NEM: o leite derramado

A reforma no Ensino Médio iniciou sua implementação nas escolas públicas e privadas do país em 2022. No entanto, a reformulação que deveria ocorrer de forma progressiva, escalonando as respectivas séries do ensino médio ao longo de três anos, foi pausada diversas vezes. Sabemos que tais interrupções tiveram como objetivo realizar modificações no projeto original. Obviamente, “não existe comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar.” Contudo, diria Agostinho da Silva, “a derrota deve mais atribuir-se à invalidez do impulso, do que aos obstáculos que lhe ponham diante.” Em outras palavras, confira o balde antes de apertar o úbere.
 
Considerando que o cronograma da reforma foi adiado e a nova lei introduziu mudanças significativas nas diretrizes curriculares, podemos concluir que a primeira tentativa de reestruturação buscava uma solução que, ironicamente, ignorou completamente os fatores condicionantes para o desenvolvimento ou declínio do projeto, como o sucateamento generalizado de um vasto número de escolas públicas, a formação inadequada e desvalorização crônica dos professores, e a desigualdade social, econômica e cultural dos alunos (Schütz & Cossetin, 2019).
 
Impedimentos históricos e circunstanciais foram convenientemente deixados de lado, talvez na esperança de que a ignorância seletiva produzisse milagres educacionais. É quase como se a estratégia fosse fingir que esses problemas não existem. Agora, visto que fracassamos, certamente podemos concluir que a ordenha foi prematura, o balde estava furado, mas a culpa é da vaca! A coitada da Mimosa até tentou personalizar o ensino, concentrando mais seus nutrientes em áreas que se alinhavam com as necessidades de carreira dos alunos.
 
Entretanto, devido à calcada e as condições da cuia, muito leite foi derramado, e o pouco que restou deixou um gosto amargo na boca de muitos educadores. Enfim, tentativas. Um pouco mais de sal, eu era queijo, um pouco mais de tempo, eu era nata. Derramado, Nada! Falhamos entre os “mais”, falhamos principalmente com os menos. “De tudo houve um começo, mas erramos. Ai a dor de ser quase, dor sem fim.”
 
Davi Marreiro é consultor pedagógico