Na avaliação do presidente e fundador da XP, Guilherme Benchimol, o Brasil está indo bem no controle do coronavírus e o pico da doença nas classes altas já passou.
"Acompanhando um pouco os nossos números, eu diria que o Brasil está bem. Nossas curvas não estão tão exponenciais ainda, a gente vem conseguindo achatar. Teremos uma fotografia mais clara nas próximas duas a três semanas. O pico da doença já passou quando a gente analisa a classe média, classe média alta. O desafio é que o Brasil é um país com muita comunidade, muita favela, o que acaba dificultando o processo todo", disse Benchimol em transmissão ao vivo.
Setenta dias após o primeiro caso confirmado do novo coronavírus, o Brasil soma 107.780 registros da doença e 7.321 mortes, segundo dados do Ministério da Saúde divulgados na segunda (4).
O economista mencionou a dificuldade dos trabalhadores informais ficarem em casa, já que muitos não conseguem ter acesso ao auxílio emergencial do governo ou sequer têm conta em banco.
"É um desafio você pedir que a população inteira fique presa em casa. Um terço da população vive de diária e se não trabalhar hoje não vai comer, no máximo, na semana que vem."
Ele cita ainda que outra dificuldade do Brasil é a falta de espaço no orçamento para um auxílio mais robusto como nos Estados Unidos, onde serão transferidos US$ 1.200 (R$ 6.684) para cada cidadão que recebe menos de US$ 99 mil por ano, o dobro para casais, mais US$ 500 por criança.
Benchimol, porém, se diz confiante e elogiou o trabalho de Luiz Henrique Mandetta no comando do Ministério da Saúde e vê o atual ministro Nelson Teich "na direção certa"
"Vamos sair dessa mais rápido do que as pessoas imaginam".
O presidente da XP também está animado com o futuro da companhia. O plano de contratar 600 profissionais de tecnologia até o final do ano segue de pé. "Vamos continuar crescendo independente do cenário".
Benchimol não vê grande influência da crise política atual, entre o Executivo e demais Poderes, na economia e acredita que o Congresso deve seguir com as reformas administrativa e tributária.
"Não me lembro do Brasil viver sem instabilidade política. Se não afetar a economia e reformas continuarem avançando, a crise política não atrapalha, é muito mais um barulho de curto prazo".
O economista aponta que a instabilidade política deixa investidores estrangeiros receosos, mas não é a principal preocupação no momento.
"O desafio é a porta de saída, o câmbio que ele vai sair daqui a cinco, dez anos. Não adianta ele ter lucro de 100% e o dólar ir de R$ 5 para R$ 10", diz Benchimol em referência ao real desvalorizado, que torna investimentos no país mais baratos.
"O estrangeiro só vai vir de verdade e com disposição de longo prazo se o Brasil mostrar austeridade fiscal, a capacidade de gerir contas públicas, manter inflação controlada, câmbio e juros sob controle. Se o Brasil mostrar que é um ambiente confiável e estável economicamente, vai jorrar dinheiro como a gente nunca viu na história".