Desde que a Petrobras anunciou o cancelamento da construção da refinaria Premium II no Ceará, em janeiro de 2015, a companhia encerrou as operações da usina de biodiesel de Quixadá em novembro de 2016 e vem paulatinamente dando prosseguimento ao seu plano de desinvestimento, com a previsão de venda de campos de petróleo maduros no Estado e da Refinaria Lubrificantes e Derivados do Nordeste (Lubnor), em Fortaleza, além da usina de Quixadá. Na semana passada, a Petrobras anunciou a venda da totalidade de sua participação nos campos terrestres de Fazenda Belém e Icapuí, localizados na Bacia Potiguar, no Ceará, para a 3R Petroleum.
De todas essas decisões tomadas pela companhia, o cancelamento da Premium II foi a que causou maior frustração, seja pelo impacto econômico para o Estado, de potencial estimado em R$ 6 bilhões ao ano, como pela geração de empregos. Inicialmente, o investimento previsto para a instalação da refinaria no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) girava em torno de US$ 11 bilhões, com a geração de cerca de 90 mil empregos diretos e indiretos. E produção estimada em 300 mil barris por dia atenderia a demanda de diesel para exportação.
"O fato de a Petrobras não ter concluído conforme havia sido planejado após tantos anos de luta a refinaria (Premium II) certamente limitou um setor industrial do Ceará, que tinha um poder de transformação tão grande ou maior do que teve a CSP (Companhia Siderúrgica do Pecém)", diz Antonio Balhman, então secretário de Assuntos Internacionais do Ceará, quando houve o cancelamento.
Balhman destaca que a implantação da refinaria implicaria na construção de um polo petroquímico, o que alavancaria os impactos econômicos do empreendimento. Quanto a alternativa estudada pelo Governo do Estado de atrair um parceiro externo para construir a refinaria, o ex-secretário de Assuntos Internacionais diz que essa possibilidade ficou mais distante.
"Quando estávamos na iminência de realizar uma parceria, veio o impeachment (da ex-presidente Dilma Rousseff) e os parceiros recuaram", ele diz.
Hoje, uma parte do antigo terreno que seria destinado ao equipamento será utilizada para a expansão da Zona de Processamento de Exportação (ZPE), em uma área de 240 hectares. O restante do terreno será destinado à implantação de novas indústrias. "O nosso plano é ocupar a outra parte. Estamos trabalhando para atrair investidor, mas o momento não é favorável para os empreendedores", disse Maia Júnior, secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará.
Campos de petróleo
Quanto aos desinvestimentos de campos de petróleo no Estado, Balhman acredita que a medida poderá ser favorável tanto para a produtividade dos campos como para geração de empregos no setor, uma vez que a Petrobras hoje está mais focada nos campos do pré-sal, de grande capacidade produtiva. A 3R Petroleum, por exemplo, opera com foco em revitalização de campos maduros.
"Essas empresas têm tecnologia para refinar esse petróleo a um custo baixo. Mas isso ainda é um cenário muito recente, que vem de uns três anos para cá. Acho que pode vir um ganho muito grande para o Ceará, possibilitando o refino por parte da iniciativa privada de poços de baixa vazão", diz Balhman.
A venda dos campos terrestres da Fazenda Belém foi por US$ 35,2 milhões. "O nosso modelo de negócios prevê a aquisição de ativos estratégicos com oportunidades de ganho de produção no curto espaço de tempo após a imple-mentação de projetos de revitalização em parceria com grandes empresas globais da indústria de óleo e gás", diz informe a 3R Petroleum. Procurada pela reportagem, a empresa não se posicionou até o fechamento desta edição.
Questionada sobre o plano, a Petrobras ressalta que os desinvestimentos em águas rasas e campos terrestres possibilitam à empresa "concentrar recursos em ativos de maior competitividade". "O desinvestimento é necessário para reduzir nosso endividamento e, consequentemente, aumentar nossa capacidade de investimento", justifica.
Desde o fim de março, a produção de petróleo nas nove plataformas no Ceará estão suspensas pela Petrobras. A decisão faz parte do plano da Estatal para redução de gastos durante a crise causada pela pandemia do coronavírus e do choque de preços do petróleo no mercado mundial.
"A Petrobras informa que, tendo em vista os impactos da pandemia do Covid-19 e da redução abrupta dos preços e da demanda de petróleo e combustíveis, adotou ações para redução de custos e preservação do seu caixa, além das medidas para preservar a saúde dos colaboradores e apoiar na prevenção da doença nas áreas operacionais e administrativas", informou a empresa na época.
Usina de Biodiesel
No dia 3 de julho, a Petrobras anunciou o início da etapa de divulgação de oportunidade referente à venda integral da Petrobras Biocombustível (Pbio), que inclui a usina de biodiesel de Quixadá, com capacidade produtiva de 109 mil metros cúbicos por ano. Segundo a companhia, os projetos de desinvestimento estão em andamento. A usina oferecia 200 empregos diretos, de mão de obra qualificada, e outras centenas de postos indiretos gerados pela cadeia de fornecimento de insumos.
Lubnor
Quanto à Lubnor, a Petrobras deu início, em janeiro, à fase vinculante referente à venda de ativos em refino, que inclui, além da refinaria cearense, a Refinaria Isaac Sabbá (AM) e a Unidade de Industrialização do Xisto (PR). No entanto, em função das medidas de prevenção ao coronavírus, a estatal postergará o recebimento de ofertas nos processos. A Lubnor possui capacidade de processamento de 8 mil barris por dia e é uma das líderes nacionais em produção de asfalto.