Veja o que se sabe sobre a retomada das obras do Anel Viário de Fortaleza

Via interliga principais rodoviais estaduais e federais que chegam e partem da capital cearense

Há anos se arrastando em obras em Fortaleza e na Região Metropolitana, o 4º Anel Viário está próximo de ter um desfecho para a finalização das intervenções de duplicação e melhorias na rodovia. É o que garante o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT).

Em declaração na última terça-feira (9), o gestor estadual afirmou que a negociação com o Governo Federal para a liberação de recursos para a finalização da obra foi concluída, e a prioridade é incluir também a duplicação do viaduto do Anel Viário sobre a BR-116, na saída de Fortaleza, tema de reclamação constante de motoristas pelos engarrafamentos.

Vamos concluir o Anel Viário, vamos ter uma retomada de obra intensa. Aquele gargalo quando vai chegando na BR-116, aquele viaduto que é muito estreito, ter uma saída para pegar a BR-116 sem o transtorno que temos hoje que causa muito engarrafamento".
Elmano de Freitas
Governador do Ceará

De acordo com informações divulgadas pela Secretaria de Obras Públicas do Ceará (SOP), os recursos federais para a conclusão das intervenções no Anel Viário, angariados por meio do Ministério das Cidades, serão de R$ 80 milhões. O Estado também irá aplicar investimentos, com montante próximo de R$ 17 milhões. 

Somente para as obras previstas no novo edital de licitação, "em fase de finalização" de contratação do novo consórcio que vai assumir as melhorias viárias, conforme explica a SOP, serão aplicados, ao todo, R$ 97 milhões. 

O que se sabe, afinal, do andamento das obras de duplicação do 4º Anel Viário, que começaram ainda no primeiro mandato do então governador e hoje senador Cid Gomes (PSB) e se arrastam há pelo menos 14 anos? Confira.

Cronograma mais do que atrasado

Apesar de as obras terem iniciado em 2010, a discussão remonta desde o início dos anos 2000, quando o governador era Tasso Jereissati (PSDB). A ideia era duplicar a rodovia, principalmente após a construção do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), servindo como interligação entre a CE-040, no litoral leste, até a BR-222, já no litoral oeste.

Ao todo, a estrada conta com 32,3 km de extensão, segundo a SOP, que permanecem em construção. Mesmo com a maior parte da rodovia já duplicada, ainda são necessárias melhorias, como acessos viários, passagens de níveis, alças de viadutos, áreas de acostamento e ciclovia.

O órgão responsável pelas intervenções era, até 2022 o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Em junho daquele ano, em acordo costurado em Brasília com a presença da então governadora Izolda Cela (à época sem partido, hoje no PSB), a responsabilidade pela administração da via passou para o Governo do Ceará. 

Com a gestão agora a cargo da SOP, um novo edital de licitação foi lançado em julho de 2022, mas as empresas interessadas apresentaram um valor bem abaixo do mercado e não foram aprovadas pela secretaria. O edital acabou fracassando.

Em 22 de abril de 2024, após conquistar os recursos do Governo Federal para a obra, considerada prioritária dentre as que receberiam investimentos do novo Programa de Aceleração ao Crescimento (Novo PAC), a SOP abriu novamente o edital para a finalização das intervenções.

O valor máximo estipulado em contrato, no qual o Diário do Nordeste teve acesso, era de R$ 114,4 milhões, entre benefícios e despesas indiretas e orçamento. Conforme a SOP, "o valor final contratado na licitação foi de R$ 97 milhões, que está em processo de homologação", junto à secretaria.

Após a assinatura da ordem de serviço (OS), que ainda não tem data para ocorrer, o prazo final para a conclusão das obras no Anel Viário é de 15 meses. 

No edital, estão previstas obras de terraplanagem, pavimentação, aquisição e transporte de material betuminoso, drenagem, sinalização, pontes e viadutos, dentre outras melhorias. A expectativa é de que as intervenções sejam concluídas pelo menos em 2026 — último ano do mandato do governador Elmano de Freitas. 

Histórico do Anel Viário

  • Março de 2010 — Assinatura do contrato para o início das obras. O consórcio Queiroz Galvão/EIT foi o vencedor da licitação, estimada em R$ 188,9 milhões, e com previsão inicial de término em 2012; 
  • Junho de 2011 — Empresas do primeiro e segundo lugares da licitação já haviam desistido da obra; 
  • Janeiro de 2012 — Governo estadual assume obras após atrasos. Prazo para conclusão é adiado para 2013; 
  • Novembro de 2015 — Governo estadual adia novamente prazo de entrega para dezembro de 2016; 
  • Dezembro de 2015 — Consórcio rescinde contrato e obra fica paralisada; 
  • Março de 2017 — Governo retomada processo de relicitação da duplicação da rodovia; 
  • Junho de 2017 — Retomada das obras com as empresas Torc Terraplenagem Obras Rodoviárias e Construções LTDA/ Via Engenharia S.A. (Torc-Via);
  • Março de 2019 — Obras do Anel Viário ficam paralisadas por contas das fortes chuvas; 
  • Julho de 2019 — Trabalhadores retomam as obras do projeto após período de chuvas;  
  • Dezembro de 2019 — Souza Reis pede recuperação judicial e ritmo das obras diminuem; 
  • Janeiro de 2020 — SOP pede inclusão de quarta empresa no consórcio / PGE aprova inclusão;
  • Junho de 2022 — Anel Viário passa a ser de responsabilidade do Estado;
  • Julho de 2022 — Empresas interessadas na conclusão das obras apresentam valor muito abaixo do mercado e não são aprovadas pela SOP. Edital fracassa;
  • Dezembro de 2023 — Governo do Ceará assina convênio com o Governo Federal para liberação de recursos para conclusão das obras;
  • Abril de 2024 — Novo edital de licitação para as obras do 4º Anel Viário é aberto pela SOP;
  • Julho de 2024 — Edital de licitação para as obras entra em fase de homologação do consórcio vencedor junto à SOP.

Problemas se acumulam

Apesar da licitação em andamento, o coordenador do Núcleo de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Heitor Studart, já tece críticas à ausência da duplicação do viaduto sobre a BR-116 no edital.

O trecho hoje é um dos mais reclamados por especialistas e motoristas que passam pelo local. Com boa parte da pista já duplicada em ambos os sentidos, o viaduto é majoritariamente em pista simples, de mão dupla, estreitando o fluxo e causando gargalos no deslocamento.

Para Heitor Studart, além da ausência da duplicação do viaduto, faltam ainda outras obras complementares essenciais para entregar a rodovia em uma situação que possibilite uma melhoria logística e de mobilidade muito melhor do que a apresentada atualmente.

Aconteceu uma série de fatores no Anel Viário: a obra licitada sem projeto executivo, até hoje tiveram quatro licitações desertas porque está se reaproveitando o projeto de anos atrás, essa última licitação não engloba a conclusão completa porque temos obras complementares como as alças dos viadutos, faixas de domínio, ciclovias e pedestres. O prejuízo é incalculável ao Ceará".
Heitor Studart
Coordenador do Núcleo de Infraestrutura da Fiec

O especialista ainda dispara contra o que chama de "má gestão de contrato" em um dos principais eixos de deslocamento de pessoas e de mercadorias do Estado do Ceará: "de 2002 para cá são mais de 20 anos para realizar pouco mais de 30 km, enquanto em uma obra normal é de seis a oito meses para finalizar", critica Heitor Studart.

Questionada sobre a possibilidade de duplicação do viaduto da BR-116, a SOP limitou-se a informar que "o alargamento está em fase de estudo".

A secretaria também declarou que, para a conclusão da duplicação do 4º Anel Viário, "restam a execução de algumas alças, retornos e acessos, além de ciclovia e acabamentos".