Os últimos acontecimentos políticos deram nova tônica às comemorações pelo 7 de setembro. Economistas avaliam que há alguns meses o cenário de incerteza gerado por crises políticas fazem o mercado financeiro reagir negativamente. Qual deve ser o comportamento da Bolsa após um dia marcado por manifestações em um cenário polarizado?
Para Raul Santos, vice-presidente do Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças (Ibef-CE), o Dia da Independência representa mais um degrau para a ampliação do desgaste no ambiente político. “O mercado já vem precificando esse período conturbado, porque não é de hoje ou ontem que isso vem acontecendo. Já está esquentando de um período para cá, mas é claro que o dia 7 de setembro gera uma expectativa grande”, pontua.
Ele destaca que essa reação do mercado pode ser observada em indicadores como dólar, inflação e taxa de juros em alta. O Ibovespa, por exemplo, acumulou entre segunda e sexta passada uma queda de 3%.
“O mercado financeiro já vem se protegendo desse cenário conturbado. Sempre que falamos de mercado, quanto mais previsível a situação for, melhor para ele. Essa incerteza eleva o nível de ansiedade”, destaca Raul Santos.
A falta de diálogo e o mercado
Não é puramente a polarização política que vem balançando o mercado e afugentando o investimento estrangeiro do País. Na avaliação de Santos, “a falta de uma terceira via na política” é algo que deixa os investidores preocupados.
“O que dá forças a esse cenário de incerteza e polarização política é que não há uma terceira via. Se tivéssemos, esses protestos poderiam ficar em segundo plano”, diz Raul Santos, acrescentando que a falta de diálogo entre os poderes é outro problema que inflama a situação.
“O que nós vemos é o nosso presidente se fechando para dialogar com os outros poderes. Quer goste ou não, é uma democracia, é preciso sentar para conversar. Do outro lado, também existe um pouco de intransigência”
O sócio da M7 Investimentos, Daniel Demétrio, também destaca a influência da relação complicada entre os poderes na geração de um ambiente incerto. “Um ambiente de incerteza e ânimos acirrados é tudo que o mercado não quer. Quando se percebe uma situação assim, os investidores vendem seus ativos e os levam para lugares mais seguros, como a economia americana. Eles procuram baixo risco e pouca volatilidade”, destaca.
Na avaliação dele, “existem muitas interpretações em relação aos discursos do presidente Bolsonaro de algum temor de risco institucional”. “Esses discursos do presidente Jair Bolsonaro tendem a se colocarem em prática de maneira mais visível amanhã. Temos uma polarização muito quente dos dois lados, com alto nível de passionalidade e isso é muito ruim para o mercado”.
“O mercado prefere uma má notícia real, que ele compreenda, do que uma expectativa que ele não entenda. O mercado gosta do que é tangível. Então tudo isso gera um ambiente de incerteza por causa das intepretações dos discursos do presidente da República”
O presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, também reforça que a situação provoca uma instabilidade no mercado, sobretudo, em relação ao investimento estrangeiro.
“A Bolsa nos últimos 30 dias vem num patamar de instabilidade ou alguma queda. Se estivéssemos em um cenário menos incerto em relação ao processo democrático no Brasil, os números poderiam estar em um patamar mais elevado”, destaca Coimbra.
Investimento estrangeiro
Isso poderia estar acontecendo, de acordo com a avaliação do presidente do Corecon-CE, graças à política monetária atual dos Estados Unidos, que “favoreceria o Brasil como caminho para esses recursos”. Além da questão política, a crise fiscal é outro agravante para afastar o investimento estrangeiro.
Coimbra também lembra que na última semana a Federação dos Bancos (Febraban) emitiu, em conjunto com outras entidades, um documento no qual pede “serenidade, harmonia e colaboração entre os Poderes da República”, além de alertar “para os efeitos do clima institucional nas expectativas dos agentes econômicos”.
"Esse movimento da Febraban deu indicativos ao governo atual de que aceita a eleição de um outro candidato que não seja o atual presidente, que no processo eleitoral anterior foi quem a maior parte dos agentes financeiros achou ser mais interessante”
Movimento enfraquecido?
Por outro lado, o economista visualiza o desenho de um outro cenário possível após os atos de 7 de setembro e outros efeitos sobre o mercado financeiro. “Se as manifestações não forem como o esperado e de repente ficar visível que aquele grupo próximo ao presidente pode ter um peso pequeno no processo eleitoral, pode haver uma reversão do quadro negativo, mas isso só saberemos de forma efetiva após os acontecimentos da data”, diz.