Para onde apontam os rumos da economia nos próximos anos

Especialistas analisam perspectivas dos próximos anos diante do turbulento cenário político e econômico

Escrito por
Yohanna Pinheiro - Repórter producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 02:07)

Fazer projeções de longo prazo para o cenário econômico, por si só, é uma tarefa complexa e passível de erro - são diversas variáveis, previsíveis ou não, que podem alterar o curso da economia. O trabalho é ainda mais árduo quando se está "no olho do furacão", momento em que é difícil fazer estimativas até mais curtas. No entanto, diversos pontos de vistas convergem na ideia de que, em algum momento, a crise irá passar.

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A apresentação do Plano Plurianual (PPA) e da Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2016 pelo governo no início da semana, com o detalhamento das medidas a serem tomadas e das previsões para a atividade econômica brasileira, forneceu subsídios para que os especialistas previssem o curso a ser seguido pela economia do País.

O cenário é de preocupação, principalmente com a previsão de déficit orçamentário de R$ 30,5 bilhões em 2016 e com o aumento da carga tributária. Após a entrega dos documentos para análise do Congresso, o setor econômico brasileiro viveu mais uma semana turbulenta, com a escalada do dólar, as notícias de uma provável saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e a queda da atividade econômica do País em nível maior que esperado.

Em âmbito internacional, a desaceleração da atividade industrial chinesa também ampliou o nervosismo do mercado financeiro. Assim como a melhoria de indicadores nos EUA, tornando aquele país ainda mais atraente aos investidores.

A tendência é que esse cenário de incertezas e de ansiedade permaneça por um bom tempo na atmosfera brasileira, uma vez que as medidas implementadas pelo governo federal para reverter o quadro de recessão ainda não repercutiram da maneira esperada.

Divergência

O momento de passagem da crise não é consenso: enquanto os mais otimistas esperam uma recuperação da economia já no próximo ano, o mercado só prevê uma pequena retomada do crescimento em 2017. Outros acreditam que as dificuldades só irão diminuir após superada a crise política provocada pelo conflito entre o governo federal e o Poder Legislativo, o que não é passível de previsão.

O anúncio da adoção de novas medidas tributárias pelo governo, no intuito de arrecadar mais recursos para que possa arcar com as contas públicas, complica ainda mais o cenário. A alternativa é antipática a praticamente todos os setores: à indústria, que reclama da pressão da carga tributária; ao comércio, que tem dificuldade de vender com preços altos; e a própria população, mais atingida com o repasse dos valores aos produtos.

Outro problema é o refreamento da atividade econômica, com o aumento da taxa de juros, como consequência das tentativas do Governo em controlar a inflação - estratégia que acaba provocando a recessão da economia.

Além disso, a volatilidade do dólar é um fator, entre outros, que pode vir a ampliar o índice inflacionário, uma vez que diversos produtos têm componentes importados cujos preços acabam sendo repassados ao consumidor final.

Tendo em vista esse cenário, o mercado custa a acreditar na projeção apresentada pelo governo de retorno do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) a partir do próximo ano, ainda que na ordem de 0,6%. Na avaliação de economistas, ainda deve haver recessão em 2016 (-0,4%) e apenas uma leve retomada do crescimento em 2017, encontrando dificuldades para crescer dentro da meta da inflação (4,5%).

A recessão acaba interferindo também no reajuste do salário mínimo, que não terá ganho real enquanto não houver crescimento. Dados da última Pesquisa Nacional da Cesta Básica, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), apontam que o salário mínimo necessário para atender às necessidades básicas dos trabalhadores deveria ser de R$ 3.258,16, enquanto o estabelecido é de R$ 788.

Conforme apontou o supervisor técnico do Dieese no Ceará, Reginaldo Aguiar, "estamos no meio do furacão. Ninguém sabe ao certo dos próximos passos. Existem possibilidades de que a crise que estamos vivendo dê um retorno mais rápido, porém, se voltar a crescer, vai demandar um pouco mais de tempo para atingir o valor dos salários".

Lado bom

Apesar do cenário difícil, ainda há quem consiga se desenvolver. Os exportadores, por exemplo, comemoram a alta do dólar, que os torna mais competitivos no cenário mundial. No comércio, há quem aproveite o momento para se reinventar e inovar, conseguindo alcançar sucesso entre o público-alvo. A ideia é conseguir encontrar oportunidades para além da tempestade.

Dados os elementos que compõem a atual conjuntura política e econômica, bem como os efeitos das medidas que já foram e que ainda vão ser implementadas pelo Governo, o que se pode vislumbrar dos próximos quatro anos do País?