Começo fazendo uma brincadeira com a metáfora do bombom de embalagem amarela, é sabido que o Setembro Amarelo é uma campanha fundamental na luta contra o suicídio e na promoção da saúde mental. Anualmente, este mês destaca a importância da conscientização sobre a prevenção do suicídio. No entanto, enquanto a visibilidade, esforços e práticas durante este período são notáveis, a realidade é que muitas vezes órgãos competentes, sobretudo, empresas demonstram um compromisso insustentável.
A Campanha, tem sua conscientização e propagação por via da mídia, portanto, isso oferece uma importante plataforma para discutir a saúde mental. No entanto, a visibilidade é muitas vezes “sazonal”, e uma vez que o mês termina, o entusiasmo e os recursos direcionados para a causa frequentemente diminuem. As empresas voltam aos comportamentos opressores, hostis, tóxicos etc. Esta abordagem sazonal não apenas enfraquece o impacto das iniciativas, mas também contribui para uma sensação de estagnação no suporte contínuo necessário para a saúde mental.
Quero me ater as instituições e as empresas onde as mesmas têm um papel crucial na promoção de saúde, prevenção de doenças e no suporte de modo geral à saúde mental. Mas a implementação de políticas de saúde mental que se traduzam em ações concretas, como programas de suporte psicológico contínuo, treinamentos para o autogerenciamento de estresse e burnout, e ambientes de trabalho saudáveis, comunicação saudável, plano de cargos e salários, sensação de pertencimento é insuficiente, descontinuada e até inexistente.
Percebemos que o movimento encontrou lugares importantes de promoção de saúde isso é indiscutível, porém é essencial que a conscientização seja acompanhada por ações sustentáveis e concretas. Isso requer um compromisso contínuo com a saúde mental em todas as instâncias desde a formulação de políticas de saúde e bem estar internas até a implementação prática. Faz-se necessário ir além da retórica e investir em estruturas de apoio que não apenas atendam às necessidades emergenciais e estéticas como frases de efeito moral, equipamentos como sala de jogos etc, mas também promovam um bem-estar psicológico sustentável, contínuo, holístico e psicologicamente seguro em seu dia a dia. Políticas de saúde mental devem ser incorporadas de forma transversal nas estratégias corporativas, com treinamentos regulares para a equipe, programas de suporte acessíveis e a criação de ambientes que promovam a saúde mental positiva.
Lucas Ledo Alves é psicólogo e docente do curso de Psicologia da Estácio Ceará