Daniel Fernandes.
Outro detalhe muito importante é que a preservação da Mata Branca, como também é conhecida a Caatinga, é essencial para a preservação dos rios que cortam o semiárido. A devastação do bioma acarreta não apenas danos enormes ao meio ambiente como também prejuízos sociais e econômicos. Segundo levantamento realizado pela Associação Caatinga, cerca de 13% do território do bioma já estão em estágio avançado de desertificação. “É um fenômeno ocasionado pelo uso inadequado do solo. De tanto se utilizar de forma inadequada, aquela região fica inapropriada para o cultivo, para a agricultura. Então isso gera problemas sociais e econômicos graves”, reforça Daniel Fernandes que defende ações que possam reverter esse processo como uma restauração florestal.
A Associação Caatinga tem defendido a implementação de políticas públicas que sejam eficientes na fiscalização, na conservação e no desenvolvimento sustentável de comunidades rurais, com a participação e interação do poder público com a sociedade, como forma de preservar a Caatinga.