Mudar a usina de dessalinização de lugar custaria até R$ 201,5 milhões a mais aos cofres do Ceará, segundo comparativo orçamentário apresentado pelo presidente da Companhia de Água e Esgoto (Cagece), Neuri Freitas. Nessa quarta-feira (4), ele participou de seminário que discutiu sobre a coexistência entre o equipamento e os cabos submarinos da Praia do Futuro.
O evento ocorreu na sede da Federação das Indústrias do Estado (Fiec), em Fortaleza. Para tentar pôr fim ao imbróglio, foi criado um Grupo de Trabalho Técnico (GTT), a ser coordenado pela entidade. A meta é encontrar uma solução em até 30 dias.
Conforme Neuri, na Praia do Futuro, o investimento total do projeto é estimado em R$ 518, 6 milhões. Se a usina fosse para o Cumbuco, o valor subiria para R$ 720,1 milhões, enquanto na Sabiaguaba ficaria em R$ 656 milhões.
O impasse ocorre porque empresas de telecomunicações afirmam haver chances de impactos no hub de cabos de fibra óptica, cujo funcionamento leva conectividade para a África, Europa, América do Norte, América Central e América do Sul.
Durante o seminário, ficou pacificado o entendimento de que a alteração do projeto já eliminou o risco de pertubações subaquáticas. Com o custo adicional de cerca de R$ 40 milhões ao plano original, a modificação ampliou a distância da fiação de 50 metros para 500 metros.
Discute-se, agora, o efeito sobre o solo durante as atividades da usina, tema sobre o qual o grupo de trabalho deverá se debruçar. A companhia, no entanto, garantiu já operar simultaneamente com redes de diversos serviços para a população e até linhas férreas, “sem nunca” ter ocorrido interferência em 52 anos de atuação.
“É perfeitamente possível convivermos com cabos, água, esgoto, gás, energia e drenagem”, enumerou Neuri, acrescentando que a hipótese levantada sobre os ruídos também não se justifica.
“A tecnologia é usada para evitar barulhos e para um ambiente de convivência com a sociedade. Por mais que eu bote essa planta em qualquer outro lugar, eu preciso trazer a água para dentro de Fortaleza e cruzarei os cabos novamente, com água pressurizada bombeada. A discussão continuará a mesma, mas o pior é que essa planta custará uma fortuna”, afirmou.
Além do custo mais elevado, ele observou a inviabilidade de se construir na Sabiaguaba, onde há extensa Área de Proteção Ambiental (Apa).
Em busca de um consenso
O conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Vicente Aquino Neto, destacou que o “ajuste feito pela Cagece já sinaliza uma condição de atender a perspectiva das operadoras e da Anatel”.
“Mas, quando chega à questão terrestre, de passar sobre os cabos, há uma preocupação de ser mais significativa a possibilidade de ainda existir risco, mas só o estudo poderá dizer”, apontou. Ele ponderou, todavia, acreditar na coexistência de ambos os projetos. Questionado sobre a intenção de judicialização se o impasse não for resolvido, ele descartou a medida.
A Anatel vai construir um caminho com o Governo do Ceará para chegar ao consenso, para construirmos a usina e também ter a internet preservada"
Conforme Aquino, o grupo de trabalho será independente, mas poderá contribuir com o estudo a ser apresentado pela Anatel.
Na ocasião, o presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante, comemorou a qualidade do debate para chegar a uma resolução. “Hoje, foi demonstrado haver muito mais ponto convergência do que de divergência, as coisas foram muito bem explicadas, tanto por parte da Anatel, como também da Cagece”, disse, enfatizando a importância de discutir uma solução para serviços essenciais para a economia e para a sociedade.